A crise do sistema capitalista é financeira e ética

O sistema capitalista foi gerado a partir das sementes plantadas nos primórdios da história, quando as moedas usadas na comercialização dos produtos começaram a ser acumuladas e emprestadas com o valor aumentado pela taxa de lucro.

Eram os embriões dos bancos que minaram o poder das aristocracias reinantes, financiando guerras de cá para lá e de lá para cá, e a compra e venda de escravos das regiões colonizadas. Especializaram-se na venda da força de trabalho dos povos vencidos.

Como antídoto a este caminho destruidor da construção humana das sociedades e da formação mental das populações que criavam aperfeiçoamentos técnicos para os seus trabalhos, conhecimentos científicos, ideias filosóficas, manifestações artísticas, com o fim de melhorar as condições de vida dos povos, surgiu o conceito de um sistema socialista que condena a exploração do homem pelo homem

Naturalmente, esta forma de agir contrariava as ambições de quem acumulava moedas para comprar o poder dos reis e subornar os pensadores. Foram criadas forças capazes de impedir o desenvolvimento de sociedades socialistas por meio de guerras, invasões, bloqueios, controle das informações e deturpação do conhecimento, proibição de divulgação de ideias contrárias aos interesses dos ricos que acumularam capital.

Mas o ser humano pensa e a sua realização na vida depende da coerência entre o que faz e o que deseja no interior do seu pensamento. Se ele deseja ser poderoso é fácil encontrar um comprador capitalista que pague bom preço. Se ele deseja melhorar as condições de vida da população que trabalha, das crianças que precisam de proteção, dos que sofrem por não terem plena autonomia na sua vida, dos idosos que já estão cansados de tanto trabalhar, então ele pensa nas questões gerais do atendimento social que todos precisam receber e contraria o uso do dinheiro em benefício particular dos que compram o poder.

Isto posto de maneira simples envolve uma história muito complicada que se desenvolveu do século 13 até o 21. De onde vem o dinheiro? Começou com a venda da mão de obra escrava. Mas hoje a estrutura do poder criada pelo sistema capitalista é extremamente complexa e muitos dos seus defensores começam a perceber que confiaram nas publicidades falsas que disfarçaram com uma pintura social os objetivos individualistas. A revelação das características essenciais do sistema veio com a crise que é financeira e ética. Desencadearam uma guerra contra a humanidade pacífica retirando a esperança de uma vida tranquila e produtiva, impondo uma cultura da alienação e do desespero, que conduz a juventude ao uso de drogas e prática de atos de vandalismo, entregam armas e formam terroristas para abrirem caminho para invasões "pacificadoras".

Um grande exemplo deste despertar para a realidade antissocial do sistema capitalista está nas palavras e atos do papa Francisco que, para salvar a Igreja Católica, não tem medo de que o considerem "comunista" e "marxista", quando defende os mais pobres, os mais fracos, os mais ameaçados, sem discriminar pessoas acusadas por terem cometido erros ou crimes. Mas não precisamos sair de Portugal para ver que pessoas que prezam a sua dignidade e o seu compromisso com a pátria sentem a necessidade de se afastar dos partidos ou grupos que estão agarrados ao poder capitalista. Ocorre em todo o planeta este despertar da consciência humanista. Há muitos exemplos de conhecidas personalidades de formação conservadora que se afastam dos novos líderes da direita para não serem confundidos com esta casta desprovida de princípios que não respeita a soberania do país a que pertencem.

O Partido Comunista Português, desde que foi desenhada a proposta de uma União Europeia, levantou argumentos apontando o risco de serem as nações mais pobres dominadas pelas mais ricas. Há farta bibliografia sobre este tema. Uma das objeções apontava a criação de uma moeda única – o euro – como o veículo da dominação das economias mais fracas diante das mais fortes. A sua posição foi vencida pelo deslumbramento dos partidos políticos, tendo à cabeça o PS que estava no Governo de Portugal onde alternava com o PSD, pela imagem de desenvolvimento e riqueza criada pela falsa publicidade das grandes estradas (por onde a Europa rica escoaria os seus produtos em troca de matéria prima e alimentos ou em busca de bela natureza para turismo), das empresas multinacionais de grande aparência (beneficiadas pelo salário baixo do país, descontos nas taxas de instalação e preços de terreno), pela modernização comercial (que liquidou o pequeno e valioso comércio português tradicional), pela moda na vestimenta e no comportamento social que revelava uma atualização a nível internacional dos costumes sociais (quebrando laços familiares entre pais e filhos sem tempo para entenderem as diferenças impostas), enfim, por terem coberto o histórico país com todos os seus valores com uma capa plástica cintilante de lantejoulas apregoada como riqueza e progresso. Típica propaganda enganosa, engolida sob o rufar dos tambores dos partidos da direita e afins. O povo, recém saído de uma ditadura fascista e condenado pela participação na Revolução dos Cravos, acreditou.

