Liberal democracia, reação ao comunismo (parte 2)

Para transcender os movimentos revolucionários de seu tempo, os socialistas utópicos, anarquistas e defensores do pauperismo, que tinham em comum críticas aos Estados burgueses, Marx e Engels apresentam no manifesto comunista, escrito em 1848, a forma de se alcançar a “ditadura revolucionária do proletariado”

Sugerindo uma revolução do proletariado contra a burguesia industrial, onde surgiria, através de um sonho utópico, um governo dos trabalhadores, portanto, do homem comum (cf. Manifesto Comunista).

Com a ausência de resolução das contradições do Estado, o comunismo se desenvolveu muito enquanto crítica, pouco enquanto fato concreto. Esse manifesto tem, até hoje, enorme impacto no imaginário da humanidade, não obstante, seja lembrado por Schumpeter, Bobbio, entre outros, que demonstraram que os teóricos comunistas avançaram muito no campo da elaboração do partido, mas com poucas respostas a uma alternativa ao Estado moderno dentro do comunismo. Sendo neste sentido conclamadas soluções alternativas inspiradas por um Estado de transição ocorrido na Comuna de Paris de 1971 (Cf. Lenin, “O que fazer?”), como parca exposição sobre o tema, o que levou a polêmica entre Althusser e Poulantzas que revelou que teóricos como Marx, Lênin, Kautsky e Rosa Luxemburgo, não conseguiram dar respostas a forma adotada em um Estado democrático comunista. O fim do Estado, como alternativa, ainda não encontrou respostas no meio dos seres humanos, não por alguma falha das ideologias que tem esta intenção, mas porque a natureza humana não se revela preparada para auto-organizações com base na fraternidade universal.

Este conflito foi ampliado com a luta pelo sufrágio universal e com a ascensão do comunismo, levando os Estados a perseguições, prisões, assassinatos de lideres, resultando em um clima social instável na Europa da segunda metade do século 19.

O conceito de luta de classes e o avanço do debate sobre o comunismo, democracia e o liberalismo, todos em oposição ao totalitarismo, avançou após o choque crítico provocado pela análise de Karl Marx sobre a exploração do trabalho, Mais Valia, e outra descobertas que reforçam as lutas dos trabalhadores e fundam as bases para os movimentos operários de massas organizados (BOBBIO, Norberto et al. In: Dicionário de Política, 2007, p. 782). Os partidos de massas comandados através do centralismo democrático, termos primeiramente utilizado por Lenin em 1905 (BOTTOMORE, 1983), são altamente influentes como forma de organização política que conhecemos no nosso tempo, portanto, transcendendo os partidos comunistas, criando bases usadas pela maioria dos partidos.

Ainda que a luta tenha se organizado, e a busca por direitos tenha avançado, entre o comunismo e soluções paliativas que foram ofertadas pelos Estados, o que se desenvolveu foram novos sonhos através das promessas de participação no sufrágio eleitoral. A democracia prometida não veio, muito menos o comunismo e a “Ditadura do Proletariado”, que seria entendida pelos seus defensores como uma forma positiva de governo.

Porém, foi justamente a análise dos limites do poder do Estado e do Capital sobre a população, inaugurados pelo conceito de luta de classes e com o avanço do comunismo, fortalecendo as bases dos movimentos operários de massas organizados (BOBBIO, 2007), que inspiraram reações que promovem, em oposição, o avanço da democracia e do liberalismo e a queda do totalitarismo e das monarquias. A origem do avanço da democracia dos modernos requer que sejam nominados seus antecedentes nas revoltas populares, mais do que nos ideais iluministas.

Foi através da formação de conselhos de operários que, segundo os teóricos marxistas, teriam sido órgãos embrionários de governos revolucionários, que se consolidaram as esferas de desenvolvimento de práticas democráticas, onde os delegados realizavam o desejo daqueles que eram representados, origem da prática participativa. Enquanto no iluminismo e liberalismo, a democracia ocorreria exclusivamente através da escolha de líderes através do voto censitário e, posteriormente, universal. Um engodo, onde o cidadão não participa das decisões, mas “escolhe” quem decidira pela maioria, o que ocorre no geral em benefício das minorias.

Após a revolução industrial, ascensão dos Estados Nacionais e perda da força da igreja, a democracia passou a ser incorporada pelos teóricos e pelo corpo político positivamente apenas com ascensão de Repúblicas totalitárias. Com a ampliação das forças sociais, após as revoluções de 1848 e 1871 na França, a partir do avanço das ideias do anarquismo em Proudhon e do comunismo em Marx (COGGIOLA. In: O Capital Contra a História, 2002, p. 47-66), com medo da ascensão do comunismo, surgem ideias que influem na adoção dos regimes pseudodemocráticos, a exemplo do social-liberalismo em Mill, dando maior sensação de participação e de benefícios aos trabalhadores, uma forma de impedir as revoluções.

Diante das forças sociais, as nações do velho continente, com apoio da igreja católica através do RERUM NOVARUM (1891), começam no final do século 19 a buscar alternativas para ampliação de direitos civis como forma de impedir os avanços do comunismo (AZZI. In: O Concílio Vaticano II, p. 17). Portanto, Estados e igreja, ao tentar impedir o avanço de um governo popular, sugeriram mais direitos aos trabalhadores, tais quais direito a voto, a regulação do salário e tempo do trabalho, da dignidade, e até mesmo o direito a tentativa de obter alimento e felicidade. Questões básicas que os trabalhadores atuais ignoram a origem na luta de classes e, em especial, nas medidas defendidas no manifesto comunista de 1848. Os Estados, ao invés de promoverem plenos direitos, ofereceram migalhas para silenciar as massas. Assim surgem os valores deturpados das democracias modernas, não pela igualdade e fraternidade ampla, mas pela distribuição de um voto a cada cidadão, e que este descubra o que fazer com a cédula na urna.

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