Então é natal

Solidariedade, justiça, união, amor, doação, agradecimento, presentes, tudo isso nos remete ao natal. Há uma preocupação que as crianças vivam o natal, o ato de doação de roupas, brinquedos, doces reforça essa imagem, lembranças da infância, músicas, textos que trazem a idéia do espírito natalino em nossos corações.

Nesta semana, a notícia de um menino que não nasceu na manjedoura, nem será imortalizado nos traços finos e olhos azuis do pintor Michelangelo como um Messias europeu, me chamou atenção, por ter realizado feitos que podem, perfeitamente, ser considerado “milagre” para uma família negra nos dias atuais.

Mateus Silva Santos Costa, filho de pai negro (policial) e mãe negra (enfermeira), com apenas 18 anos, foi aprovado em seis Universidades Públicas no curso de medicina e, em diversas Faculdades privadas, escolheu a USP e já cursa o 1º ano.

O menino da Baixada Santista – SP, conta como realizou o milagre de ser a exceção entre os milhões jovens negros ou brancos do nosso País. O fato da família não poder pagar o curso medicina numa instituição privada, fez com que ele estudasse 8 horas por dia. Juntamente com a disciplina e o talento veio a oportunidade de ser bolsista num curso pré-vestibular de ponta, fundamental para alcançar seu objetivo.

Mateus reforça nossa tese, de que num país tão desigual a idéia de meritocracia é um engodo. O desenvolvimento e aproveitamento de talentos dependem de oportunidades. Quantas famílias negras brasileira podem oportunizar um filho estudando 8 horas por dia e ainda tendo o reforço de um cursinho pré-vestibular conceituado?

O milagre de Mateus, ou de outros jovens negros que burlaram os obstáculos das desigualdades sociais, influenciadas pelo racismo, apontam que muito mais que roupas usadas, brinquedos e balas na infância, é necessário investimento. Nossa juventude precisa de oportunidades, como do jovem da Baixada Santista para que esse fato se torne algo corriqueiro e não um milagre natalino. Feliz natal.

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