Não é ético transferir responsabilidades

O governo federal repassou para Manaus 1,4 bilhão de reais em 2013. A projeção para 2014 é de 1,5 bilhão, dos quais 378 já foram liberados até março. Mesmo assim o prefeito Artur Neto (PSDB) declarou ao jornal Em Tempo (24.05.2014) que “sua paciência com Dilma acabou”, reclamando que não recebeu os recursos esperados.

Ora, quem se elegeu para administrar Manaus e resolver seus problemas foi Artur Neto e não Dilma Rousseff. Não é moralmente correto, não é ético, atribuir a outros o eventual fracasso de algo que você tem obrigação de fazer, algo que é de sua inteira responsabilidade.

Quando eu assumi a Sepror (Secretaria de Estado da Produção Rural) e me deparei com um orçamento de menos de 0,5% do orçamento geral do Estado eu não mandei ninguém procurar o governador para resolver problemas específicos da Secretaria.

Com criatividade, racionalizando custos e fazendo parcerias, tornamos um setor que estava destruído, em fase de reestruturação, no setor de melhor desempenho do governo do Amazonas, segundo pesquisa da CNI/IBope (dezembro 2013).

Então, o que o prefeito de Manaus quer? Privilégios, tratamentos especiais. Por quê?

Segundo o portal da transparência os repasses federais para o município de Manaus em 2013 foram da ordem de 1,402 bilhão de reais. E de janeiro a março de 2014, o município já recebeu 378 milhões de reais, projetando uma transferência anual em torno de 1,512 bilhão de reais, ou algo como 763 reais por habitante.

Em termo comparativo, a cidade de São Paulo, administrada por Fernando Haddad (PT) e reconhecidamente um dos municípios mais problemáticos do país, recebeu no mesmo período de 2014 algo como 2,26 bilhão de reais, o que projeta uma transferência anual da ordem de 9,04 bilhão de reais, equivalente a 765 reais por habitante.

Uma simples conta aritmética deixa evidente que não há qualquer descriminação por parte da presidenta Dilma Rousseff em relação a Manaus, salvo se o delírio do prefeito lhe levar a acreditar que a presidenta estaria igualmente descriminando São Paulo – “a joia da coroa” que eles administram – para lhe assegurar tratamento especial.

Tudo indica que encerrada a fase da pirotecnia e da “generosa lua de mel” que o povo concede a todo administrador, é chegada a hora de mostrar o que efetivamente se fez em Manaus. E nessa hora o balanço é bastante precário. Fala por si mesmo.

Fora algumas ruas maquiadas, com recursos do governo estadual, não há o que mostrar. O transporte público e privado é caótico com o agravante que a prefeitura não consegue sequer exigir que os empresários paguem os direitos legais devidos aos rodoviários.

Talvez isso explique o desespero do prefeito.

O outro aspecto bem menos sutil é o seu desespero para construir um palanque para Aécio Neves. Tem obrigação moral de fazer, mas os meios até agora são precários. As principais lideranças do estado já declararam apoio a Dilma Rousseff; o PSB naturalmente se empenha para construir a candidatura de Eduardo Campos e até o DEM saiu de sua coligação e celebrou aliança com o atual governador José Melo (Pros), o que lhe deixa com a única alternativa de apoiar a candidata do PP, Rebeca Garcia – a quem até recentemente esnobava – ou reverter a decisão do governador Melo de apoiar Dilma e passar a apoiar Aécio, como retaliação pelo fato do PT apoiar Eduardo Braga (PMDB), seu concorrente direto. Essa hipótese, embora não seja absurda, enseja riscos enormes e único que vai pagar a conta é o próprio Melo e não Artur, razão pela qual pode até ser um bom negocio para os tucanos não para os “prosistas”.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor