Totó Neto em Caracas

 Um amigo meu é goiano da cepa e adora sua terra, mas é promotor de justiça em Minas Gerais. Já passou em concursos no seu Estado, mas não assumiu o cargo alegando que “Goiás é complexo, ali o coronelismo ainda vive”. E ele tem um bocado de razão, pois ali não são apenas os conceitos e a postura coronelista que sobrevivem aos séculos, mas há exemplares de carne e osso presentes na política local.

O símbolo maior do atraso político, na História goiana, é o coronel Antônio Ramos Caiado, ou Totó Caiado, que reinou na antiga Vila Boa (Goiás Velho), capital do Estado até a década de 1930. E vem a ser avô do atual senador Ronaldo Caiado, o Totó Neto, representante e ferrenho defensor do pior tipo de ruralismo que possa existir.

Ele se diz modernizado, com passagem pela atual direita francesa, mas segue fielmente o exemplo do avô. Com ele, era primeiro a bala, depois a fala. Mandava e desmandava em Goiás até o fim da República Velha. E que ninguém metesse o nariz por ali!

Com sua jagunçada, ele combateu com armas a Coluna Prestes e, depois, a Revolução de 1930. Chegou a aprisionar o médico Pedro Ludovico Teixeira, que comandava as tropas getulistas no Estado. Mas só por um dia, pois Getúlio ganhou e pôs ordem na casa. Nomeou Ludovico governador, mas este só aceitou se a capital fosse em outro lugar, o que fez nascer Goiânia.

Já o neto Ronaldo foi estudar na França e lá se iniciou na política, ainda como estudante secundarista, como militante da juventude fascista do Partido Nacional, de Jean-Marie Le Pen. Voltou e virou político aqui. Foi, desde logo, um dos fundadores da União Democrática Ruralista (UDR), de triste memória.

Mas ele segue mandão e prepotente, a ponto de ser inimigo mortal do governador Marconi Perillo, que é do PSDB, partido nacionalmente aliado ao seu, o DEM. E se vê às voltas com processos judiciais por conta de trabalho escravo em fazendas da sua família.

Confiando numa força maior do que as pernas, Ronaldo interrompeu duas vezes seus vários mandatos de deputado federal pra se candidatar a governador e a presidente da República, sem sucesso. Nas últimas eleições, em 2014, se elegeu senador por uma pequena margem de votos, favorecido pelo número de candidatos de outros partidos e coligações a uma única vaga no Senado.

O fato é que, apesar do mandato de oito anos, seu espaço político em Goiás diminui celeremente. Talvez por isso ele tenha ido com Aécio tomar conta da Venezuela. Mas voltou rapidinho, o Totó Neto, com o rabo entre as pernas.

Assim, pelo andar da carruagem, acho que meu amigo promotor já pode mudar ideia.

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