Copa do Mundo e eleições: paixão e luta de classes

Nesses dias, bem a propósito, estamos vivendo o desenrolar da “copa que não ia ter” (sic) e do fechamento das coligações eleitorais, dois eventos que envolvem elevada dose de paixão, desnuda os distintos interesses de classe e impõe a todos os envolvidos a obrigação de certa racionalidade.

A paixão é um sentimento inverso à racionalidade. Nela pouco conta dados, argumentos e mesmo análise fria da realidade. Tal qual o mantra místico que assegura que “a fé move montanhas” a paixão nos leva a acreditar que o impossível sempre será possível. É isso que explica porque o torcedor de uma seleção sem qualquer tradição e com um time desprovido de talentos acredita que pode vencer – e às vezes vence – uma seleção campeã do mundo e cheia de estrelas.

A paixão igualmente nos impede de entender que a casualidade existe. É um fenômeno científico e, nesse caso, facilmente explicado por razões que nada tem a ver com sorte e sim por fatores lógicos, que geralmente ocorre quando um dos contendedores consegue um melhor acerto tático e o outro subestima o adversário. Essa combinação é fatal.

Por outro lado revela, sem meios termos, o lado que as distintas classes sociais tomam nesses confrontos. No jogo Portugal x Estados Unidos, realizado no dia 22, na Arena da Amazônia, seria de se esperar que a torcida local fosse predominantemente simpática à seleção lusitana, tanto pelos laços históricos quanto pela enorme colônia portuguesa de Manaus. O que se viu porem, é que apesar da maioria local torcer por Portugal as chamadas camadas médias, que geralmente desfrutam dos prazeres de Miami nos finais de semana prolongados, lotaram as arquibancadas e camarotes fantasiadas de Yankee. É a identidade de classe falando mais alto do que qualquer ancestralidade.

Por isso, igualmente, não se deve estranhar os movimentos políticos partidários dos últimos dias, quando as alianças começam a ter – com as exceções de praxe – maior nitidez ideológica. Essa é uma tendência irreversível e permitirá, em médio prazo, que se avance para a votação programática e não pessoal como hoje ocorre.

É por essa motivação básica que os campos vão se configurando e não por eventuais “maus tratos” por parte do governo, embora seja prudente destacar que alguns operadores do governo efetivamente contribuem para afugentar aliados. E haverá novas mobilidades se houver alguma perspectiva real de poder da direita neoliberal.

Cada vez fica mais claro que enquanto as forças progressistas querem mais avanços e novas conquistas sociais, esses aliados de ocasião não apenas não querem novos avanços como desejam refluir do patamar que já se alcançou, como a valorização real do salário mínimo. E nesse debate, da parte da direita, não há paixão, apenas a fria racionalidade dos interesses de classe.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor