Palestinos pedem a expulsão da Federação Israelense de Futebol

Recebemos desde a sexta, 6 de junho, uma delegação da Federação Palestina de Futebol. Eles chegaram em Cumbica às 16h30 e foram recepcionados pelo embaixador do Estado da Palestina no Brasil, Ibrahim Al Zeben. Vieram com uma missão clara: pedir a expulsão da Federação Israelense de Futebol dos quadros da FIFA.

A delegação veio composta por 17 pessoas, sendo chefiada pelo general Jibril Arjoub, que preside a Federação Palestina de Futebol, organização fundada em 1928 e que foi aceita na FIFA desde 1998. Como sabemos, a FIFA tem 208 federações membros da Organização (e a ONU 193 países!). O capitão da seleção palestina de futebol, Roberto (Peto) Kettlun estava entre os atletas que integram a delegação.

Fizemos uma pequena programação envolvendo essa delegação. A primeira e mais divertida, digamos assim, foi um jogo amistoso entre um combinado de brasileiros de jogadores de entidades que integram o Comitê pelo Estado da Palestina – CEP e um combinado de jogadores palestinos. O jogo ocorreu ás 16h deste domingo, 8 de junho, em uma das quadras do Playball da Pompeia. Os palestinos, claro, venceram a partida por 6 a 4. Mas, aqui duas explicações para esse parco resultado de gols do lado dos palestinos: eles jogam em quadra oficial e de grama natural e aqui jogaram em quadra para sete jogadores e com grama sintética. Ademais, apenas dois dos seus sete jogadores compõe a seleção oficial. De qualquer forma, os que assistiram gostaram muito do que viram. Os craques palestinos deram uma grande demonstração de afinidade com a bola.

Ainda organizada pelo nosso CEP, ajudamos que o ministro dos Esportes Aldo Rebelo, os receba, o que ocorrerá durante os trabalhos do 64º Congresso da FIFA, que ocorre nos dias 10 e 11 de junho, dias que antecedem a Copa do Mundo.

Por fim, eles nos pediram para convocar uma entrevista coletiva de imprensa. Nós fizemos isso, e ela ocorreu na segunda, dia 9 de junho, das 14h às 16h na sede do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. A atividade foi aberta pelo próprio presidente do SINJOR/SP, Guto, que fez uma saudação a todos os presentes e disse que a sua entidade integra o Comitê e apoia totalmente a causa palestina.

A mesa da coletiva, entre outras pessoas, foi integrada pelo embaixador Ibrahim, pelo general Jibril, pelo capitão Peto, pela Susan Chalabi, da executiva da Confederação Asiática de Futebol, que tem 55 federações de futebol a ela filiadas. Outras quatro pessoas também compuseram a mesa dos trabalhos.

O embaixador fez a abertura dos trabalhos e uma breve exposição sobre as denúncias que os palestinos vieram trazer à FIFA. Em seguida, com tradução consecutiva, falou o presidente da Federação Palestina de Futebol. Argumentou em favor da expulsão da Federação Israelense de Futebol dos quadros da FIFA, com base em diversos artigos da Organização. Dois vídeos em inglês foram apresentados, ambos mostram cenas de brutalidades cometidas por Israel e seu exército contra os futebolistas palestinas que são sistematicamente impedidos d praticar o esporte nacional na Palestina que é o futebol, que eles adoram e inclusive acompanham nossos campeonatos brasileiros e torcem para a nossa seleção vencer a Copa.

Cerca de 15 órgãos de imprensa e portais de Internet da chamada “blogosfera” compareceram. Ao final, aberto a palavra, diversas perguntas foram feitas. Os palestinos distribuíram dois adesivos pedindo liberdades para o futebol palestinos, camisetas e um livrete em três idiomas (árabe, francês e inglês), com quase cem páginas, ricamente ilustrado que relata e descreve as atrocidades que Israel comete contra os esportistas palestinos.

As violações que Israel comete

A farta documentação em três idiomas trazidos pela delegação palestina de futebol impressiona. O livro de 50 páginas veio em árabe, inglês e francês. Ricamente ilustrado com imagens que chegam a ser chocantes pela sua brutalidade e violência. Apresento aos meus leitores um pequeno resumo de tudo que lá está publicado:

1. Violações dos Direitos Humanos – aqui onde as maiores barbaridades e arbitrariedade são cometidas pelo exército de Israel e apoiadas pela Federação Israelense de Futebol. Prisões são feitas de forma indiscriminadas, arbitrárias. Atletas encontram-se encarcerados apenas por serem atletas palestinos, sem que tenham cometido nenhuma infração.

