Os “macacos”, D.G. e a mesma hipocrisia

Assim conclui a primeira parte do artigo, publicado dia 28 de abril de 2014: “…Para encerrar está primeira parte não posso deixar de fazer um breve comentário sobre o show de hipocrisia neste domingo. Não me refiro as legítimas e calorosas homenagens a DG, mas sim ao chamado que determinado meio de comunicação de massa fez a sociedade, escalando seus ícones para dizer em cadeia nacional que sua morte representa um problema nacional. Continua…”

Depois desse domingo (27) nada mais foi dito sobre a vítima, os responsáveis e o “referido problema nacional”, um silêncio ensurdecedor. Óbvio que em ano de eleição presidencial o PIG (Partido da Imprensa Golpista) não deixou passar a oportunidade de fustigar a Presidenta Dilma, induzindo o telespectador, com mensagem subliminar, a pensar que o governo federal é o responsável pela onda de violência.

É verdade, existe um problema nacional e não é o governo federal. É sim o preconceito e o racismo dissimulado, escondido, velado que só “aparece” uma vez ou outra, quando um funcionário da Globo é assassinado, quando um jovem negro ator da Globo é preso arbitrariamente ou quando jogam banana em jogadores latinos ou africanos . Fora isso, são “apenas” milhares de jovens negros assassinados diariamente e nenhum canal de televisão ou grande jornal se preocupa em saber onde, quando, como e por quê?. São os milhares de Silvas negros, mulatos, índios ou “macacos”, invisíveis da sociedade capitalista, mercadorias para manchetes sensacionalistas, que buscam vender jornal ou aumentar o ibope.

A violência do Estado, dos bandidos e do sistema social vigente que atinge os jovens, em particular os jovens negros, não são fatos inéditos e muito menos começaram a existir na ultima década. Querer emplacar um discurso oposicionista através da morte de DG é oportunismo, sensacionalismo barato e desespero eleitoral.

No Brasil o racismo é velado. O debate sobre cotas no Brasil é um bom exemplo para demonstrar como isso acontece. O principal argumento contra até hoje, é que o uso do critério da cor ou raça é criar uma realidade que não existe no nosso país, na nossa cultura, ou seja, o racismo. Para esses quero apenas recuperar a memorável passagem do escritor brasileiro, Jorge Amado, onde está límpida e transparente a ação racista: “…Mais uma vez escrevi ser a África o nosso umbigo. Como sensibilidade, maneira de ver a vida e o mundo, forma de reagir aos acontecimentos, de viver e conviver, de pensar e agir, somos pelo menos tão africanos quanto ibéricos. Definitivamente foi a contribuição dos negros para formação da nossa cultura nacional. Apesar da terríveis, monstruosas condições em que a cultura negra se encontrou no Brasil ao desembarcar dos navios negreiros – nas condições de cultura de escravos, vilipendiada, desprezada, combatida à morte, violada, cuja substituição violenta, na base do cacete e do batismo, foi tentada quando os senhores de escravos quiseram impor aos negros, íntegra, a cultura dos colonos, da língua aos deuses…”. (Bahia de Todos os Santos, pag.34).

Fico imaginando qual o objetivo do brilhante marqueteiro quando elaborou o slogan “Somos todos macacos”. Aqui no Brasil só vi celebridades, por ordem do chefe, fazendo a campanha. Os verdadeiros donos do capitalismo não vi ninguém. Toda Europa deve ter aplaudido de pé, e concordado, pois mesmo depois de toda repercussão negativa, repetiram neste final de semana, agora na Itália, o ato de jogar banana para um negro.

Realmente nosso problema é nacional: a pseudo elite “civilizada”, lambe botas da civilização anglo-saxônica. Não é possível mais transigir princípios, necessitamos de campos bem claros e demarcados, o povo pede isso.

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