Formatação do pensamento humano e silêncio cúmplice

As circunstâncias que envolveram a queda de um avião Germanwings, que, com tarifas mais baixas, transportava 148 pessoas de nível socioeconômico médio, inclusive estudantes em missão escolar, de Barcelona em direção à Alemanha com escala em Marselha, merecem um estudo filosófico, além de técnico, econômico e político. Merece um julgamento humanitário no nível da ONU.

O sistema capitalista vive a sua crise desde 2008. Nestes seis últimos anos promoveu uma mudança terrível no mundo, com origens anteriores, com o despoletar de um circuito de horrores que vão desde os grandes roubos ou desvios de bilhões de dólares dos bancos para outras instituições privadas e vice-versa, com a proliferação de construção e venda imobiliária especulativa, abertura de estradas desnecessárias para a população mas para servir ao escoamento das mega-indústrias multinacionais, criação de enormes centros comerciais que liquidam as pequenas empresas e os artesãos a elas ligados, tudo megalômano e promovido por uma publicidade enganosa cheia de promessas de felicidade, com um modelo estandardizado que despreza as tradições. Enfim, o fortalecimento do domínio econômico de uma elite que usa o dinheiro público a favor dos seus próprios negócios e burlas, sem qualquer respeito pela situação de vida de todo o povo e o desenvolvimento de nações soberanas.

Este ritmo enlouquecedor e desnecessário é acompanhado pelo incentivo ao consumo de produtos inventados para fazer circular o dinheiro de pessoas iludidas pelo mecanismo neurotizante que torna desejável qualquer inutilidade apresentada como símbolo de moderno. os meios de comunicação social, principalmente os canais televisivos servem de veículo para apresentar, com técnicas especializadas de publicidade que alimentam o medo ou a repulsa, de informações selecionadas com base em censuras e mentiras que vão formar a opinião pública. dessa forma a população vai sendo formatada para pensar como a elite que comanda o sistema deseja.

A humanidade foi conduzida a um estado de alienação e de semi-loucura que a afasta da realidade concreta em que vive, permanecendo desarmada perante um comando invisível e avassalador. Passou-se a viver em um mundo de ilusões que dominou a ação e o pensamento das populações, destroçando os seus hábitos de convívio familiar e social e a confiança nos princípios éticos e de justiça que serviram de base para a construção das sociedades.

Com programas maquiavélicos, o precário equilíbrio em que viviam as sociedades no século 20 desapareceu, deixando dúvidas sobre a ética dos governantes e a sua preocupação com a justiça. e, em conseqüência conduzindo ao abandono dos valores que dignificam a pessoa humana. As instituições dos Estados, assim como os seus dirigentes, foram equiparados às grandes empresas e seus donos que inventam projetos que visam apenas lucro de uns mesmo que cause o infortúnio da maioria.

Foi a perda de credibilidade total, com a conseqüente perda de confiança no futuro e de esperança na construção da vida. Tudo se tornou passível de substituição por novos produtos e mais espertos dirigentes, lançados ambos pelo Mercado Livre: de objetos a programas de estudo científico, de projetos de vida a formas de organização social, imposição de um idioma que deturpa o uso dos idiomas nacionais, os objetivos éticos e humanistas utilizados pela comunicação social dão lugar à promoção de vícios , escândalos, crimes, o desaparecimento total do respeito humano.

No caso do avião da Germanwinds alemã que foi despenhado no alto dos Pirineus por um co- piloto suicida, há a comentar a realidade vivida pelas grandes empresas de aviação e a ausência de responsabilidade dos Estados na Europa com a imposição de uma redução dos seus funcionários e da capacidade de manutenção técnica e mecânica, por razões de mesquinha
poupança financeira. Desemprego e utilização do material para além da sua validade tornam a empresa mais lucrativa e apetecível para os compradores privados. Exemplo: existiam obrigatoriamente 2 pilotos e 2 co-pilotos na cabine de vôo, mas foram reduzidos à metade. Por falta de salários compatíveis com as funções e carreiras (porque a legislação do trabalho deixou de ser cumprida) os profissionais de vôo e os de oficinas de manutenção foram em busca de melhores condições de vida e remuneração em outros países. Um caso, o mais absurdo, que agora é de conhecimento público, é que no exame médico obrigatório das condições de saúde dos pilotos foram suspensas as análises de foro psiquiátrico, o que dispensou médicos especialistas! Por tal decisão 148 pessoas foram assassinadas por um ato de loucura de um co- piloto transtornado. Mas, quem foi o responsável por este acidente? Não é imputável a uma pessoa com características de insanidade qualquer responsabilidade jurídica por falha profissional. Uma crueldade foi lançada sobre os familiares de um homem doente que carregou com a culpa de todo um sistema irresponsável porque só tem por objetivo o lucro empresarial.

O sistema capitalista, para sair da crise e manter a elite poderosa que governa o planeta, aliena as pessoas com drogas farmacêuticas ou produzidas por associações criminosas que circulam pelos países misturados aos que fazem o branqueamento do capital. O sistema não tem rosto nem nome, mas os seus agentes, sobretudo os altos dirigentes internacionais e nacionais, os seus defensores, estes têm cara, nome e endereço. São os responsáveis não só por este crime monstruoso, como pela desordem social que implantaram nos países em busca de lucro.

A falta de respeito pela legislação laboral conquistada e a instabilidade financeira das nações determinaram a quebra das forças produtivas, impuseram a austeridade que leva à miséria, o roubo milionário impune que leva os bancos à falência e faz desaparecer a poupança de pessoas honestas, o desemprego que prejudica tanto o setor da aviação, mas também o da saúde pública, da educação, da assistência social devida pela Previdência aos idosos e incapacitados de trabalhar para viver, o desespero que leva ao suicídio e à violência criando um mundo perverso para as crianças lançadas no caminho da marginalidade, da fome e da morte.

A responsabilidade pela queda do avião (e de vários aviões que têm desaparecido não se sabe como) e de todas as ações nefastas que foram desencadeadas para compensar a crise financeira, inclusive as sucessivas guerras para que os poderosos do sistema se apossem do petróleo, o incitamento aos atos terroristas até à criação de um chamado "Estado Islâmico" que serve de ponta de lança para a invasão pela Nato de países do Oriente Médio e do norte da África; a responsabilidade pela destruição da natureza e o enlouquecimento da cumanidade é dos atuais dirigentes dos organismos internacionais que comandam presidentes e Chanceleres das nações submissas.

Deveriam ser levados ao tribunal por estes crimes, enquanto há pessoas capazes de discernir as origens das calamidades sociais e baterem-se pela justiça social. Como disse o Papa Francisco com tristeza "somos cúmplices" se não denunciarmos e lutarmos para pôr fim a tal horror que ameaça a humanidade.

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