Sociedade dos poetas mortos 

A onda de denuncias e investigações envolvendo a Fifa baseia-se em fatos recentes, segundo publicações que li, em especial as de circulações nos EUA. Parte de uma ação local, em que o ex- Secretário Geral da Concacaf, o tal de Chuck Blazer, conhecido nos meios futebolísticos há anos como o Sr. 10%.

Agora, se dizendo arrependido, de uma hora pra outra, entrou no famoso, por aqui, programa de delação premiada e começou a dedurar seus colegas da região e a partir deles chegou até a Europa.

Certa vez um político me disse que mexer com empreiteiras era como mexer com uma “corda” de caranguejos. Puxou um vem logo um monte amarrado. A metáfora também, pelo visto serve para esta propalada e festejada, ao menos por aqui, repentina investigação. Mas o leitor amante de futebol sabe que não é nem assim. A situação da Fiaf já era denunciada desde antes de o mafioso mor João Havelange assumir a presidência da Federação.

Segundo o nosso colega, o cientista político Aníbal Chaim, “Menos de duas semanas antes da publicação do Ato Institucional (AI-5), que dava ao presidente da República poderes excepcionais, o então presidente do Brasil, Arthur Costa e Silva, se reuniu com João Havelange, na época presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) — atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF) —, e os dois fecharam um acordo que previa investimento do Estado no futebol nacional.” A partir daí anabolizado pela brilhante conquista do Tri Campeonato, o Havelange, usando o dinheiro do estado, através da loteria esportiva, indiretamente injetado no Futebol, iniciou sua campanha para assumir a entidade máxima do futebol mundial. Para se ter uma ideia em 1974 ano em que Havelange, “ganhou” a eleição. O Ditador Geisel, autorizou cobrir um rombo de quatro milhões, desviado pelo ex-nadador do Fluminense.

No dia 11 de junho de 1974, dois dias antes da abertura da Copa do Mundo, o 39º Congresso da Fifa teve como pauta a eleição presidencial da entidade. Concorriam o inglês Stanley Rous e o brasileiro que havia representado o país na natação dos Jogos Olímpicos de Berlim-1936 e presidia a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) desde 1958. Na primeira rodada, na qual era necessário angariar dois terços dos votos, Havelange venceu por 62 a 58. Na segunda, em que valia maioria simples, o brasileiro triunfou por 68 a 52.

A Fifa tinha 142 membros efetivos na época, mas três não tinham direito a voto (África do Sul, Rodésia e Chade). No processo eleitoral, Havelange visitou 84 deles. No livro "Um jogo cada vez mais sujo", o jornalista inglês Andrew Jennings relata compra de votos –foram pelo menos US$ 5 milhões investidos pelo brasileiro em "agrados" aos dirigentes que participaram da eleição, e esse montante teria saído dos cofres da CBD. Até hoje, Havelange é o único não europeu a ter presidido a Fifa.

Não que o Inglês fosse flor que se cheire. Mas é fato que o Havelange, difundiu aos quatro cantos que iria transformar o futebol mundial em um negócio lucrativo. A vida mostrou para quem e onde foram os lucros. O engraçado é que o Joseph Blater era já dirigente da FIFA, responsável pelos recursos da entidade e consta que ele fez forte campanha para o inglês Rous. Entretanto, Já na eleição seguinte foi cooptado e passou a ser o segundo homem da entidade até a saída do brasileiro.

As falcatruas no futebol são conhecidas do mundo todo e a Europa não tem condições morais de dar exemplo ou de cobrar nada. Afinal foi na Itália, a terra do maior escândalo mundial até então e olhe que após toda a roubalheira, a azurra foi campeã da Copa do Mundo de 1982 tendo um criminoso como centro avante e eleito o melhor jogador daquele mundial.

Imagine como se desenrola os processos eleitorais para indicação dos países a sediar o evento? Pelo amor de Deus! O que menos deve valer ali são os votos.

E o escândalo envolvendo a Copa do Mundo em solo francês? E a ida da seleção francesa de forma descaradamente roubada para a Copa da África do Sul? E a Irlanda se calou, agora dizem, por míseros, seis milhões de dólares. È ou não é uma corda de caranguejos? Se houver uma investigação séria, vai sobrar para muita gente que posa de bonzinho ou de arauto da moralidade futebolística no mundo e em nosso país.

Causa-me espécie que um dos alvos dos moralistas europeus seja a Copa do Mundo na Rússia e evidentemente na África do Sul. O cartola canalha de Miami, junto ao outro canalha J.Havilla, deve ter muito mais o que falar.

Os verdadeiros amantes do futebol, os democratas e aqueles que defendem realmente que o futebol se decida entre as quatro linhas devem ficar atentos e cobrar rigorosíssima apuração dos fatos. A punição exemplar, inclusive com a devolução de todo o dinheiro roubado dos que amam o futebol pelo mundo. Exigir que em nosso país as investigações não sejam palanques para oportunistas que buscam apenas dividendos eleitorais e querem jogar a “criança com a água suja” fora. Devemos ficar atentos com os falsos moralistas que surfando em ondas artificiais tentam se promover ás custas de um assunto sério e importante.

O Brasil pode voltar a ter e praticar o melhor futebol do mundo. Para isso é importante e definitivo que os dirigentes do futebol objetivem não o lucro, como vaticinou o Havelange. È preciso também, desvendar a obscura relação entre as TVs e o futebol. As emissoras de são, visivelmente, correias de “transmissões” entre as falcatruas que ocorrem sob o manto do marketing esportivo. Fazer o certo é fazer a CPI e a Policia/Justiça investigar este ninho de serpente onde se proliferou com jeito próprio mecanismos de se lucrar com a paixão do povo.

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