A quem interessa o caos?

Se tem um filme que não canso de assistir é “Batman: o cavaleiro das trevas”. Em uma das passagens, Alfred debate com Bruce Wayne o que motiva Coringa a cometer os crimes que ele realiza. O herói mascarado aparenta estar perplexo porquê não consegue compreender a lógica das atrocidades promovidas pelo bandido, até porque este rouba e chantageia a máfia de Gotham City.

O experiente e sábio mordomo afirma que tem pessoas que agem sem um sentido racional, mas única e exclusivamente para promover o caos.

Faço esta breve observação para tentar compreender a quem interessa o clima de pânico que setores da sociedade, ecoados pela dita grande imprensa (“Globo”, “Estadão”, “Folha de São Paulo”) e os seus sócios minoritários (“Band”, “UOL”, “Diários Associados”, “RBS”, etc.) maquinam diariamente. Até canais estritamente esportivos, como a “ESPN” e o “FoxSports”, entraram na onda catastrófica.

Neste contexto, têm me chamado a atenção esses jovens denominados de black blocs.

Quando eu atuava no movimento estudantil (ME), lá pelos anos 1990 e início do novo milênio, muitas das passeatas de que participei e/ou organizei sempre tinham os mascarados, que eram identificados como punks ou anarquistas. De vez em quando rolava um stress, umas bombas de gás, mas nada comparado com o que vejo hoje.

Dos grupos políticos que atuavam no ME, o PSTU era o que tinha certa aproximação com eles. Isso mesmo, o PSTU. O partido que foi expulso pelos black blocs nas manifestações do ano passado, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Entretanto, os black blocs nunca mobilizaram mais que três mil pessoas. Até nas grandes passeatas de que participei, como a histórica ‘Marcha dos 100 mil’, realizada em 1999, ou até mesmo as passeatas que ocorriam no Fórum Social Mundial, este grupo nunca teve presença massiva. Vejam que estou falando de manifestações que reuniram mais de 100 mil pessoas. Além destas, tive a oportunidade de participar de muitas e nunca os vi com grande poder de mobilização.

O momento político era de resistência ao avanço das políticas neoliberais que FHC implantava no país. Aumento da pobreza, do desemprego, da submissão total do país aos organismos financeiros internacionais e o sucateamento dos serviços públicos essenciais, como educação, saúde e saneamento eram a tônica da realidade. E para quem acha que a corrupção é coisa dos governos trabalhistas, quem não recorda da função do “Engavetador Geral da República” ou dos inúmeros pedidos de CPI’s que foram arquivadas? Período bastante distinto do que vivemos hoje.

Só sei que, de repente, os black blocs, em nome de não sei o que ou quem, foram convertidos nos “maiores protagonistas políticos” do país. Sem voto. Sem organização. Sem reivindicações emancipatórias. Sem propostas. Há quem afirme que eles são contra o sistema capitalista. Sinceramente, tenho minhas dúvidas.

Então, o que eles têm? Muita disposição para destruir o que veem pela frente, especialmente se for bancos, prédios públicos ou os ditos “símbolos” do capitalismo. Para tanto, me parece, contam com a simpatia dos já citados meios de comunicação. Não posso deixar de citar, também, o “apoio” da polícia militar (falo especialmente da de São Paulo).

O fato é que essa união entre os black blocs, meios de comunicação de massa e PM tem se transformado em um espetáculo, porque ganha contornos midiáticos e passa a sensação de que estamos em meio a uma guerra civil.

Não vou bancar aqui o antidemocrático, insinuando a proibição deles se manifestarem, muito menos cair no argumento da criminalização, como fazem alguns. Mais que isso, penso que é oportuno situá-los historicamente e perguntar: a quem interessa as “mobilizações” dos black blocs?

Na minha opinião, elas têm um alvo: A eleição de 2014. Afirmo isso porque iremos votar para presidente, governadores e parlamentares (para as esferas nacional e estaduais). Todavia, os defensores dos black blocs vão afirmar que eles não têm nenhuma pretensão eleitoral. Ledo engano. Vender a ideia da neutralidade na política é tentar, no mínimo, iludir as pessoas.

Então que cardápio de opções teremos no pleito de 2014? Em linhas gerais, teremos, de um lado, os defensores do atual governo, e, do outro lado, os opositores.

O lado governista irá dizer que se não vivemos no melhor país do mundo, tivemos avanços significativos nos últimos 12 anos. Vão, assim, se apegar nos indicadores sociais e econômicos e irão dizer que houve a diminuição da pobreza, que a renda do trabalhador melhorou. Citarão a ampliação dos investimentos sociais, o aumento da transparência dos recursos públicos e a rearticulação da infraestrutura de nosso país. Além, é claro, da afirmação de que houve a redução da carga tributária, o controle da inflação e a inserção internacional soberana do país. Após defender a realizações do governo, pedirão mais um voto de confiança para os próximos quatro anos.

Do lado oposicionista, tem-se o PSDB, que tenta convencer a maioria do eleitorado de que é a melhor alternativa para o país. Contudo, é só colocarmos nossa memória para funcionar um pouco e relembrarmos como foram os dois mandatos de FHC à frente da presidência. Mas vão falar, “Ahhh…o Aécio é diferente, é jovem, é inovador”. Tudo bem, mas faça uma viagem para Minas Gerais ou presencie uma entrevista dele. É o mesmo blá-blá-blá de sempre. Estado-mínimo para o social e máximo para o capital, e salve-se quem puder (disfarçado pelo discurso do empreendedorismo).

Tem-se, também, aqueles que participaram da composição que sustentou o Governo Federal, mas que, por algum motivo, foram para a oposição. Falo da chapa socialista composta por Eduardo Campos e Marina Silva. Sinceramente, não sei o “filho que saírá desse casamento”, até porque esse papo de fazer “mais e melhor”, “aliança programática e não pragmática” e “a nova forma de fazer política” só não é mais vazio porque eu sei que os marqueteiros políticos deles ganham muito dinheiro com isso. Por isso que é bom aguardar mais um pouco para ver se sairá alguma ideia original e que possa melhorar, de fato, a vida dos brasileiros.

E o que falar da oposição dita de esquerda (PSOL, PSTU, PCB)? Ancorados em um discurso que mescla o moralismo udenista e o “messianismo político”, concretamente, irão lutar para aumentar a influência deles em setores da classe média brasileira, ganhar a direção de alguns sindicatos/entidades estudantis e, quem sabe, eleger alguns parlamentares para o Congresso Nacional e para as Assembleias Legislativas.

Então, a quem interessa o caos promovido pelos black blocs? Só sei que no filme, após muitas explosões, traições, destruição e a perda da mulher amada, Batman foi mais sagaz, acabou ajudando a prender o Coringa e saiu da película como o “vencedor”. Em outubro saberemos se a realidade irá imitar a ficção.

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