O dedo sujo de sangue presente na vitória das escolas de samba

Não é novidade para ninguém a estreita relação entre carnaval e contraventores, basta observar quem são os presidentes e patronos de algumas das principais escolas de samba, como Luizinho Drumond da Imperatriz Leopoldinense ou Rogério Andrade (sobrinho de Castor de Andrade) da Mocidade Independente de Padre Miguel.

 Também não tem nada de novo a promíscua relação entre TV Globo e os desfiles de escolas de samba, especialmente no Rio de Janeiro, onde já se viu até o ex-chefão global Boni como enredo carnavalesco (Beija Flor em 2014).

Mas este ano o espetáculo momesco passou dos limites: confesso que achei já ter visto de tudo, desde apresentações patrocinadas por empresas e até mesmo por cidades, estados ou países, mas ver uma ditadura sanguinária entrar com mais de 10 milhões de reais em um desfile e ainda por cima vencer o carnaval é realmente surpreendente.

O enredo da Beija Flor de Nilópolis, que contou a história das belezas da Guiné Equatorial não citou em momento algum Teodoro Nguema Obiang, chefe de estado há 35 anos no país da África Central, curiosamente de um dos mais pobres do mundo, sendo apontado até mesmo pela ONU como um dos mais corruptos regimes africanos do presente.

Informações apresentadas ao Ministério Público do Rio de Janeiro apontam que o ditador, ainda tem a audácia de possuir um triplex avaliado em US$ 15 milhões e outro que teria custado 34 milhões de euros na cidade de São Paulo.

Não é preciso ser nenhum gênio para perceber o real motivo de tanta verba na escola de Nilópolis, é o simples fato de se lavar dinheiro de uma maneira a se divulgar as maravilhas africanas de um país destruído por uma sangrenta ditadura e ainda melhorar um pouco a imagem do regime para o mundo, haja vista a alta audiência mundial dos desfiles carnavalescos cariocas.

Bandidos como Obiang utilizarem-se deste tipo de recurso para se promover e sair lucrando, não tem nada de novo, temos em nosso país diversos esquemas de favorecimento ilícito de empresas privadas (como a eterna dívida global com o leão do Imposto de Renda). O que me chama atenção, entretanto, são os meios de comunicação só divulgarem este absurdo na semana dos desfiles, ou seja, quando tudo já está pronto, a comunidade (em sua maioria inocente) envolvida na construção do desfile dentro do barracão e os contraventores de sempre se fingindo de santos.

Pode não ser ilegal receber dinheiro de ditaduras sangrentas para financiar as escolas de samba, mas minimamente é imoral. Isto precisa ser repensado, não se deve ser contra a presença e as doações das empresas privadas e mesmo de estados nacionais para financiar o carnaval, mas tudo tem um limite. Esconder a miséria de um povo em troca de migalhas em forma de dinheiro não pode ser considerado correto. É necessário que a Liga das Escolas de Samba tome alguma providência urgente em relação ao ocorrido.

Obviamente que caçar o título da Beija Flor não faz sentido, afinal a doação feita era permitida. O que se precisa lutar é para que este tipo de situação não se repita, pois culpar toda a comunidade de Nilópolis por ter aceitado este enredo é o mesmo que confundir a resistência do oprimido com a violência do opressor.

Combater o crime organizado presente em uma das principais formas de manifestação cultural do país é fundamental, mas proibir doações e patrocínios de regimes genocidas é urgente, ou se acaba com isso na raiz da questão ou logo veremos desfiles patrocinados pelos países islâmicos ou pelo estado fascista de Israel.

É hora de repensar para onde está indo nosso Carnaval. Urgente!

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