Saudades da ditadura

É deveras preocupante a campanha anti-PT que permeia o discurso do candidato Aécio Neves desde o primeiro turno das eleições presidenciais. Não precisa ser petista nem cientista político para identificar uma pesada (e perigosa) carga ideológica nesse discurso que circula na grande mídia e nas redes sociais da Internet.

A começar pelos verbos utilizados, que são “banir”, “extirpar”, “eliminar”, “excluir”, “dissipar” e outros sinônimos muito ao gosto das ditaduras mais ferozes, como a nossa, instalada com o golpe de estado de 1964. E não precisa ter vivido aqueles anos, como eu vivi, para sentir na alma a dureza do vocabulário, pois os livros de História mantêm viva essa triste memória.

É um linguajar que lembra com vigor as publicações e falas nazifascistas da Europa do século passado, especialmente da Itália de Mussolini e da Alemanha de Hitler. A ascensão das forças de direita dos dois países, logo após a 1ª Guerra Mundial, se deu com o argumento de que os democratas teriam sido responsáveis pela derrota no conflito contra a aliança Inglaterra-França-Rússia.

Os regimes ali implantados a partir de 1919 foram extirpando, banindo, excluindo, eliminando ou sumindo com as organizações democráticas. Junto com isso, veio a perseguição a personalidades de esquerda e, no caso alemão, às comunidades sionistas e eslavas.

Vale chamar a atenção, contudo, para o fato de que esses embates ideológicos podem ser travados, com igual perversidade ou raiva, em regimes democráticos, como o que vigora em nossos dias, no Brasil. Não precisa ir longe para termos exemplos desse banimento de ideias por parte das forças conservadoras, basta relembrar a cassação da bancada comunista, em 1948.

A Assembleia Constituinte eleita em 2 de dezembro de 1945, após a 2ª Guerra e o fim do Estado Novo, contava com 14 deputados e um senador (Luiz Carlos Prestes) do Partido Comunista do Brasil, que usava a sigla PCB. Na mesma data, houve eleições presidenciais, que levaram ao poder o presidente Eurico Gaspar Dutra, num regime democrático que a Constituinte iria dar forma.

No entanto, com o argumento de que a expressão “do Brasil” significava que o partido era braço de uma organização internacional, a agremiação foi extinta, banida, extirpada em maio de 1947. Mas seus membros mantiveram os mandatos até janeiro de 1948, quando foram também cassados.

Além do senador Prestes, a bancada de deputados comunistas contava com personalidades de renome nacional, como o escritor Jorge Amado. Todos foram para a geladeira e isso foi apresentado à sociedade como algo normal numa democracia.

Contudo, ali já estava presente, nas cabeças conservadoras, o espírito golpista, que perpassou o novo governo de Vargas (e seu suicídio), a transição e depois os governos de JK, Jânio e Jango. Até o golpe de 64, que implantou uma ditadura mais formal, digamos.

As marcas dessa parte da nossa história são os tais verbos de exclusão, não de soma, de inserção.

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