Por que não se vai à raiz do problema? 

Ora, amigos, não se trata de estabelecer aquela situação em que “o sujo fala do mal lavado”. Corruptores e corruptos se acusarem entre si. Trata-se de enfrentar o problema cortando-o pela raiz, sem hipocrisia nem artifícios exclusivos da luta política imediata.

Tive a oportunidade de dizer em entrevista à Rádio Folha, anteontem, que o momento que o país vive é extremamente promissor. Convivemos com as dores de um parto, cuja resultante haverá de ser um passo adiante no processo democrático brasileiro.

Por que?

Porque pela primeira vez na história do Brasil, efetivamente, estão vindo à tona casos de corrupção institucional de grande dimensão, revelados os corruptos e os corruptores. E submetidos aos rigores da Lei.

Muito diferente de momentos anteriores, como nos oito anos de governo FHC, quando casos de corrupção e tráfico de influência não se transformaram em grandes escândalos por que foram, como se diz, postos para debaixo do tapete – por força da maioria parlamentar governista de então e da proteção da grande mídia hegemônica.

Mesmo o caso da privatização das empresas estatais de telecomunicação, quando a revista Carta Capital chegou a transcrever trechos de escuta telefônica onde o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso aparecia interferindo em favor de um dos grupos privados envolvidos!

Nada, absolutamente nada se podia revelar e apurar devidamente.

Foram abafados, por exemplo, o escândalo que envolveu corrupção e interferência do gabinete presidencial no contrato de US$ 1,4 bilhão para a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). Caíram um ministro e dois assessores do presidente, mas se colocou uma pesada pedra para evitar que as apurações prosseguissem.

Também foi abafado o caso da Pasta Rosa, de agosto de 1995, quando da crise dos bancos Econômico (BA), Mercantil (PE) e Comercial (SP). FHC socorreu os banqueiros com nada menos que R$ 9,6 bilhões, através do Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer). Uma CPI de curta duração validou a “ajuda” aos bancos e sequer abriu uma pasta rosa que continha nomes de 25 deputados aliados do presidente subornados pelo Banco Econômico.

A lista é grande. O jogo é duro. Sempre.

Mas interessa saber por que, agora, desde que a presidenta Dilma mandou investigar contratos superfaturados e outras tramóias na Petrobras, que segundo o jornalista Ricardo Boeachat – ganhador do Prêmio Esso de Reportagem tratando do tema -, vêm desde antes do governo Sarney, faz-se tudo para limitar as investigações ao período dos governos recentes, de Lula e Dilma?

Mais: por que o mesmo alarde com que se trata a chamada Operação Lava Jato não se usa para debater a reforma política – e na reforma, a proposta de extinção do financiamento privado de campanhas eleitorais, raiz da corrupção institucional?

O complexo partidário-midiático oposicionista age com dois pesos e duas medidas. E está longe de enfrentar a corrupção para além do jogo de poder imediato.

É isso.

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