Pintando a nova educação

A cidade de Manágua, na Nicarágua, sediou o 17° Congresso da Organização Continental Latino Americana e Caribenha de Estudantes, a Oclae, entre os dias 17 e 21 de agosto. O país dos lagos e vulcões, que gestou gigantes do porte de Sandino, Carlos Fonseca, Tomás Borges e Ruben Darío, abrigou mais de três mil estudantes de 21 países da América Latina, América do Norte e Caribe, sob o lema “Pintando a nova educação, unidade e transformação”.

O congresso fez parte das comemorações do centenário da União Nacional de Estudantes da Nicarágua (Unen), dos 50 anos da Federação de Estudantes Secundaristas (FES), e do 35º aniversário da Revolução Sandinista. O evento contou com representantes das três organizações estudantis brasileiras: Ubes, UNE e ANPG.

O último congresso da Oclae realizado na Nicarágua foi no ano de 1983, durante o primeiro governo sandinista. De lá pra cá muita coisa mudou no país. Os sandinistas foram derrotados nas urnas em 1990, para voltarem ao poder, através do voto, apenas em 2006. Desde o retorno de Daniel Ortega à presidência da nação, é muito perceptível a prioridade dada ao ensino no país.

Boa parte das atividades foi realizada no remodelado campus da Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua, a Unan – que tive a oportunidade de conhecer em 2006. Hoje há um prédio recém construído que leva o nome de Rigoberto López Pérez – figura emblemática entre os sandinistas, e várias outras instalações que abrigaram a maior parte dos painéis sobre os variados temas. Chamou atenção também as instalações da Universidade Nacional de Engenharia que acolheu centenas de estudantes em outros debates.

Como sempre, esses congressos estudantis são ricos espaços para se discutir múltiplos assuntos e promover o congraçamento dos variados movimentos sociais que compõem o rico espectro de organizações do nosso continente. Um dos temas mais recorrentes da programação oficial foi justamente sobre as transformações por quais passam boa parte dos países do continente que contam atualmente com governos progressistas à frente. Mudanças sociais, políticas e econômicas que refletem diretamente na educação.

Infelizmente, me impressionou o pouco conhecimento da maioria dos delegados presentes sobre as profundas mudanças que vêm ocorrendo na educação brasileira. Participei de uma conferência sobre o ensino técnico com mais de cem participantes e ninguém sabia que dobramos o número de estudantes universitários nos governos Lula e Dilma. Tampouco ouviram falar das ampliações das universidades brasileiras e nos mais de 250 campi de Institutos Federais criados nos últimos anos. Desconheciam a aprovação dos 10% do PIB para educação, o Ciência sem Fronteiras e outras importantes conquistas obtidas pelos brasileiros com os governos Lula e Dilma.

Preocupante essa falta de informação. Em parte isso é devido ao cerco midiático dos grandes meios de comunicação, mas, por outro lado, evidencia certo complexo de vira-lata de setores da esquerda e movimentos sociais do Brasil que enxergam sempre a grama do vizinho mais alta que a sua. Claro que não se trata de uma disputa para ver qual governo é mais “revolucionário” que o outro. Pelo contrário, apenas reivindico um maior reconhecimento dos grandes êxitos alcançados na política educacional no maior e mais populoso país do continente latino-americano que influencia positivamente todos os demais países.
O Brasil está inserido nesse quadro de mudanças progressistas e merece ser mais valorizado. Vivemos processos, realidades e etapas diferentes no continente, mas certamente o quadro atual não seria tão alvissareiro caso o Brasil estivesse ainda sob a égide do neoliberalismo.
Por isso, marchamos unidos. Cada qual no seu passo. Sempre em frente na luta por avanços sociais, econômicos, políticos e educacionais. Parabéns à Oclae e todos os estudantes latino-americanos.

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