Dr Lírio e o pijama do coronel

Em nossa última conversa que versou sobre a ditadura militar – aquela mesma que teve a duração exata de uma geração – lembramos que os canalhas produziram, em nome da “democracia” e com a ajuda de “movimentos” invocatórios de tradição, de família e de pro

Agora, estamos diante de um “documento”, que nos foi encaminhado por antigos “combatentes” da causa do ódio e da intolerância, contra a concessão da anistia e conseqüente reparação dos prejuízos de ordem moral e material que o banimento, o exílio, a tortura e a orfandade causaram a tantos brasileiros. O tardio instrumento da Lei da Anistia vem a reconhecer e a reparar esses hediondos crimes, e suas trágicas conseqüências, cometidos pelo estado brasileiro.


 


Quem, hoje, fala dos “Filhos da Mãe dos Anistiados Políticos, aqueles espertalhões comunistas, seqüestradores, assaltantes e assassinos que pretendiam tomar o poder pelas Armas nos anos 60” está tentando tapar o sol com uma fajuta peneira, escondendo o rabo e deixando de fora o antigo veneno destilado por suas ventas nos anos de chumbo. A verdadeira História já consagrou os verdadeiros espertalhões e filhos da mãe que tomaram o poder pelas armas nos anos 60. E deu no que deu: 20 anos de puro fascismo.


 


Esse coronel de pijama, que ainda trata o golpe militar, de triste memória, pelo nome de “revolução”, talvez não seja, hoje, um revanchista, um torturador, mas, as aleivosias que colocou em seu texto o credenciam para tal se o transportarmos de volta aos seus “gloriosos” anos de ditadura plena. Tanto, que afirma, lá pelas tantas, demonstrando seu perfil “não revanchista”, ao falar do governo do presidente Lula: “Não sei como sairemos de um novo governo desastrado, inconseqüente, sem ser pela força…” E, ainda, provavelmente com uma tardia fímbria de sangue a escorrer-lhe pelo canto da bôca: “alvíssaras de uma esquerda que continua viva e, ainda, tenta destruir tudo…” Ou seja, quer tirar pela força ou continuar “prendendo e arrebentando” a esquerda que teima em continuar viva.


 


Ainda bem que, conforme denuncia o próprio Cel. Ruhtra (seria uma corruptela de Ustra?), sua esdrúxula pretensão não encontrou guarida, e “se perdeu sem qualquer resposta”, pelos gabinetes por onde perambulou. Autoridades constituidas e institucionalmente apropriadas ao julgamento de sua tese. Segundo o próprio coronel, não levaram suas preocupações a sério, entre outros, o Ministro da Justiça, o Ministro da Defesa, o Comandante da Marinha, do Exército e Aeronáutica. Nem mesmo os representantes da oposição ao governo Lula, tradicionalmente alhinhados à direita militante, como o senador Álvaro Dias, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, o então presidente da OAB, Roberto Busato. E as revistas VEJA e ISTO É, conforme lamenta o coronel.


 


Se esses estamentos não o levaram a sério, por que razão nós devamos valorizar essa decrepitude? Esses fantasmas já foram exocizados há muito tempo, não percamos mais tempo com êles.


 


E sabes, caro Dr Lírio, quem é esse patriota e grande brasileiro que a mente senil de um coronel de pijama define como “marginal, que havia sido expulso do Exército, pelo Presidente Getúlio Vargas, por traição, sem servir ao Exército Brasileiro, sem qualquer posto, voltou General de Brigada, como “o herói das três pátrias” e, ainda, recebeu uma grande soma de dinheiro e um salário contínuo e permanente de General”?. Pois bem: este grande brasileiro, tenente em 1935, foi preso e expulso do Exército não pelo maduro presidente Vargas das políticas de interesse popular e da construção do nosso parque indústrial nacional na década de 50. Ele se refere ao ainda verde e amargo ditador Vargas do Estado Novo dos anos 30. Motivo: sua heróica luta contra a ditadura fascista varguista. Amante da Liberdade e da Democracia, ele participou, em 38, como membro das brigadas internacionalistas, da Guerra Civil Espanhola ao lado da República contra o fascismo franquista.


 


Aqui, uma pequna digressão: se você não conhece, procure nas locadoras o filme “Por quem os Sinos Dobram?”, com Gary Cooper e Ingrid Bergman, dirigido pelo excelente Sam Wood, uma adaptação livre do romance homônimo de Hemingway. Um clássico sobre essa mesma luta daquele de quem estamos falando: Apolônio de Carvalho.


 


Em 42 o nosso “traidor” tornou-se membro da Resistência Francesa, na França ocupada, contra a besta-fera nazista de Hitler. Sempre uma participação de liderança e respeito. E na década de 60, o “marginal”, amante da Liberdade e da Democracia, foi preso, torturado e exilado. Motivo: o combate à ditadura militar fascista. Há pouco, premiado com a mais alta honraria francesa, justo reconhecimento internacional ao “herói de três pátrias” de quem falava Jorge Amado.


 


Se não tem direito à patente de General, quem o teria?


 


A leitura das memórias de Apolônio de Carvalho nos propicia uma lição de amor à vida e à Pátria. A obra foi produzida com as participações do professor Daniel Aarão Reis e do jornalista Arthur Poerner, com referêcias do mestre Helio Peregrino e prefácio do acadêmico Antônonio Cândido, sob o título “Vale a Pena Sonhar”, Editora Rocco. Confesso que conheço muito pouco os generais. Não sei quantos merecem uma biografia. Abomino os gorilas dos anos 60 e 70 e tenho uma particular admiração pelo General Teixeira Lott, meu primeiro voto para presidente, herói da legalidade contra os golpistas mais antigos, e pelos generais que participaram da Campanha da Itália, contra o nazi-fascismo. Outro grande herói, lider da integração libertária continental bolivariana, o general pernambucano Abreu e Lima. Apolônio de Carvalho é madeira da mesma mata.

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