Nosso Herzog da atualidade

O século 20 foi considerado o século das imagens. Algumas marcaram de forma significativa a história da humanidade. Outras mudaram de forma radical a nossa história. Quem se esquece da imagem dos atletas negros, estadunidenses, que, nas Olimpíadas do México, em 1968, levantaram os braços com punho fechado em protesto contra o racismo nos Estados Unidos?

Mahatma Gandhi, de personalidade forte e espírito revolucionário, expôs na sua imagem a simplicidade e a humildade como forma de ação pela não violência; já o rosto de Che Guevara é uma das fotos mais reproduzidas no mundo. Outra imagem marcante é a de uma criança correndo nua sob o bombardeio, na Guerra do Vietnã, há 43 anos, revelando os horrores da intervenção norte americana naquele país.

O Brasil do Capitão Bellini erguendo a taça de campeão da Copa do Mundo, em 1958, na Suécia, fez com que o gesto fosse repetido e copiado até hoje em todos os cantos. Mas, das imagens que ajudaram a mudar a nossa história, sem dúvida, a foto do suposto suicídio do jornalista Vladimir Herzog, numa das celas do DOI CODI, em 1975, foi determinante para o processo de abertura política e o fim da ditadura militar no Brasil.

Assassinado em 2013, Amarildo Dias de Souza teve o seu caso e sua imagem amplamente divulgada e, com a força das redes sociais, simbolizou uma das maiores atrocidades do nosso tempo: a morte de jovens e adultos negros nas periferias. Hoje, porém, a justiça do Rio, ao retomar o caso do sumiço de Amarildo, trouxe novamente à tona a imagem que se tornou símbolo da denúncia da violência policial exposta de forma dramática.

Na semana passada, a CPI da juventude negra, que visitou a cidade de São Paulo, ouviu fatos estarrecedores que demonstram o quanto o racismo institucional, seja pela omissão da justiça, pela violência policial, pelo abandono social e educacional dos territórios majoritariamente negros, contribui para dramas como o caso Amarildo, o nosso Herzog da atualidade.

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