O futebol em pauta 

A eliminação da seleção brasileira nas quartas de final da Copa América, mais uma vez estimulou em “nossos” comentaristas esportivos um festival de teses cujo a vida teima em discordar. A falsa polêmica envolvendo o binômio resultado x desempenho, mais uma vez veio à tona. A repercussão não foi maior por conta dos milhões de torcedores estarem mais preocupado com a situação econômica do país, estimulada pelos noticiários televisivos repetidos a exaustão cotidianamente.

Na verdade o sistema capitalista “moderno” transformou o futebol, este fantástico esporte popular em um grande e por vezes rentável negócio. O instrumento fundamental para este negócio continuar rendendo é a mídia esportiva em especial, ainda, a televisiva. Difunde-se a busca dos resultados como objetivo que valoriza artificialmente os atletas e evidentemente, engordam as contas de empresários do ramo.

A seleção brasileira, e o nosso futebol, não têm como objetivo estratégico, se tornar, novamente, o melhor do mundo. As visões dos dirigentes de clubes e entidades sucumbem grotescamente a pressão do sistema que impõe a busca por dinheiro como fator fundamental das gestões “modernas” e “empresariais” difundidas e defendidas por estes mesmos “comentaristas” que bombardeiam a população com bobagens repetidas e copiadas dos europeus.

É óbvio ululante que a prática do futebol no chamado mundo globalizado se nivelou e muito. E nesse contexto, ganha mais quem tem mais condições econômicas e estruturais, em termos de pais. Os clubes brasileiros formam “pé de obra” objetivando o mercado europeu e como este está saturando, apelam e vendem para qualquer lugar. Já foi a fria Rússia, Ucrânia agora é a China o principal alvo dos empresários. E o que move tudo isso? A busca por dinheiro. Quanto maior a quantia mais intensa é a busca.

Mas é óbvio que estes empresários, dirigentes e até os atletas sabem que ganhar títulos e jogar bem pela seleção rendem bons contratos e grandes quantias. Por isso que o resultado passa a ser o objetivo de todos aliado ao desempenho individual. E assim cria-se um círculo defeituoso, uma espécie de “tiro no pé”. O futebol é coletivo, suas bases e seus fundamentos partem desta premissa. Com essa disputa tácita por contratos milionários a individualização termina por retirar artificialmente o caráter coletivo do desempenho técnico o que pode levar a derrotas para seleções que nem sequer apresentam um melhor futebol do que o nosso.

Mas o futebol nivelado não é o problema. Muito pelo contrário. Isso pode estimular a torcida e tornar as partidas mais bem disputadas e os jogos mais emocionantes. Nesse sentido é normal uma ou outra desclassificação antecipada. Sem que isso signifique jogar fora a criança com a água suja.

O fato é que o nosso futebol não está em crise e nem passamos por nenhuma entressafra como tentam justificar alguns. O Brasil um “continente” com mais de duzentos milhões de habitantes tem pelo menos um candidato a craque em cada bairro. A questão é como gerenciar o futebol corretamente? Como subordinar a busca pelo dinheiro e lucros ao objetivo de dar ao futebol brasileiro a primazia sobre os demais? Nós temos história e tradição, temos também boas propostas. A CPI da Nike-CBF ocorrida em 1999/2000 produziu bom resultado, porém, não avançou e não avançou porque alguns se portaram como torcedores de clubes. A proposta da CPI aprovada e provavelmente dirigida pelo Senado corre o sério risco de ser um ajuste de contas pessoal e não produzir de novo mecanismos e soluções para os problemas detectados.

O Futebol é coisa séria, muito importante, para ser tratado, por jogadores e por ex- atletas que dizem bobagens a toda hora na mídia. Talvez realizar um grande congresso nacional em que o governo federal, através do ministério do esporte possa ser o grande articulador e buscar soluções exequíveis para além da busca pelo lucro dos contratos milionários simplesmente.

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