A adesão de Portugal à União Europeia, com a aceitação da moeda única e dos condicionamentos jurídicos coincidiu com a queda da União Soviética que, depois de uma brilhante experiência de realização socialista em quase 80 anos, ruiu corroída pelas pressões do capitalismo alimentadas desde a Grande Guerra. Mas a defesa do ideal comunista não sucumbiu no mundo. Analisam-se os erros, investigam-se as novas realidades, esclarecem-se os povos, sem desistir da luta para realizar com coerência as convicções de quem pensa no desenvolvimento social. Os comunistas são internacionalistas, lutam pela união dos trabalhadores em todo o mundo, mas os defensores do capitalismo construíram uma união do capital que deturpa a necessária unidade europeia mantendo a exploração dos mais ricos que exploram colonialmente as nações mais pobres.

Hoje, falidos os bancos que mergulharam na especulação financeira e no desvio do dinheiro, depositado em confiança pelo povo, para contas pessoais, e os governantes subordinados às decisões do Banco Europeu e do FMI fizeram dívidas em nome do país e obrigam os contribuintes a pagarem como se a honra da pátria estivesse em causa. Apelam a um falso moralismo para acobertarem a responsabilidade de uma elite corrupta de maus gestores do bem público. Sacrificam o bem estar social, que é a base para o desenvolvimento nacional, para repor o capital que as instituições financeiras deixaram escoar para manter o poder capitalista.

O Reino Unido, a Suíça e os países nórdicos sobrevivem porque não sacrificaram a sua moeda para adotar o euro. Mas a UE ameaça a Grécia, que pretende renegociar a dívida para salvar o seu povo da miséria, com a expulsão da zona euro e consequente bloqueio econômico que impediria o seu desenvolvimento.

A América Latina com a sua união de solidariedade entre nações soberanas – Unasur – defendeu a Argentina que se negou a pagar uma dívida ao FMI imposta por razões imperialistas. As condições na Europa são diferentes, sobretudo porque a união europeia não é de solidariedade entre os povos, mas de capital financeiro controlado por um poder imperial. Esta falsa união, que só favorece o poder do capital sacrificando os povos, tem sido denunciada pelas inúmeras manifestações de massa dos trabalhadores dos vários sectores, assim como dos idosos reformados e pensionistas, os estudantes e desempregados, em todos os países da Europa.

O PCP nas suas sessões de debate público sobre a questão da dívida expõe os caminhos alternativos para serem discutidos por todos, independentemente das ideologias: renegociação da dívida externa em função da dívida pública (que tem miserabilizado os povos e atrasado o desenvolvimento das nações), ou a criação da moeda nacional fora do euro e das contingências impostas pela UE, para garantir a defesa da soberania de Portugal e a sua independência para crescer sem tutelas.

O Governo a ser eleito pelo povo, para corrigir os erros cometidos pelo atual com o seu programa antipatriótico, terá de enfrentar estas alternativas com a responsabilidade de salvar a sociedade da desagregação que já se assiste sem condições de atendimento: à saúde, à educação, à segurança social, às crianças em situação de risco de vida, aos idosos abandonados à miséria, aos jovens desorientados que se lançam em aventuras terroristas e semeiam a violência, aos pequenos empresários que perdem os seus negócios e as suas poupanças desviadas pelo sistema bancário, aos militares e forças policiais que sofrem cortes orçamentais e têm de enfrentar uma ameaça de caos social, às empresas de serviços públicos que são oferecidas como galinhas dos ovos de ouro à estrangeiros e apátridas que apenas visam o lucro.

Se pensarmos na situação do país com o mesmo sentido de responsabilidade que temos em relação à nossa casa e à nossa família, chegaremos a uma conclusão de que o preço a ser pago pela nossa soberania e dignidade será sempre melhor do que reduzir os juros de uma dívida eterna com o agravamento da austeridade.

Pela visível queda de qualidade humanista e ética dos atuais líderes da União Europeia e dos governos submissos, anuncia-se uma provável implosão da estrutura criada para controlar as políticas do continente. A incapacidade de gerir os problemas financeiros deriva da falta de objetivos sociais e patrióticos. Se analisarmos a história da humanidade, sempre os poderosos com ambição de acumulação de riquezas para assegurar o poder de uma elite destruíram civilizações brilhantes que desenvolviam o conhecimento para fortalecer os povos e produzir o melhor. É a repetição da barbárie, agravada com um armamento capaz de destruir o planeta.

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