Esporte!

Hoje, dia 31 de março de 2014, data em que rememora-se o trágico acontecimento que acometeu a nação brasileira. O golpe militar de 1964 que completa hoje 50 anos do ocorrido. As gerações futuras e mesmos alguns incautos que nasceu no período, não sabem dos acontecimentos que antecederam e principalmente os que precederam o desfecho.

Por todo o Brasil e em alguns lugares do mundo, democratas deverão realizar e organizar atos para que nunca mais fatos assim ocorra nem aqui e nem em lugar nenhum do mundo.

O golpe que teve ajuda decisiva do Governo americano, da CIA e sua paranoia anti comunista, contou com a militância ativa do embaixador ianque Lincoln Gordon. Aliás a ação efetiva inclusive militar do imperialismo “estado unidenses” foi aprovada pela Casa Branca de Lyndon Johnson(1963-1969) e ganhou o “hollydiano” nome de “Operação Brother Sam”. Goulart caiu antes que os navios – um porta avião e seis contratorpedeiros chegassem. Gordon foi embaixador no Brasil até 1966, quando regressou a Washington e assumiu, isso mesmo, a reitoria da Universidade Johns Hopkins. Fatos que a sociedade brasileira e em especial a nossa juventude precisa saber e ser constantemente lembrada. Mas o tema principal deste artigo é pontuar como a Ditadura Militar que vigorou até 1985 atuou no esporte brasileiro em especial no futebol.

O espaço aqui não permite aprofundar um tema tão complexo e nem o autor teria capacidade para tanto, contudo elencar elemento que ajudem a descortinar e a estimular a busca de informações para quem atua ou gosta do esporte no Brasil.

A utilização do esporte enquanto ferramenta de fortalecimento do estado e da ideologia dominante não acontece só em governos totalitários, como é possível analisar ao longo da história, mas é usada também pelos estados ditos democráticos, não a toa hoje os maiores eventos mundiais são esportivos.

Devemos entender o esporte enquanto um elemento superestrutural na nossa sociedade, a superestrutura é composta por instancias e instituições que organizam as relações sociais, como religião, estado, política e etc… Que segundo Marx:“Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral”. (MARX, 1859: Prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política).

Nesse sentido esse esporte que conhecemos hoje só é possível, pois existem condições objetivas e materiais para a sua existência e inevitavelmente adquire, aqui e ali, uma função política dentro da luta social. Claro que ele também é “usado” também pelos governantes , dito democráticos enquanto ferramenta de difusão de valores atribuídos a essa prática corporal.

Estudar a relação da ditadura militar com o esporte e a Educação Física nos ajuda a entender a partir de uma perspectiva histórica a constituição das políticas públicas voltadas ao Esporte da época e que até hoje lutamos para romper e introduzir conceitos mais contemporâneos e atuais.

Durante a ditadura militar o Estado opressor e anti democrático buscou utilizar-se a exaustão do esporte enquanto elemento subjetivo auxiliar na submissão. E nisto o regime dos militares não foi pioneiro. A utilização do esporte foi feita com sucesso durante a ascensão de Vargas em 1930, período, por exemplo em que a Capoeira foi reconhecida como esporte. .

Copas na Ditadura militar

Durante a ditadura militar a relação entre política e esporte se torna mais visível pela sua forma escancarada de tentar ligar o regime à força do esporte brasileiro, principalmente no que diz respeito a esporte oficial de nosso país, o futebol.

Em 1964 os militares promovem um golpe de Estado depondo o então presidente João Goulart e instaurando um regime que vai perdurar por anos. Uma das primeiras medidas foi o cancelamento por parte da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) de um amistoso contra a União Soviética, nessa época João Havelange, presidente da Confederação é mantido em seu cargo, enquanto vários ministros caem com a implantação do regime.

Na primeira Copa disputada pela seleção brasileira no período da ditadura o então presidente Castello Branco recebe os jogadores em apoio ao time, seguindo a pratica de seus antecessores. A derrota do Brasil e sua péssima campanha são levadas a sério pelo regime, que cria inclusive uma Comissão para investiga-la e não permitir que isso se reproduza e, cada vez mais, a CBD se molda ao estilo militar.

As devidas mudanças foram tomadas visando à vitória na Copa de 1970, no México. A partir de 1969, com o governo Médici, há um maior investimento do Estado no que diz respeito ao esporte, utilizado inclusive pela Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), responsável pela propaganda oficial, no sentido de aproximação com setores populares.

Durante a Copa existiu um grande esforço em ligar a imagem da seleção brasileira ao Regime e à própria imagem de Médici. Um exemplo desse uso foi o caso do sequestro do embaixador alemão Ehenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben, que, segundo a propaganda do governo, teria comovido os jogadores da seleção no México podendo inclusive atrapalhar o rendimento do país no evento.

A disputa da Copa do Mundo, segundo conceito dos milicos, fortaleceria uma ideia nacionalista, intervindo de forma a amenizar a luta contra o regime que a esquerda, inclusive armada, travava no país. Se utilizar, inclusive da vitória esportiva como exemplo e reflexo do crescimento econômico e da construção de uma potência, era a jogada dos militares.

Em 1974 o Regime interfere diretamente na seleção brasileira através do almirante Heleno Nunes, que comandava a CBD, mudando a escalação de jogadores, tirando Meneiro da seleção, um atleta que era problemático para o regime pelo posicionamento mais a esquerda. O jogador comemorava seus gols erguendo o braço esquerdo com o punho fechado e foi fotografado carregando um livro de Lênin. Não era possível que um jogador, ídolo da classe trabalhadora, propagandeasse ou fizesse referencia a qualquer movimento que pudesse interferir nos planos da ditadura.

Já em 1982 na Copa do Mundo na Espanha há um otimismo dos brasileiros com a possibilidade da abertura poltica do país. Sócrates era capitão da Seleção e um dos principais ativistas no esporte na luta pela volta a democracia. Com a Democracia corintiana ele e seus companheiros rejeitam a militarização do futebol vigente em toda a década anterior, assim como propagandeiam a ideia da democratização do país. ´

E aí… bem e aí continuaremos no próximo artigo…

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