A mídia e o Brics

Dois eventos de enorme importância mundial que ocorreram no Brasil semana passada mereceram um tratamento ridículo da grande mídia tupiniquim. Já que ignorá-los completamente era difícil, essa mídia fez o que pôde para tentar ridicularizar os encontros que reuniram 17 chefes de estado de todos os continentes, algo pouco comum no País.

Alguns jornalões chegaram ao cúmulo de publicar pré-fotos dos cinco presidentes dos países do Brics, batidas quando esses ainda se ajeitavam para a pose fotográfica. Isso, é claro, gera no leitor uma sensação de desorganização, de bagunça. E quebra a ética jornalística, que nesses eventos assegura uma postura alinhada.

Os textos e falas, por sua vez, tentaram minimizar as decisões tomadas, que são históricas. O BRICs deixou de ser apenas um bloco político para ganhar forte peso econômico, forçando o caminho para a busca de uma nova ordem mundial, há muito pleiteada pela maioria das nações em conclaves mundiais.

Em nenhum momento, os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ostentaram postura hostil aos Estados Unidos e seus aliados na Europa. Apenas apontaram novos caminhos.

Mas a grande mídia brasileira, que age como uma extensão de Washington, achou por bem ironizar (ou hostilizar) não apenas eles, mas também os outros 12 chefes de governo e de estado, latino-americanos e caribenhos, convidados para os eventos de Fortaleza (CE) e de Brasília (DF).

As decisões por eles tomadas, de criar um novo banco internacional e um fundo alternativo de desenvolvimento, foram tratadas com descaso, como se fossem ingênuas, aventureiras. Na realidade, contudo, foram tão relevantes quanto aquelas da Conferência de Bretton Woods, que criou o Banco Mundial e o FMI, em 1944.

O Novo Banco, como foi batizado, terá inicialmente U$ 50 bilhões para seu caixa, vindos U$ 10 bi de cada um dos membros, a serem integralizados em alguns anos. E o fundo terá U$ 100 bilhões, a maior parte (41%) vinda da China e o restante rateado entre os outros 4 brics, num total de U$ 18 bi cada.

Ademais, para o Brasil, foi um momento de grande importância, não apenas por ser o palco dessas decisões, mas por ajustes bilaterais que foram feitos. Com a China, principalmente, com cinco dezenas de documentos assinados, que mudam as relações com a potência asiática.

Deixamos de ser exportadores de minérios e grãos e compradores de produtos industrializados daquele parceiro, numa relação desigual. A venda de 60 aviões de médio porte da Embraer e a reabertura do mercado chinês de carne bovina são dois exemplos. E a China vai reduzir subsídios de produtos industrializados que vêm pra cá.

No campo da infraestrutura, foi criada uma linha de financiamento que irá bancar a construção de portos, ferrovias, rodovias e projetos de mobilidade urbana a custos benevolentes. Aliás, empresas chinesas já estão em consórcios de grandes obras no Brasil e países vizinhos.

Nas relações internacionais, também, o Brics ganha uma nova dimensão, especialmente nos conflitos do Oriente Médio. Sempre lembrando que China e Rússia fazem parte do Conselho de Segurança da ONU, fórum em que o Brasil há muito pleiteia uma cadeira.

E vale lembrar, também, que foi a posição russa, apoiada pela diplomacia brasileira, que recentemente impediu a invasão da Síria por tropas da Otan, como já havia ocorrido em outros países da região.

Sem falar que a nova ofensiva de Israel sobre territórios palestinos exigem providências urgentes, antes que os genocídios de espraiem ainda mais.

Portanto, queira a nossa grande mídia ou não, é uma nova correlação de forças que começa a surgir, sem conteúdo belicista.

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