A Síria está vencendo a Guerra

No mês passado completou três longos anos de agressões à República Árabe da Síria. Não há dados oficiais e concretos sore mortos. Uma ONG que é parte do esquema de derrubada do governo e financiada pela CIA menciona 150 mil mortos. A destruição da infraestrutura é visível. Dificuldades foram impostas ao povo, sacrifícios em função da crise econômica decorrente. Mas, apesar de tudo isso, o país vai vencendo a guerra de agressão.

Quero dedicar a minha coluna desta semana para comentar sobre a situação no país hoje

O dia de hoje, 17 de abril, é dia especial para a Síria e para seu povo. Milhões devem sair às ruas para comemorar o Dia da Independência Nacional de 1946. São 68 anos que a França foi obrigada a desocupar a nação síria, onde se fazia presente desde o final da 1ª Guerra, quando o mundo foi praticamente repartido entre Inglaterra e França.

O imperialismo estadunidense vem se tornando a cada dia mais agressivo. Em meio à sua decadência sistemática e constante, em meio à maior crise que já enfrentou desde 1929, ele segue armando-se até os dentes e violando a soberania de nações. Atacou o Iraque e executou seu presidente Saddam Hussein. Atacou a Líbia e executou o seu presidente Muammar Khadafi. Havia chegado a vez da Síria. Ataca e agride todos os países que defendem os palestinos e opõem-se à Israel. Agride a todos os países e nações que fazem oposição à sua dominação imperialista.

Mas, como temos visto, o caso da Síria se mostrou diferente. Por vários motivos. O mais importante deles é que a Síria é dos mais antigos países da humanidade. Tem um povo uno, coeso e uma liderança nacional dirigida pelo Partido Socialista Árabe Baath, sob o comando do Dr. Bashar Al Assad, um dos presidentes mais populares do mundo hoje.

O governo sírio enfrentou com seu exército nacional uma agressão jamais vista na história. Especialistas calculam que deslocaram-se para a Síria para combater como mercenários até cem mil homens, vindo de 83 países. São os chamados jihadistas, que deturpam completamente a religião islâmica, pregam a volta à Idade Média e das trevas e a edificação de um estado religioso onde só teria alguma liberdade os que professassem a fé islâmica.

Tiveram amplo apoio do imperialismo, em especial francês e inglês, mas essencialmente dos EUA. Até Israel deu a sua força, agredindo diversas vezes a Síria com ataques aéreos, motivo que fez o governo sírio denunciar formalmente as agressões ao CS da ONU. O financiamento desses ataques, dessa matança indiscriminada vem das petromonarquias do Golfo Pérsico-Arábico.

Mas, contaram com mais apoio. Todas as corporações de mídia, impressa e televisionada apoiam diariamente com seus jornais e comentaristas, as agressões. O presidente sírio é visto como a pior pessoa do mundo. Jornais como a Folha só o chama de “ditador”, coisa que o New York Times nunca fez. O regime sírio é parlamentarista. Seu presidente é eleito indiretamente pelo parlamento sírio. É assim também em Israel, Itália, Alemanha, Cuba e tantos outros. Não somos capazes sequer de lembrar o nome dos presidentes nesses países citados. Mas, em regimes fortes, o presidente é lembrado. Após eleito pelo parlamento, ocorre na Síria um referendum popular. E nesse evento, o presidente sírio teve nas duas últimas consultas mais de 90% de apoio popular.

A batalha que se trava

Já disse em alguns artigos, que o que travamos na Síria é uma batalha por uma nova ordem mundial. Constrói-se hoje um mundo diferente do que vivemos a partir de 1991, que era unipolar. Hoje diversas potências regionais vão ganhando destaque. Caminhamos para a multipolaridade. China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul emergem como grandes atores políticos e econômicos em suas regiões e mesmo em plano mundial.

No Oriente Médio, o Egito sempre cumpriu esse papel. Mas, por décadas viveu com um ditador – esse sim, um tirano, mas que o mundo chamava de “presidente” – que foi apeado do poder em 2011. Mas, seja por fraude ou por escolha errado, o povo egípcio indicou para presidir a maior nação árabe um homem de direita, conservador, muçulmano da Irmandade, aliado dos EUA e anti-Síria. Também esse foi apeado do poder e o país vive um governo provisório e de transição.

