Bons ventos dos EUA

Surgem nos últimos tempos muitas indicações de que algo está mesmo mudando pra melhor na sociedade dos Estados Unidos. O tradicional senso comum conservador, com aquele arrogante ar de superioridade, já não é mais a marca da juventude da maior potência global, pelo que é revelado na prática, em acontecimentos recentes.

Começa pelas manifestações que ocorrem de leste a oeste do país, contrárias à violência policial considerada racista. Na maior parte dessas marchas, a maioria dos participantes não é de negros e latinos, mas de jovens brancos filhos da terra, que num passado não muito distante estariam jogando pedras nos insurgentes.

Vale notar que, embora movidos por fatos reais de assassinatos de pessoas negras por policiais brancos, esses cortejos não objetivam a punição deste ou daquele policial, homem ou mulher, individualmente. O protesto é contra o sistema, que coloca o pobre, o negro, latino, árabe ou asiático como inimigos internos da nação. Isso vem das academias de polícia de lá.

Ao mesmo tempo, pesquisas de opinião revelam que a maioria da sociedade estado-unidense apoia a soltura de presos do verdadeiro campo de concentração que os EUA ainda mantêm na sua base militar de Guantânamo, em Cuba. O enclave que o país mantém em solo cubano, que é uma base militar, passou a ser um incômodo aos seus governantes, por pressão da sociedade.

Ao aceitar receber seis prisioneiros daquela base como refugiados, o governo de José Mujica, do Uruguai, sinalizou para outros países fazerem o mesmo. Ou seja, receberem alguns dos 136 cidadãos que ainda estão detidos lá, em condições desumanas, sem nunca terem sido julgados ou sequer acusados formalmente de qualquer coisa.

O fato é que aquela onda de que o “combate ao terrorismo” justificava qualquer ação dos EUA após o 11 de setembro já não cola mais. É claro que as poderosas forças conservadoras, que incluem a indústria de armas, pressionam o presidente Obama para seguir guerreando. Invadir a Síria, por exemplo, seria a glória, no momento.

Ademais, o caso de Guantânamo tem um contencioso para Obama, pois ele prometeu, já na sua primeira campanha à presidência, que iria desativar a prisão daquela base. É certo que, quando ele assumiu, no primeiro mandato, constava haver 176 presos lá, e agora são 40 a menos, até porque vários morreram vítimas das torturas ali praticas desde a época de George W. Bush, o criador da maldita prisão.

Mas, há outras manifestações de desacordo com o estado da vida nos EUA por parte da sua juventude. Uma recente pesquisa do jornal New York Times, com um instituto especializado em investigações sobre o comportamento humano, queria saber quais as dez coisas que o jovem daquele país gostaria de ter.

No resultado final, para surpresa de todos, entre as dez preferências do público investigado, não aparece o automóvel. A conclusão de analistas contratados pelo jornal é a de que o reinado do carro particular é coisa do passado no país. O sentimento do coletivo, do transporte público, já é mais forte.

É claro que as classes dominantes ianques resistem ferozmente a qualquer mudança, e estão de olho nas próximas eleições presidenciais, mas vão ter que respirar esses novos ventos.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor