Beija-flor

O título conquistado pela Beija-Flor no carnaval 2015 do Rio, sem dúvidas, entrará para história como o mais polêmico dos últimos anos. Nem mesmo quando Castor de Andrade e outros contraventores associados ao jogo do bicho tiveram suas prisões decretadas, em pleno comando das escolas de samba cariocas, houve tanta polêmica. Hoje, uma grande diferença, são as rápidas e contundentes tecnologias de comunicação.

As redes sociais, por exemplo, conseguem levar uma informação de forma veloz e estrondosa. Em poucos segundos, milhões de brasileiros descobriram que um tal de Guiné Equatorial, país africano que muitos nunca ouviram falar, perdura uma ditadura de mais de 30 anos. No entanto, esse mesmo formato de produzir informações acaba falhando na qualidade ao não aprofundar o verdadeiro cerne desta questão: quem, verdadeiramente, financia os milhões de reais gastos no carnaval, todos os anos, nas principais capitais brasileiras?

Se a Beija-Flor foi à campeã deste ano “com as mãos sujas de sangue de uma ditadura” como muitos atenuaram, nos outros anos, os títulos das escolas campeãs vieram com as “mãos limpas” de quem? A verdade é que desde que o carnaval virou um negócio altamente competitivo, movimentando milhões de dólares sem nenhum controle fiscal, é sabido por todos que alguém vem pagando essa conta. Em entrevista cedida a mim, há pouco mais de um ano, o sambista e ex-presidente da Mangueira Ivo Meireles relatou que para ganhar o carnaval do Rio uma escola de samba tem de investir, no mínimo, quinze milhões de reais. Será que este montante sai de comunidades extremamente pobres como é a de Nilópolis, Mangueira, Ilha do governador, Jacarezinho? De onde é que vem esse dinheiro? Afinal, não há na África tantas ditaduras dispostas a financiar escola de samba brasileira todo ano.

Refletir sobre os caminhos que a maior expressão cultural e popular brasileira vem tomando, seja nas grandes escolas de samba ou nos grandes blocos carnavalescos é tarefa que os órgãos de controle não podem mais se isentar de fiscalizar.

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