Malcolm X

A minha intenção quando me dispus escrever a minha coluna de hoje era abordar o 5º Congresso, em 35 anos, do PT. Pensei também em abordar o escândalo envolvendo os dirigentes da FIFA, que teve como pior momento a vitória da seleção de futebol dos Estados Unidos ganhando um amistoso com a Holanda, por 4 x 3, isso em plena Amsterdan. Isso sim é um escândalo!!

Mas resolvi registrar aqui, talvez ainda impactado pelo belo evento promovido pela editora “Nova Alexandria” em uma livraria no centro de São Paulo, mais precisamente na Avenida Paulista. A reunião, uma mesa redonda, que teve como protagonista o escritor Jeosafá Fernandez, que na ocasião, lançou sua obra: “O Jovem Malcolm X”, que sugiro como leitura importante para a nossa e futuras gerações.

Tomei conhecimento de lideranças com rara disposição de luta e com coragem de assumir suas limitações e lutar pelos seus sonhos. A turma que superlotou o espaço me fez respirar ares nostálgico de um passado que foi muito importante em vida. Afinal não sabia que a memória de Malcolm Little era tão reverenciada por jovens, movimento Hip Hop e intelectuais paulistanos.

Na oportunidade lembrei de 1992, ano do movimento dos “caras pintadas”, impeachment do Collor e nascimento da minha filha Winnie, chamada assim em homenagem a então esposa do Nelson Mandela. Neste ano foi lançado um filme dirigido por Spike Lee, estrelado pelo Denzel Washington, que já tinha protagonizado uma película sobre a vida de Steve Biko, anos antes. O filme era sobre a vida do ativista negro e líder combativo contra o apartheid americano, que em minha opinião, era em alguns aspectos pior do que fora na África do Sul, Malcolm X.

Este filme, despertou em mim e em boa parte da minha geração a curiosidade de entender e procurar conhecer mais sobre a rica tumultuada história da vida deste líder! Afinal estávamos impactado pela bela demonstração de convicções revolucionarias, contemporâneas e avançadas do Nelson Mandela que saiu da prisão onde esteve por 27 anos para dirigir uma nação unifica-la e ser exemplo para o mundo. Não foi a toa que o diretor Spike Lee, introduziu imagens deste líder sul-africano na película americana.

Foi após assistir ao filme que fui conhecer melhor e estudar a vida e o legado deste personagem forte e emblemático, que viveu e lutou em uma época difícil da luta do povo negro americano, ou como eles dizem: Afro-Americano.

Eu dividiria a vida do Malcolm em três fases: Infância, adolescência e juventude, onde ele reagiu a situação em que se encontrava e vivia os negros naquele país. Afinal aquele era o regime de segregação terrível a luta dos negros tomava a forma de briga pelos “Direitos Civis” que lhe eram negados mesmo após a escravidão ser abolida. Surgiram nesta época organizações criminosas com a Ku Klux Klan, que era um produto do racismo e do preconceito arraigado na cultura americana. A resistência de Malcolm nessa época, já que teve o pai morto, após assassinato do pai e a incapacitação da mãe, levou-o ao “sub mundo” drogas. Mas trabalhou como engraxate, começou a beber e fumar e comercializar drogas, crimes que o levaram “the red”, felizmente, a prisão, com 21 anos.

A segunda fase é a da sua conversão ao islamismo, ainda na cadeia, onde é apelidado de “satã”. Por insistência de um amigo/irmão que o sugeriu: “parar de fumar e de comer carne porco” para sair da prisão. Passou então a estudar o islamismo seguindo os ensinamentos de Elijah Muhammed, líder da "Nação do Islã". Ao sair da cadeia, em 1952, Malcolm X transformou-se em um dos mais carismáticos e combativos líderes negros dos Estados Unidos.Enquanto Martin Luther King em uma resistência pacífica como arma para enfrentar o racismo, Malcolm X defendia a separação das raças, a independência econômica e a criação de um Estado autônomo para os negros. Ao lado de Elijah, viaja pelos principais estados norte-americanos para pregar as suas ideias e defender a libertação dos negros.O projeto não foi à frente, mas deu ainda mais fama ao ativista. Esta posição mais radical e agressiva que pregava ás armas foi a marca principal nesta fase. Mas seu prestigio crescente já incomodava os lideres anteriores que perderam evidentemente espaço para o seu dinamismo e força de massas.

A terceira fase que é a maturidade. Nessa fase, ele percebe que nem todos os brancos são ruins e nem todos os negros são bons. Dizem que sua viagem a Meca, cidade sagrada dos mulçumanos, o fez ter contato com a verdadeira face do Islã. Embora isso seja discutível, do ponto de vista histórico. Na verdade ele amadureceu, buscou uma aproximação com o Luther King e fundou a"Afro-American Unity".

Era sensível que essa mudança de postura dava-lhe uma consistência. Um carisma daquele, com opiniões e posições mais equilibradas, num jovem de pouco mais de 30 anos iria, penso eu causar estragos naquele verdadeiro e cruel sistema “ segregador” vigente nos EUA. Mudou seu nome para Al Hajj Malik Al-Habazz e tentou dar sequência as suas convicções atualizadas na forma. Infelizmente a luta da época não pode desfrutar muito daquela fase nascente, pois alguns de seus companheiros, provavelmente, estimulados por setores das elites branca e reacionária, deram fim a vida do líder.

A forma brutal em que ele foi assassinado, 13 tiros, em frente a mulher grávida e das filhas demonstram que a ideia é tornar um exemplo. Até hoje, estranhamente, a policia, não sabe quem foram os mandantes. Mas suas ideias principais seguiram adiante Os Black Power e os Panteras Negras foram exemplo disso e mesmo hoje no Brasil e em São Paulo, quando vejo o esforço meritório do Prof. Jeosafá Fernandes e de outros na divulgação das ideias e do exemplo de luta que foi Malcolm X, eu tenho convicção de que sua luta não foi em vão!

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