O exemplo da Grécia

O caminho percorrido pelos mandatários gregos para ficar sob as asas da União Europeia (UE) deveria servir de (mau) exemplo a outros países que agora passam por dramas parecidos. É o dilema entre o desenvolvimento autônomo, calcado nas realidades locais, e os ditames padronizados dos países centrais.

São muitos os exemplos, mas os casos da Ucrânia e da Venezuela têm chamado mais atenção da mídia brasileira. Em ambos, parece haver uma torcida para que os interesses de Washington, Londres ou Berlin prevaleçam, ainda que provoquem severos limites a qualquer tipo de soberania que essas sociedades queiram manter.

A Ucrânia vive tensa situação, sendo pressionada a aceitar rigorosas políticas econômicas para se inserir na esfera da UE, o que inclui o euro em lugar da moeda nacional, a grívnia. Parece cópia do modelo grego de submeter sua população a dramáticas restrições, que extrapolam o campo econômico e atingem direitos civis.

A Grécia aceitou, há três anos, um acordo de longo prazo que previa a injeção de recursos da EU e do Fundo Monetário Internacional(FMI), mas com troca pesada. Promoveu o enxugamento do estado, com demissão em massa de funcionários e corte de investimentos em serviços básicos, aumentou impostos e assim por diante. E, como a economia parou, todo ano precisa de dinheiro novo, de modo que a dependência só cresce.

Uma parte dos ucranianos, por sua vez, acha que essa condição se justificaria por afastar a Ucrânia da esfera russa, como que ruminando lembranças da antiga União Soviética. No entanto, caso siga esse caminho, o país vai entrar na rabeira da UE, adquirindo um status não de igualdade, como é apregoado, mas de plena subserviência, como a Grécia.

É certo que, de outro lado, a Ucrânia já havia assinado acordo com a Rússia, que inclui empréstimo também, mas reduz os custos do gás (GLP) russo, do qual depende muito. No entanto, essa parcela da população não aceita nem a língua russa como oficial em parte da Ucrânia, onde só se fala este idioma. Ou seja, tem conflito étnico no meio.

Quem faz esse barulho é uma fatia hoje endinheirada da sociedade ucraniana, que gostaria de falar francês. Mas são enormes as manifestações contrárias à adesão à UE. As primeiras contam com alarde na mídia ocidental, já as outras mal são notadas por aqui. O fato é que, apesar de um armistício recentemente acertado, o país vive à beira de uma guerra civil.

Na Venezuela, nosso vizinho do Norte, a situação é parecida. Uma parte da classe média se juntou a elites empresariais para contestar a política popular-nacionalista iniciada pelo falecido Hugo Chaves e seguida pelo seu sucessor, Nicolas Maduro. Essa parcela a população tem apoio declarado de sucessivos governos dos Estados Unidos, inclusive o atual, de Barack Obama.

O país vive uma democracia, onde as eleições são diretas, com sistema eletrônico idêntico ao brasileiro, e o parlamento aprova ou reprova novas leis, propostas pelo executivo ou não. Se o governo consegue ter maioria parlamentar, é uma questão interna dos venezuelanos. E só não há novas tentativas de golpe de estado, para derrubar Maduro, porque os militares não deixam.

Para quem conhece a Venezuela, porém, é inegável a mudança nos últimos 15 anos. As políticas públicas já retiraram mais de um terço da população da zona de pobreza, a educação evoluiu muito em todo o país e os serviços de saúde são invejáveis, com a adoção do atendimento domiciliar, ao estilo britânico e cubano. Coisa de pobre.

Para quem gosta de ver a submissão e o servilismo dos outros, a maioria das populações da Ucrânia e da Venezuela dão exemplos de altivez, apesar de não contarem com o poder econômico.

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