Para não dizer que eu não falei das flores

O Partido Comunista do Brasil comemorou na semana passada seus gloriosos noventa e três anos. Quase um século de lutas e de histórias vinculadas a vida do país e de seu povo. Eu vivi e convivo há trinta e cinco anos. Entrei garoto ainda e na militância partidária e social formei e conquistei um pouco que tenho de consciência e formação. 

A minha maior contribuição a esta história foi aprender, ou melhor, procurar aprender um pouco. Absorver um pouco deste imenso aprendizado coletivo que é e foi à participação neste rico processo social e histórico.

Penso, portanto, que os desafios ainda são imensos, diferentes de outras épocas e talvez até bem mais complexos. Os debates internos devem dar conta, espero do destrinchar dos nós que teimam em aparecer sempre que nasce uma possibilidade nova dificultando a realidade em que atuamos.
Mas a questão da militância me instiga. O PCdoB e toda a esquerda precisa encarar o necessário debate e a busca pelo resgate, possível, da militância. Sem ela, engajada, voluntária, altruísta e dedicada, não teremos um bom futuro.

E um olhar mais atento mostra que existe uma crise de militância que atinge o Partido e a esquerda. Resultado de uma luta surda e lenta que já dura mais de suas décadas que mina valores essenciais à prática militante e introduz conceitos de competitividade e disputas que não trazem resultados sadios. A queda do socialismo real (leste europeu) e sua crise aliado a forte ação neoliberal no começo da década de 1990 marcou uma geração de militantes e de quadro com um estilo de sobrevivência política em que a esperteza é mais valorizada do que o comprometimento ideológico e estratégico. E se nós aliamos esta condição ao fato de participarmos, justamente, de governos e cada vez mais cargos nos executivos, gera e gerou um tipo de militância que guarda pouco do que queremos no futuro.

O primeiro elemento da militância é sua consciência, crítica, desenvolvida. Capacidade e curiosidade de ir além da aparência. Afinal é para isso e por isso que existe a ciência!

Essa consciência, infelizmente, não será formada e constituída, lendo jornais e revistas, muito menos assistindo os noticiários televisivos. Não quer dizer que seja impossível, não é. Mas os que a partir daí conseguem são poucos e não temos tantos talentos assim. A consciência é adquirida com uma educação. Não apenas com formação, cursos regulares e periódicos. A educação como algo mais amplo é que tem na vida partidária regular o seu provento. Desde que bem dirigido. Se os dirigentes tiverem os vícios e deformações citadas. Estaremos deseducando a militância.

Outro aspecto fundamental na militância e o altruísmo. Sim isso mesmo. Falta a dedicação militante sem esperar vantagens e benefícios para si ou para os seus. Isso não significa a hipocrisia franciscana. É óbvio que viver segundo as suas possibilidades é um direito que, conquistado meritoriamente, deve ser respeitado e considerado. Digo aqui, sobre este conceito visto entre nós, de assumir tarefas e funções que produzam certos ganhos e retornos materiais. Quando escrevo entre nós digo a militância da esquerda em geral.

Por essa razão eu defendo o resgate dos valores militantes que preconizem a subordinação de objetivos individuais ao bem estar coletivo. Saber que é e será do bem estar coletivo que os indivíduos poderão se fortalecer.

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