Quem ganha governa, quem perde faz oposição

Enquanto a máxima de que os que ganham governam e os que perdem fazem oposição não for levada a sério, nós seremos obrigados a conviver com a fisiologia como marca predominante das relações politicas em todas as esferas da administração pública, seja no plano federal, estadual ou municipal.

E essa prática elementar de convivência democrática não será executada por desejos e apelos subjetivos. Só poderá ser efetivada quando a forma de eleição desse país passar por profundas alterações, que vão do fim do financiamento empresarial das campanhas eleitorais – base do grosso da corrupção a que se assiste no momento – à votação em programas, onde o parlamentar ou o executivo eleito tenham obrigação legal (e não apenas moral como é hoje) de executar as propostas que eventualmente apresentaram durante a campanha eleitoral.

Passaríamos a ter uma eleição onde o eleitor escolheria, por exemplo, entre um programa neoliberal, conservador (privatizações, favorecimento dos banqueiros através de juros altos, supressão de direitos sociais, redução crescente do papel do estado, etc.) ou uma pauta progressista, de esquerda, onde o investimento em infraestrutura fosse tratado quase como uma obsessão; a distribuição de renda fosse uma constante; a elevação da qualidade dos serviços públicos se transformasse em regra; e onde a expansão produtiva do campo e da cidade fosse a tradução da elevação permanente do padrão de vida de nossa gente.

Como a votação seria programática (num partido, numa plataforma) e não em pessoas, qualquer parlamentar teria compromisso real e legal com as propostas em torno das quais se elegeu, sob pena de ser substituído pela ordem estabelecida. E o eleitor, depois de certo tempo, não teria dúvidas de qual programa melhor atenderia suas expectativas.

Ninguém é obrigado a participar de um determinado governo. Mas, ao participar do governo, o mínimo que se pode esperar daqueles que eventualmente o integram é que sejam capazes de executar seu programa e tenham compromisso com os seus objetivos.

O que nós acabamos de assistir na eleição da Câmara dos Deputados vai na contramão dessa lógica. O espaço aqui não seria suficiente para elencar as causas dessa “insurgência”, cujo alcance vai da subjetividade de que alguns aliados “são um poço até aqui de magoas…”, até razões bem mais objetivas, como a disputa por mais espaço no governo e, o mais grave, aberta divergência com o conteúdo programático do governo que integram.

Se têm divergência programática não deveriam integrar o governo e o governo não deveria patrocinar com estruturas bilionárias “aliados” de ocasião, que são incapazes de assegurar a governabilidade do próprio governo. Uma base mais ideológica é a saída.

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