Carta aos meus irmãos, que querem os militares

Não sou petista, votei no Lula, na Dilma e fui às ruas na sexta-feira. Não foi a primeira vez que fui a uma manifestação, e lutarei para que não seja a última, porque na democracia podemos fazer manifestações. 

Estive na Avenida Paulista defendendo a Petrobras de mais uma tentativa de privatização, defendendo que o Brasil continue a investigar e punir corruptos (ainda espero a apuração do "cartel" do Metrô de São Paulo), defendendo uma Reforma Política que acabe com o financiamento empresarial de campanha (uma das maiores causas de corrupção).

Fui à minha primeira manifestação ainda menina, levada pelos nossos pais. Lembro vagamente, passei todo o tempo nos ombros das pessoas e só via um mar de gente. Hoje sei que eles estavam lá para que eu e vocês pudéssemos escolher livremente quem queremos na Presidência da República.

Foi o que fizemos no ano passado. Discutimos muitas vezes durante a campanha eleitoral, mas sempre pudemos discutir política. Porque vivemos numa democracia.

Cresci indo aos sindicatos e à Câmara Municipal com nossa mãe. Naturalmente comecei a minha militância cedo, durante o ginásio. A injustiça sempre me fez tremer e me despertar a vontade de enfrentá-la. Participei de greves, organizei plebiscitos, abaixos assinados. Porque vivemos numa democracia.

Enfim, numa ditadura sua irmã provavelmente seria presa, torturada e estuprada pelos militares "salvadores do Brasil". Talvez fosse assassinada e desaparecessem com o meu cadáver e vocês nem poderiam chorar sobre o meu caixão.

Foi o que fizeram com milhares de brasileiras e brasileiros durante os "anos dourados dos militares".

Quando um de vocês defende a possibilidade de um golpe na democracia. Você não está golpeando apenas a presidenta (presidenta sim, porque ela é mulher, como eu), você está golpeando a minha liberdade e a de tantas pessoas que como eu treme e luta diante das injustiças.

Espero que vocês leiam esta carta. Espero que vocês reflitam. Espero que vocês honrem a coisa mais importante porque nossa mãe lutou. Espero que vocês não entreguem sua própria irmã ao inimigo.

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