A ditadura militar e o esporte- Parte 2

Em 1970 foi inaugurada a Loteria Esportiva, em seguida, em 1971, se realiza o primeiro Campeonato Brasileiro, sendo ele um constante espaço de disputas políticas tanto para os clubes quanto para o governo, o futebol se torna uma ferramenta importante no projeto de integração nacional reforçado pelo auxilio da mídia. O Regime atua diretamente na participação dos clubes no Campeonato, hoje os que viveram essa época ainda se lembram do jargão “Onde o Arena vai mal, um time no campeonato

Edição do Campeonato Brasileiro com maior número de participantes da história, incríveis 94 times, o Nacional de 1979 esteve muito perto de não ser realizado. Por causa de uma revolta organizada pelos grandes clubes do país, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) só conseguiu divulgar a tabela do torneio nove dias antes do início, em 16 de setembro daquele ano. Foi o auge de uma insatisfação crescente ao longo da década, causada por seguidas ações da principal entidade do esporte nacional em prol da Arena, partido político que sustentava o governo militar.

Em 1979, o Nacional tinha se transformado num monstro disforme, com regulamento esdrúxulo e 583 partidas em um período de três meses, entre setembro e dezembro. A divulgação da tabela inicial, no fim de agosto, deu início à rebelião dos grandes. Mineiros, gaúchos e cariocas exigiram mudanças. Os paulistas tentaram boicotar, e Corinthians, Santos e São Paulo se recusaram a participar da competição.

A própria criação do Campeonato Brasileiro, em 1971, que quase foi chamado Campeonato da Integração Nacional, foi um ato idealizado pelos militares para dar continuação à popularidade que tinham conseguido pelo esporte depois da Copa de 1970, notadamente pela exploração da conquista da Seleção Brasileira no México pelo governo de Emílio Garrastazu Médici.

Sob o comando de Heleno Nunes (Presidente da CBF posto pelos militares), o Nacional teve uma escalada de participantes ao longo de cinco anos, de 42 em 1975 até os 94 de 1979. Em 1978, por exemplo, quando 74 equipes jogaram o torneio, a CBD determinou que qualquer cidade com mais de 100 mil habitantes e estádio aprovado para jogos noturnos teria direito a uma equipe no Brasileirão.

O sistema de distribuição dos grupos acabava prejudicando os clubes grandes, obrigados a fazer viagens pelo país justamente para agradar aos nanicos. “Os militares usavam o futebol para angariar simpatia popular e os grandes clubes tinham dificuldade de se adaptar a esse novo cenário”, afirma Carlos Miguel Aidar, dirigente do São Paulo na época, quando o pai, Henri Couri Aidar, ocupava a presidência. “Éramos obrigados a fazer viagens longas e caríssimas.”

Francisco Horta, presidente do Fluminense entre 1975 e 1977, disse que os clubes sofriam com o excesso de número de jogos. “Foi naquela época que criamos a sala de preparação física no Fluminense, para que os jogadores aguentassem aquelas maratonas. Mesmo assim, o prejuízo era enorme com viagens, hotéis, concentrações”, enumerou.

Os dirigentes chegaram a elaborar a “Carta do Rio de Janeiro”, na qual pediam um calendário anual definido previamente, um Nacional com 20 clubes na primeira divisão e maior auxílio da Loteria Esportiva. Estavam fartos de que a CBD — extinta no fim daquele ano para dar lugar à CBF — utilizasse o Brasileiro para beneficiar a Arena, prática que ficou clara, principalmente, a partir de 1975, quando o almirante Heleno Nunes assumiu a entidade no lugar de João Havelange.

Com a crescente insatisfação dos clubes, a CBD tentou acalmar os ânimos no fim da década, criando chaves regionais em 1978 e em 1979, pagando parcialmente passagens aéreas e hospedagens e eximindo os clubes da taxa de 5% da renda de bilheteria. Mesmo assim, com os clubes à beira da falência, os dirigentes se rebelaram e conseguiram impor algumas mudanças a partir de 1980, quando o Nacional voltou a ter “apenas” 44 clubes. Foi um grito de desespero por necessidade de sobrevivência dos clubes grandes. Muitas dividas, que hoje se tornaram impagáveis, surgiram nessa época

Como em 1979 o desgaste do regime militar era evidente, a proclamação da Lei da Anistia permite a volta de vários perseguidos políticos para o país, no futebol também ocorrem mudanças, como a citada extinção da CBD e a criação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) que teve como seu primeiro presidente o empresário Gíulite Coutinho e que também, com o tempo, se portou como um coronel do futebol impondo suas vontades a todos os campeonatos e times, garantindo seus lucros e a manutenção, já naquela época, de algumas famílias na direção dessa confederação.

Assim também foram, com graduações e nuances o que ocorreu em outras várias modalidades. A capoeira, por exemplo, teve sua primeira Federação fundada em São Paulo , em 1972 com grande auxilio dos militares.

Esporte enquanto política pública

No final dos anos 1960, inicio dos 1970, o governo, sob o comando de Médici investe na disseminação da Educação Física e do esporte. Dentro dessa politica a escola se coloca enquanto instituição central. Um das primeiras medidas é a construção de um grupo de trabalho para estudar e propor medidas para a expansão da Educação Física e do Desporto no país (Portaria Ministerial n. 94-A, de 28/2/69).

Esse grupo produziu o documento “Diagnóstico da Educação física/Desportos no Brasil” que apontou a necessidade da elaboração de um plano de desenvolvimento da Educação Física e do esporte, balizado na necessidade de melhoria de qualidade de vida pra os brasileiros, na importância das manifestações psicossociais ligadas à Educação Física e ao esporte, que também projeta sua influência no plano da política internacional, além de disciplinar os recursos financeiros da Loteria Esportiva destinados aos programas de Educação Física e Desportos, como previa o Decreto-Lei n. 594, de 27 de maio de 1969.

O Diagnóstico, produzido em 1969, foi estruturado em 13 tópicos, destes os dois primeiros foram considerados de maior importância: 1) As Escolas de Educação Física; 2) A Indústria de material, construção e instalações para a EF e dos Desportos. A questão de segurança nacional é usada para justificar o investimento na Educação Física e no esporte, como forma e preparar futuros soldados, colocando a aptidão física como questão fundamental no ensino da Educação Física.

Na verdade, a certa ojeriza, que a esquerda tinha ao esporte, pode ser creditada em parte, ao aparelhamento e a utilização da ditadura deste importante instrumento. Nos inícios dos anos 80 era comum, nos Sindicatos e Entidades estudantis que o setor ou área de esporte sempre ficar com tendência mais a direita. Atitude esta que só no final dos anos 80 e inicio dos anos 90, foi pautada pela esquerda, quando esta assumiu funções executivas no estado e em municípios que obrigaram, de certa forma, a um olhar menos preconceituoso e estigmatizado ao esporte brasileiro.

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