Nesse cenário, a Síria era a maior potência política e econômica regional. País sempre laico, vive a sua democracia interna com mais de 20 partidos funcionando. Mesmo em meio à crise e aos ataques, elegeu um novo parlamento, formou um governo de união nacional, onde convivem forças como as socialistas e comunistas junto com os patriotas e nacionalistas. Tem hoje um governo de nítido caráter anti-imperialista. Mesmo em meio a ataques diários de morteiros e mísseis, o governo governa e funciona. Nenhuma instituição síria deixou de funcionar nesses 37 meses de agressões.

O que é mais lamentável nesse cenário é que parte da esquerda mundial e brasileira – é bem verdade inexpressiva e formada por grupelhos trotsquistas e esquerdizantes – acredita estar em marcha na Síria uma “revolução popular e socialista” (sic). Quanta bobagem. Fazem o jogo do imperialismo, funcionando como seus agentes.

Por mais forte que seja um exército nacional, ninguém e nenhum país do mundo conseguiria resistir a tanto tempo de ataques, agressões e destruições, assim como restrições econômicas sem que seu governo fosse extremamente popular. Todos os jornalistas e correspondentes sérios e que praticam jornalismo equilibrado são testemunhos das amplas liberdades que se vive na Síria, das medidas que são diariamente tomadas pelo governo para defender o país e seu povo.

No campo militar, a cada dia o governo recupera mais e mais terreno. Cidades antigas, incluída a mais antiga cidade cristã do mundo, Maalula, único lugar do mundo a língua aramaica, que teria sido a de Jesus Cristo. Essa cidade chegou a ser ocupada por terroristas que executaram vários padres e monges cristãos e destruíram Igrejas e Capelas.

A fronteira com o Líbano agora encontra-se praticamente fechada e controlada pelo exército libanês. Militantes guerrilheiros do Hezbollah entraram na batalha e contribuíram decisivamente para as muitas vitórias militares do exército sírio. Tenho ouvido a avaliação e com ela estou de acordo, que não há mais espaço para acordos diplomáticos e políticos. A vitória agora será apenas no campo militar, já que o governo tem o controle da situação. O famigerado Exército Sírio “Livre” acabou, dissolveu-se. O pouco que restou de combatentes foram para a Frente Nusrah ou Estado Islâmico do Iraque.

A grande questão hoje é o que fazer com os terroristas e mercenários que restarem. Voltam aos seus países de origem ou morrem na Síria? A Turquia que os apoia abertamente, está apavorada com a quantidade desses terroristas acampados na único fronteira ainda frágil na região que é o Norte. Infelizmente, países como a Arábia Saudita e Qatar, seguem financiando com bilhões de dólares, o envio de armas para o terror.

Desdobramentos e perspectivas

Até o final do mês de abril, o governo deve anunciar o seu plano de eleições presidenciais diretas, como prevê a nova constituição, que determina, inclusive, que devam concorrer no mínimo dois candidatos. Ai encontra-se a maior dificuldade. Todos os institutos de pesquisas confiáveis e mesmo feitos pela CIA e OTAN dizem que Bashar venceria com mais de 75% dos votos válidos. Quem o enfrentará com tamanha popularidade?

A constituição fala que os candidatos devam ser sírios e residirem no país há pelo menos dez anos. Mas, alguns dos opositores têm nacionalidade estadunidense e francesa, alguns ingleses. Ainda que o TSE de lá fosse complacente e registrasse tais candidatura, essas pessoas não são nenhum pouco conhecidas no país.

Devemos acompanhar as repercussões da renúncia de Bandar Bin Sultan, ministro da Inteligência saudita e extremista de direita. São poucas as informações, mas sabemos de uma luta intestina na corte da Casa de Saud pela sucessão do moribundo rei Abdullah, um cadáver ambulante.

Diariamente desertores das fileiras terroristas entregam suas armas. Os membros do exército que debandaram, após anistia, estão sendo, em sua maioria, reintegrados ao corpo regular do exército. Diversos países europeus enviam recados que não veem a hora de reabrirem as suas embaixadas em Damasco. Esperemos que o Brasil faça o mesmo o mais urgente possível. Aliás, nunca deveríamos ter fechado nossa representação diplomática na Síria.

O jovem presidente Bashar Assad, médico oftalmologista formado na Inglaterra sairá fortalecido do processo. Emergirá como grande estadista e com capacidade para liderar uma nova etapa do mundo árabe e do seu povo, hoje com mais de 400 milhões de pessoas. Em aliança com o Irã e a resistência imperialista da região, pode-se vislumbrar tempos difíceis tanto para o imperialismo estadunidense, quanto para o sionismo de Israel.

De nossa parte, torcemos, sinceramente, pela volta da paz na Síria.

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