Rastilho de ódio

Muito mais do que a discordância natural em relação ao governo, propaga-se como o vento um sentimento oposicionista contaminado pelo preconceito, a intolerância e o desrespeito à convivência democrática.

Partidos conservadores ao estilo da velha UDN, que põem o combate à corrupção em tom abertamente hipócrita como biombo para ocultar seus verdadeiros intentos, e a grande mídia mancomunada com a oligarquia financeira compõem o sistema oposicionista radicalmente direitista.

O PSDB, maior partido de oposição, que antes se dizia viver “em cima do muro”, hoje assume abertamente a ruptura com a ordem democrática em favor do retrocesso político e econômico que não logrou através do voto.

Os atos públicos em favor do impeachment da presidenta Dilma, convocados para o próximo 15 de março, fazem parte dessa onda conservadora.

Não se debatem ideias, não se cotejam projetos políticos; semeia-se um rastilho de ódio avesso a qualquer discussão racional.

Dilma e o PT são o alvo. A derrubada do governo é o objetivo, sem o menor respeito ao pronunciamento do eleitorado no pleito de outubro.

O ódio também se dissemina em parcelas significativas dos setores médios da população, pouco esclarecidos e não plenamente contemplados com as conquistas sociais verificadas nos últimos doze anos.

O PT é atacado menos pelos erros cometidos e, sobretudo, pelos êxitos alcançados. A rejeição à inserção social de mais de quarenta milhões de brasileiros muito pobres ou que viviam sob condições abaixo da linha da pobreza é a pedra de toque do combate ao PT.

O ódio disseminado gera o caldo de cultura propício à pregação fascistóide.

Por outro lado, estão muito longe do dever cívico a reação do governo e do partido hegemônico na coalizão governista, o PT. São tímidas, quando não ausentes, as manifestações da própria presidenta Dilma e do ex-presidente Lula.

O ato público em defesa da Petrobras, ocorrido no Rio de Janeiro dias atrás pode ser um primeiro sinal de reação. Tomara.

Não é uma luta menor, muito menos pontual e passageira. Trata-se do maior embate já ocorrido desde que iniciada a transição da ordem neoliberal, herdada da era FHC, a um novo projeto de nação em construção a partir do primeiro governo Lula.

Essa transição, conflituosa por natureza, marcada pela alternância de instantes aparentemente mornos e de grande acirramento, tem o seu conteúdo e o seu ritmo determinados pela correlação de forças.

Hoje, o segundo governo Dilma enfrenta uma correlação de forças muito adversa, pesando substancialmente a dispersão da sua base partidária e parlamentar de apoio e a dificuldade momentânea de mobilizar a sua base social, fundamentalmente localizada entre os assalariados, a juventude, a intelectualidade e as camadas populares e o empresariado progressista.

Nunca foi tão necessário retomar organizadamente o movimento pela continuidade das mudanças. O que requer, antes de tudo, intenso e esclarecedor debate de ideias – no parlamento, nos fóruns de movimento social, nas redes e nas ruas.

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