Oportunismo e “não-ideias”

“O ganho real do salário mínimo será mantido”. Quem lê uma frase desta solta no ar, logo imagina a coisa cuja essência responde por si. É evidente que a lógica do progresso social no Brasil demanda a manutenção de direitos sociais e status quo político conquistados ao longo do tempo. Será mesmo?

Quem lançou mão desta frase foi o candidato da oposição, Aécio Neves num programa de entrevistas ocorrido no mês de maio. Parece estranho o candidato que diante de um público de extrema-direita (“Fórum da Liberdade”, ocorrido no mês de abril último), vocifera contra o Estado, a política externa e o papel do BNDES ao mesmo tempo promete algo que somente um Estado forte é capaz de fazer.

É importante dizer isso, pois em meio a uma crise externa consolidada e uma campanha de desconstrução, a partir da mídia, interna e clara tentativa de colocar o governo nas cordas, manter uma política social ativa é no mínimo uma obra de gigante. Obra de um Estado nada pequeno.

É por obra deste tipo de prática que a política oposicionista acaba perdendo a credibilidade. Neste aspecto, a direita brasileira é bem interessante. Seus equívocos acabam transformando a política como um todo em um senso comum, do tipo “todos são iguais”. Já quando os equívocos são cometidos por conta das experimentações de governo do campo popular e democrático, a esquerda passa a ser responsável por tudo de ruim que acontece.

O oportunismo mora ai. Como governamos para o povo e o povo reconhece que acertamos, a direita intenta em absorver nossas conquistas. Somente no discurso. No concreto é o que vimos nos dois governos FHC: arrocho salarial, abertura comercial indiscriminada, exportação massiva de empregos e força bruta contra o movimento social. O fundo desta prática vai de encontro ao papo de “manutenção do ganho real do salário mínimo”. Simples, sem ser simplista: impossível isto diante da superdimensionamento da estabilidade monetária incutida no pensamento tucano.

Não se acende uma vela para deus e outra ao diabo. As ideias deles são gastas, testadas e reprovadas. Nada de novo, a não ser a maluquice documentada no programa de governo do PSDB de dispor ao Banco Central uma autonomia operacional sob o acicate de colocar a inflação no “centro da meta”, ou seja, 4,5%.

Ideias gastas tornam-se ao longo do tempo verdadeiras “não-ideias”. A saída desta oposição é vestir o manto do oportunismo, mentir, dissimular, assaltar subjetividades. São especialistas em transformar mil mentiras numa sólida verdade. Estado Mínimo não combina com povo, direitos, emancipação. Não combina com o PSDB e tudo que essa sigla, e seus aliados representam: a essência do antinacional e o antipopular. De Silvério dos Reis a Filinto Müller. De Carlos Lacerda, FHC e Aécio Neves.

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