Dois pesos e dez medidas

Os baba-ovos de um programa de TV chamado Manhattan Connection podem brincar de perguntas e respostas com FHC quantas vezes quiserem, sem constrangimentos. Com ele, não há porque falar de ética na vida pública, do patrimônio que acumulou na política, nem mesmo do fato dele ter apoiado o golpe de estado de 1964. São assuntos de somenos relevância.

O assunto voltou à baila com as críticas feitas a Jô Soares por ele ter dedicado um programa inteiro a uma entrevista com Dilma Rousseff, tida como amistosa. Vale lembrar, desde logo, que o mesmo Jô foi muito aplaudido pelos mesmos críticos quando, lá atrás, no tempo do Mensalão, criou um quadro em seu “Altas Horas” pra que algumas jornalistas cerrassem fileiras numa raivosa campanha de plumagem tucana. Aliás, esse quadro existe até hoje.

Ademais, é apenas mais um exemplo de como a grande mídia tupiniquim desdenha a verdade dos fatos e joga no lixo o princípio da isonomia de tratamento. Sabemos que a imparcialidade plena não existe, mas os jornalistas e seus veículos, nesse campo, sequer fingem algum esforço pra simular abordagem parecida de fatos idênticos, com personagens diferentes. São dois pesos, dez medidas e pronto.

Basta voltar aos bajuladores ancorados em Nova Iorque. Com FHC, lá não se aborda financiamentos de campanhas eleitorais ou compra de votos pra reeleição. E nem lembrar do apartamento supimpa na Paris do glamour, tampouco da fazenda em Buritis de Minas, a 100 km do Palácio do Planalto, e tantos outros bens incompatíveis com o salário de professor universitário.

A fazenda de Buritis, por exemplo, é um baita latifúndio que foi adquirido quando ele já ocupava o gabinete do Planalto. E foi vendida, logo após ele deixar o cargo de presidente, por R$ 8 milhões, pagos em dinheiro vivo por um empresário paranaense que havia se mudado pro Brasil Central, com várias propriedades em Goiás.

É público e notório, de igual modo, que as palestras e participações em debates e entrevistas são uma importante fonte de renda de FHC até os dias atuais. São atividades remuneradas, é claro, mas isso não tem nada demais, pois esta é uma prática costumeira, legal, regular. Não se questiona quem está pagando ou qual o assunto abordado.

Mas, quando o palestrante é Lula, a coisa muda de figura. Não interessa se a instituição ou empresa que está financiando o evento já fez a mesma coisa no passado com FHC. Com um, o valor pago, o local do feito, o tema abordado, a tudo se dá um ar de irregularidade. Com o outro, é tudo absolutamente normal.

A grande diferença talvez esteja no fato de que as aparições de Lula, em qualquer canto do Mundo, são muito mais concorridas do que as do outro. Mas, quanto isso, nada podemos fazer.

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