A volta dos Bush

O encontro de Barack Obama e Raúl Castro roubou a cena da VII Cúpula das Américas, que reuniu os e as chefes de estado e de governos do Continente na semana passada, no Panamá. O aperto de mãos e breve conversa dos presidentes do Estados Unidos e de Cuba teve, de fato, um significado muito maior, pois reflete alguma diferença na política ianque em relação ao resto do mundo.

Dias depois, porém, vieram a público os pré-candidatos às eleições presidenciais do ano que vem, nos EUA, pelos dois partidos que se revezam no poder. Pelo lado do Democrata, não houve surpresa, pois já era esperado que Hillary Clinton voltasse às raias pra tentar reeditar os feitos de seu marido e dela própria no passado.

Do lado Republicano, contudo, a notícia da volta da família Bush ao páreo pelo mais importante cargo do planeta provocou engasgos em todos que tinham esse como um nome do passado. Jeb (John Ellis) também é filho de George H.W. Bush e irmão de George W. Bush, que já reinaram na Casa Branca, com turbulentos conflitos planetários.

Mais do que Obama, eles respondem a pressões da indústria de armamentos, um setor com enorme força política, que financia campanhas eleitorais, mas precisa de guerras pra manter seus bombásticos lucros. É certo que Jeb é casado com uma mexicana e tem um discurso de que a salvação do capitalismo no país depende de todos os habitantes, inclusive pra retomar a supremacia global.

Insuflar ou criar conflitos ao redor do mundo é uma especialidade dessa política externa que tem a cara dos Bush. O caso mais atual, que respingou bastante em Obama, é o da guerra da Síria. Como é de amplo conhecimento, esse tal Estado Islâmico, que aterroriza o mundo, é fruto da estratégia dos EUA pra tentar derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad, naquele país.
No que se refere ao Caribe, Cuba almeja o reatamento de relações, iniciado com o pedido feito pelo Papa Francisco, em visita que fez à ilha. O turismo é um detalhe, que nem vem ao caso, pois há mais de uma década, apesar do embargo, são viajantes da terra do Tio Sam que lotam os luxuosos hotéis cubanos, mantidos pelas mesmas redes que dominam a hotelaria no Brasil, por exemplo.

A possibilidade de trocas comerciais e o uso do novo porto de Mariel são dois focos do interesse cubano no reatamento. Será enfim, o estertor das limitações que ainda hoje existem nas relações internacionais de Cuba. Vale lembrar que esse complexo portuário servirá muito ao Brasil. Aliás, foi construído por empresas brasileiras e em grande parte financiado pelo BNDES, por acordo assinado na época de Fernando Henrique Cardoso.

O fim do boicote depende, contudo, de aprovação do Congresso, onde os democratas têm minoria na legislatura em curso. E a eleição de Jeb Bush poderá prolongar o processo, pois ele é contra a reaproximação. Mesmo levando-se em conta que o encontro de Obama e Castro teve as boas-vindas de cinco minutos de aplausos dos mandatários presentes no Panamá.

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