Greve contra greves

A esmagadora maioria da sociedade brasileira quer ver os jogos da Copa do Mundo de Futebol e torce pela seleção canarinho. Para ver os jogos nos estádios, em casa ou em telões de rua com amigos todos vão depender de mobilidade, principalmente de transportes públicos. Se for preciso, vai haver greve na solidariedade a greves que venham a ocorrer no período.

Em verdade, rodoviários do Rio de Janeiro e vários outros pontos do País, metroviários paulistas e categorias afins há muito perderam apoio da população. Entrevistas feitas mídia demonstram isso com clareza, com hordas de cidadãos comuns se dizendo prejudicados pela ação de grevistas.

Embora essa seja uma amostragem aleatória, ao sabor das condições das reportagens, é muito expressivo o número de pessoas que se dizem insatisfeitas. E essa atitude, podemos dizer, é novidade, pois até poucos anos atrás havia um sentimento de solidariedade que era manifestado por cidadãos comuns em situações como essas.

E aí entram as pesquisas de opinião, com métodos científicos de amostragem e pequenas margens de erro. Tive acesso a algumas encomendadas por setores interessados (governos, empresas, universidades etc.). Essas enquetes têm demonstrado brutal queda de apoio de lideranças que se arvoram a ações que afetem negativamente a população. E isso vale para as manifestações de rua também, quando violentas.

Essa verificação nos leva a reflexões sobre o papel do sindicalismo nos dias atuais. O assunto já foi tema de música do compositor Bob Dylan há três décadas, mas por aqui ganha força agora. E a pergunta é a mesma: por quem falam os sindicatos de trabalhadores? E aí temos visto as mais diversas referências, que respondem muito bem.

A primeira constatação, quase óbvia, é de que essas entidades servem às pessoas ou grupos políticos que tomam conta delas. Mas a situação é mais profunda. Dois exemplos ilustram bem.

O sindicato dos rodoviários do Rio havia fechado um acordo, aprovado em assembleia da categoria, com empresários e governo. No entanto, um grupo insatisfeito, decretou uma greve sem a entidade e promoveu paralisações na marra, fechando garagens e vias públicas, danificando veículos e usando a força bruta para impedir colegas de colocarem o sistema em funcionamento.

Em São Paulo, a liderança do sindicato dos metroviários deixou as negociações com a empresa de metrôs e decretou a greve a partir de quinta-feira, dia 5. O apoio da própria categoria, porém, era visivelmente precário, de modo que foram necessários piquetes, armados em estações para impedir que seus colegas colocassem os trens em movimento.

Neste caso, os gestores do sistema concordaram em melhorar a proposta de reajuste salarial, a ponto de o sindicato ter aceitado o ajuste a que chegaram. Mas surgiu uma nova reivindicação: a readmissão de manifestantes demitidos por justa causa, a maioria por terem sido flagrados quebrando equipamentos públicos.

Em ambos os casos, ficou visível que os grupos grevistas não contavam com apoio nem de suas categorias, quanto menos da comunidade atendida pelos serviços paralisados. Voltamos então às perguntas: de que servem mesmo essas ações?

O pobre cidadão ou cidadã, que já padece com sistemas de transportes debilitados, acabam sendo vítimas de ações que tornam sua vida ainda mais penosa. Todos, no fim das contas, querem que os profissionais desses setores tenham melhor condição de vida, mas os meios para isso é que estão em discussão.

Talvez fosse o caso dessas entidades contratarem pesquisas antes de se jogarem em ações que são decididas em assembleias que reúnem pequenas parcelas das categorias. E que se preocupem em ter apoio não apenas de suas categorias, mas da sociedade envolvente, como agiam os sindicatos no passado.

De outra forma, caberá a quem quiser ver os jogos da Copa decretar greve de apoio a essas categorias, em sinal de protesto.

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