Mas, o que é pior. Vários atletas, alguns olímpicos, já foram assassinados e o livro mostra a foto de pelo menos cinco deles, do basquete, pentatlo e futebol;

2. Restrições à Circulação de Atletas – se já é extremamente difícil palestinos circularem em suas próprias terras, com os checkpoints montados por Israel, os atletas palestinos têm maiores restrições ainda. Eles sequer podem se deslocar para competições entre cidades e vilas próximas umas das outras.

Boa parte dos que conseguem passar nessas barreiras do exército, acabam chegando atrasados ás competições esportivas das quais participariam. Quando a participação palestina ocorre no exterior, ai é que as restrições se intensificam, fazendo com que muitas vezes os atletas palestinos tenham que cancelar suas participações.

Da mesma forma, Israel impede ou dificulta a entrada de atletas árabes vindos de outros países vizinhos para participar de competições organizadas pelas associações esportivas palestinas. Deslocar um atleta da Faixa de Gaza até a Cisjordânia é feito praticamente impossível de ser realizado.

3. Obstruções da Infraestrutura – aqui as restrições em outro campo. Israel tudo faz para impedir ou mesmo dificultar a construção de praças esportivas, mesmo que essas sejam financiadas por países amigos dos palestinos e mesmo pela FIFA, da qual a Federação Israelense de Futebol é filiada. Um dos estádios que seriam construídos com verbas da FIFA foi proibido por Israel pelo simples fato de “questões de segurança’ como eles alegam sempre.

As fotos do dossiê que os palestinos trouxeram, mostram diversas praças esportivas destruídas inteiramente, em especial as suas arquibancadas. Outras fotos mostram campos de futebol completamente inutilizados pela explosão de grandes bombas bem no meio do campo exatamente para que ele fique completamente inutilizado para uso;

4. Entraves para a aquisição e importação de materiais esportivos – sejam eles comprados por times e delegações esportivas palestinas ou doados por organizações estrangeiras e países amigos. Muitas vezes nada entra na Palestina quando se trata de materiais esportivos. Ou se entra, exige-se uma lista de pelo menos dez documentos. Retém-se as mercadorias de forma arbitrária com a única finalidade de impedir o livro exercício do desporto palestino.

O dossiê trazido pelos palestinos menciona a simples apreensão de materiais esportivos que duram meses para serem liberados, sem que estes ofereçam perigo algum para Israel. Pelo simples fato de criar dificuldades para a prática desportiva e tentar humilhar os palestinos;

5. Interferências políticas – Israel se julga no direito de dizer quem entra e quem sai nos territórios ocupados, mesmo os administrados diretamente pelos palestinos. Israel e seu exército dizem quem pode ou quem não pode jogar futebol ou praticar esportes. Um exemplo dessa arbitrariedade ocorreu em 2009 quando foi proibido de ser realizado em Ramallah um jogo do Flamengo contra o Corinthians.

A proposta palestina

Os palestinos usarão os estatutos da própria FIFA para pedir a suspensão da Federação Israelense de Futebol. Isso porque eles também têm depoimentos de dirigentes da FIF que defende abertamente a repressão aos palestinos, apoiam atitudes agressivas das torcidas israelenses e, portanto, praticam atos discriminatórios.

Vejam o que diz o artigo 2º dos estatutos da FIFA:

Art. 2 do Estatuto da Fifa

2.1 não deverá haver discriminação a um país ou a um indivíduo por razões de raça, religião ou política;

2.2 a associação que tolerar, permitir ou organizar competições nas quais a discriminação é praticada, ou que for estabelecida num país onde a discriminação no esporte for declarada em lei, não deverá ser admitida na FIFA, ou deverá ser expulsa se já for membro.

A FIF se enquadra exatamente neste artigo. Tudo que a FIFA proíbe os israelenses praticam, em especial a discriminação odiosa. Por isso o pedido de suspensão da FIFA até que cessem na palestina todas as violações aos direitos das práticas esportivas por atletas palestinos.

Assim termina o folder resumido que a delegação palestina trouxe ao Brasil: “pedimos que todos os delegados do 64º Congresso da FIFA apoiem a moção de suspensão da FIF da FIFA até que os futebolistas palestinos possam praticar o esporte que mais ama, sem que nenhum tipo de ameaça para as suas vidas, sem restrições aos seus deslocamentos, sem a destruição das facilidades esportivas, sem a intervenção nos seus assuntos futebolísticos ou violações de seus direitos humanos básicos aos quais estão resguardados por todas as leis humanitárias do planeta…Apoiem o simples direito dos palestinos jogarem futebol”.

Emocionante. Nada mais pedem do que o direito de jogarem o esporte que amam: o futebol! De nossa parte, dos brasileiros que também amamos muito o futebol, tenho a certeza de que os palestinos vencerão mais essa batalha no campo esportivo. Estamos com vocês.

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