Como iludir o povo

Há 95 anos Lênin pronunciou um de seus mais brilhantes discursos – publicado meses depois com o título “Como iludir o povo com os slogans de liberdade e igualdade -, em que travou renhida luta contra aqueles que inflamavam o povo, principalmente os camponeses, introduzindo “sub-repticiamente por meio de palavras ocas e altissonantes sobre liberdade e democracia” a confusão e a desordem.

“Arranquem a máscara desses lobos disfarçados de cordeiros, que vos embalam com belas palavras como liberdade e igualdade (…)” e que na prática defendem a liberdade para os patrões oprimirem os trabalhadores e a igualdade entre os que comem e aqueles que passam fome, alertava o líder da Revolução de Outubro. Ainda segundo Lênin, “a liberdade e igualdade no sistema burguês e na democracia burguesa, serão meramente formais, o que significa, na realidade, escravatura salarial para os trabalhadores (que são, formalmente, livres, gozando, formalmente, de direitos iguais), todo o poder para o capital, e opressão do trabalho pelo capital”.

Hoje, a cantilena da direita continua a mesma. E a prática também. O que assistimos nessa última semana no Congresso Nacional, com parlamentares da oposição ao governo Dilma usando a tribuna para defender a liberdade e a democracia, é a repetição desta velha história de jogo de cena demagógica daqueles que apostam justamente no aprisionamento do país aos agiotas internacionais e à ditadura do capital.

Todo cidadão é livre para acompanhar a votação de qualquer projeto. Inclusive esse importante Projeto de Lei do Executivo que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias para “abater do cálculo do superávit primário as desonerações tributárias e investimentos nas obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)”. O que as forças populares e progressistas repudiam é que em nome da democracia e da liberdade se use de expedientes típicos da ditadura, como agressões físicas e verbais, dentro dessa chamada “Casa do Povo”, para fazerem valer suas vontades na base do “custe o que custar”.

Ainda mais absurdo é o fato de que, ironicamente, quem vem defender com o dedo em riste a liberdade de manifestação são aqueles mesmos que têm largo histórico de repressão aos movimentos populares. Talvez quem não é de Minas não saiba, mas o tradicionalíssimo 21 de abril comemorado na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, berço da Inconfidência Mineira, teve acesso negado ao povo a partir do governo Aécio Neves. Nenhum outro governo ousou a contrariar a célebre passagem poética de Castro Alves de que "a praça é do povo como o céu é do condor".

Todo dia 21 de abril em Ouro Preto havia massiva participação dos estudantes, trabalhadores, religiosos, camponeses e diversos segmentos da sociedade que protagonizavam o ato comemorativo na famosa praça onde Tiradentes teve sua cabeça exposta.

Mas essa tradição democrática foi quebrada por Aécio que, a partir de seu primeiro governo, botou a Polícia Militar de Minas (a mesma que leva em seu emblema a figura do alferes e mártir Tiradentes) para cercar e impedir a entrada do povo às festividades. O 21 de abril, a partir dos governos tucanos em Ouro Preto, só recebe autoridades convidadas pelo Governo de Minas, com o povo apartado a quilômetros de distância.

E o mais inacreditável é que esse mesmo cidadão tem a cara de pau de vir a público defender a participação "popular" nos atos de vandalismo na Câmara dos Deputados. A liberdade que Aécio defende é a liberdade em se ofender e agredir, o que não combina com a tradição democrática do povo brasileiro e vai totalmente à contramão da legítima liberdade de expressão cerceada por ele durante os seus oito anos de (des)governo.

Por essas e outras continua atualíssimo o pensamento de Lênin: “a liberdade é uma fraude se está em oposição aos interesses do Trabalho da opressão do Capital”.

Referência: Lênin, V.I. Como iludir o povo – Coleção Bases 11. Global Editora. São Paulo/SP. 1979.

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