Sobre o que não se elabora

O assunto não é política, economia. Nem tampouco algo ligado a alguma paixão futebolística. O duro é saber que nem sobre tudo é possível de elaborar. Interessante. A dor só é a dor porque não se pode elabora sobre ela.

Não se elabora. Somos seres com grande tendência à racionalização, o que só piora as coisas. Elabora-se sobre os motivos do sentimento. Os motivos existem, certamente. Porém, o apego a eles só aumenta o problema, colocando a contradição numa situação de óbice, de negação e impossibilidade de síntese. Tese e antítese confundem-se numa louca unidade de contrários.

Daí advém à confusão mental, a bipolaridade, a euforia e a depressão. A dor se multiplica nos reduzindo a um amontoado cinza e que acinzenta tudo ao redor. Logo, não tentemos elaborar sobre o que não se elabora. Se a dor é inevitável, que a sintamos em sua plenitude.

Sentir a dor na sua plenitude é uma atitude que guarda muito de processo. E é negação do sofrimento, troca do longo pelo curto prazo. É desafiador esse tipo de coisa quando tudo para nós tem caráter “estratégico”. Também é estratégico, pois temos a possibilidade de negar um futuro certo e deixar que o incerto, e bom, se achegue da gente.

Passar passa. Vai doer. Continuar doendo. Vai resistir ao novo por algum tempo. Mas o novo sempre vem. Deixa chegar. Oportunidade de experimentar a própria experiência.

Condicionar-se partindo de uma ampla crítica e autocrítica. Permitir a visão de conjunto. Passar passa. Vai doer. A bomba de Hiroshima não é condição objetiva para a paz.

A condição objetiva para a paz é o processo de aprendizado. Estou falando de coisas puramente pessoais e que faz parte da intimidade de qualquer pessoa que se habilita a viver. Qualquer pessoa que se habilita a não ter uma vida onde nascer e morrer é a única certeza.

O amor deve ser uma certeza. A paixão, aquela coisa que invade e nos entorpece. Aconteça o que acontecer, nunca devemos nos fechar em nós mesmos em nome da autopreservação. Sim, se retirar, preservar-se de armadilhas típicas da vida. É bom ser duro, mas é ótimo ter e sentir ternura.

Que algo impossível de se elaborar não deixe apagar o melhor da vida. Que o melhor da vida seja post ante ao que não se pode elaborar. Não é moral cristã. Nada disso, pois ninguém tem o céu garantido após um tempo de sofrimento. O céu só pode ser a vida e suas possibilidades. O céu se acinzenta, cai água de lá. Mas é passageiro.

Ainda bem que um dia não passa de 24 horas. O fardo deixa de ser fardo quando paramos se racionalizar sobre ele. A dor é a mesma coisa. Que se sinta, não se pense. Passa, passa, passa. Sempre é tempo de se recomeçar a gracejar pela vida. Como você é linda!
Falam que é dialético. Cada vez mais certo de que é mesmo dialético. Meio dialético…

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