Qual a pauta para dialogar com o movimento popular?

As forças progressistas, especialmente a esquerda revolucionária, têm diante de si dois desafios estratégicos interdependentes: desmascarar a pregação falaciosa da direita, para lhe tirar a iniciativa política; e apresentar uma pauta e uma prática capaz de dialogar e empolgar o movimento popular.

Não restam dúvidas de que a direita brasileira, apesar do novo revés eleitoral, tem adotado uma postura política ofensiva, expresso numa sistemática campanha contra as forças progressistas – o PT é apenas o alvo imediato – e num discurso falacioso, que não resiste a mais simplória confrontação com a sua prática cotidiana. Com essa combinação a direita tem conseguido arregimentar expressivo apoio nas camadas médias e até mesmo uma boa parcela das camadas populares, indicando que estamos perdendo a “guerra ideológica”.

De nossa parte é preciso reconhecer que não basta dizer que a direita é golpista, que os meios de comunicação, assim como o parlamento, o judiciário e o conjunto da máquina estatal são instrumento de dominação da classe dominante. Pelo seu caráter de classe esses “instrumentos” jamais, em caráter duradouro, se colocarão ao nosso lado.

Os que eventualmente tinham alguma ilusão teórica com isso é urgente que refaçam a sua leitura, sob pena de se prostrarem apaticamente diante do inimigo imaginando que a direita tem “razão” na sua hipotética cruzada moralista. A direita tão somente luta, por todos os meios e recorrendo a todas as formas inescrupulosas para voltar ao comando do país. Não tem pretensão de combater a corrupção e muito menos punir os seus empresários pilhados no rumoroso caso Petrobras.

De outro lado, repito, não basta constatar. A contraofensiva progressista só é possível adotando uma pauta claramente progressista e adotando uma prática que não deixe dúvidas quanto ao zelo pela coisa pública e a capacidade de gerenciar adequadamente os serviços públicos em beneficio das camadas populares, dos segmentos médios e dos próprios empreendedores nacionais. Isso não só é possível como urgente.

Aprimorar os mecanismos de controle dos gastos públicos; aumentar a qualidade e a eficiência dos serviços públicos para assegurar atendimento adequado à população e ao mesmo tempo desonerar os que hoje são obrigados a pagarem privativamente por esses serviços; ampliar a transparência popular para intimidar os que eventualmente teimem em confundir o bem público com o privado; e adotar ainda mais rigor na punição dos que transgredirem as normas legais e morais, são, dentre outras, algumas dessas medidas inadiáveis para reabrir o dialogo perdido com o movimento popular.

E, persistir e radicalizar, na melhoria da distribuição de renda e geração de postos de trabalho; reduzir a jornada de trabalho; ampliar a oferta de crédito com juros baixos; por fim a roleta especulativa que hoje faz a festa dos que não trabalham e mais lucram; assegurar a universalização de serviços essenciais como moradia, educação, saúde, transporte público de qualidade e segurança; resolver em definitivo o impasse da reforma agrária para ampliar ainda mais a nossa capacidade produtiva; criar mecanismos reais que amplie no congresso nacional a participação das mulheres, dos índios, negros e trabalhadores; acabar com o financiamento (investimento) empresarial das campanhas eleitorais; assegurar ampla liberdade de expressão, garantindo financiamento e facilidades para que o movimento popular possa abrir suas rádios, jornais e televisões; profissionalizar as Forças Armadas; e incrementar o desenvolvimento científico e tecnológico para que não apenas possamos usufruir, por exemplo, da excepcional biodiversidade amazônica, mas, igualmente, dominar em profundidade todos os ramos do conhecimento, sem o que estaremos fadados a simplesmente assistir ao espetáculo – quando formos convidados – ao invés de promovermos o nosso próprio espetáculo.

Com esse tipo de pauta é possível retomar a ofensiva, desmascarar a direita e definir ainda mais claramente os campos nessa luta de caráter estratégico que estamos travando no Brasil.

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