A Colômbia precisa que pare a guerra, não o diálogo
O processo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) e o governo do país passa por séria turbulência, a rigor um impasse, no momento em que completa dois anos.
Publicado 20/11/2014 08:00
Foi precisamente em novembro de 2012 que, num gesto revelador de sabedoria, as duas partes decidiram iniciar os diálogos de paz em Havana, Cuba.
O que motivou a suspensão das conversações foi a captura, pelas forças insurretas, do general Ruben Dario Alzate, comandante de uma Força Tarefa do exército colombiano, o oficial Jorge Contreras e a advogada a serviço da força militar, Glória Urrego. O governo do presidente Juan Manuel Santos, numa dura reação, fixou a posição de só retornar aos diálogos com a libertação dos sequestrados.
Imediatamente após a captura do general e seus auxiliares, as Farc emitiram um comunicado oficial reiterando a necessidade do cessar-fogo bilateral e permanente e o compromisso de respeitar a vida e a integridade dos prisioneiros.
O nefasto episódio ocorreu num quadro em que, transcorridos dois anos de diálogos de paz, nunca foi decretado um cessar-fogo bilateral e permanente. É um contrassenso manter uma situação de confrontação militar aberta, com mortes dos dois lados e outras consequências para a população, ao mesmo tempo em que as representações da guerrilha e do governo dialogam na busca de um entendimento sobre como alcançar a paz e pôr fim ao conflito de mais de 50 anos que dilacera o país.
As convicções renovadas em tantos episódios positivos nos últimos dois anos em torno da necessidade da paz certamente prevalecerão e as partes encontrarão mediante o entendimento, os meios e modos de solucionar os problemas gerados pela detenção de Alzate, Contreras e Urrego. Já se chegou a um consenso maduro na Colômbia e decerto em toda a América Latina de que é a guerra que tem de ser suspensa, na verdade terminada, e não os diálogos de paz.
Em dois anos de diálogos de paz, os entendimentos avançaram muito. Um retrocesso nesta altura é impensável e inadmissível. Já foram firmados acordos parciais sobre a reforma agrária, a participação política das Farc-EP e a elaboração de uma política sobre as drogas ilícitas. No momento em que os diálogos foram suspensos, as partes beligerantes desenvolviam conversações sobre os direitos das vítimas da guerra.
O povo colombiano, os partidos e movimentos de esquerda e representativos dos interesses nacionais e populares têm a expectativa de que o impasse se resolva o quanto antes, sentimento que percorre os partidos progressistas e movimentos sociais em toda a América Latina. A paz justa e democrática na Colômbia é fundamental para este país e simultaneamente cria um ambiente ainda mais favorável para o desenvolvimento da luta democrática em toda a região.