Cabeça de planilha

Salzburgo, na Áustria, é uma cidade cara e elegante. Foi lá que em maio de 1975, no auge da ditadura militar, Mário Garnero organizou, por conta da Anfavea, o famoso Seminário de Salzburgo com a finalidade de atrair investimentos privados para o Brasil.

Todos os expositores se esmeraram em entoar loas à política econômica do governo, como era de se esperar e enfatizaram as enormes facilidades criadas pelos militares às empresas estrangeiras e o controle social férreo garantido pela ditadura. Direitos humanos, nem pensar!

A cúpula econômica do governo brasileiro compareceu em peso, com a aquiescência e cobertura dos principais veículos de comunicação impressa nacionais e regionais. Luís Nassif, pela Veja, Joelmir Beting, pela Folha e Cláudio Marques (o delator de Vlado Herzog) do DCI eram alguns dos 27 jornalistas brasileiros presentes.

Foram três dias de faustosa boca livre que encantaram os 314 “delegados” brasileiros, além das autoridades e os 1.102 convidados estrangeiros.

Mas o quero relembrar deste acontecimento é a espantosa declaração de um dos mais afogueados cabeças de planilha da histórica econômica brasileira.

Refiro-me ao então ministro da Fazenda, Mario Henrique Simonsen que em sua exposição sobre as facilidades no Brasil para os investimentos estrangeiros citou as três medidas tomadas pela “revolução” para neutralizar a inflação: política salarial, ampla correção monetária e sistema de minidesvalorização.

Sobre a política salarial, de arrocho, o ministro destacou a importância da fórmula para reajustar salários que simplificava e destraumatizava os reajustes nos dissídios coletivos (sic) que “não são mais decididos na base de greves e pressões, mas com um rápido cálculo matemático”.
Na versão que passou à história Mario Henrique é bem mais taxativo: “o governo brasileiro substituiu a luta de classe por uma elegante fórmula aritmética”.

Os cabeças de planilha são incorrigíveis e quando podem causam grandes estragos.

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