Amazonas, o ideólogo do PCdoB

Neste dia 25 o Partido Comunista do Brasil completa 91 anos. Passou por inúmeras vicissitudes, esteve sob o comando de várias direções, sofreu rupturas e continuidades. O fato de continuar na cena política – ao contrário de outros partidos fundados sob a influência da Revolução Russa de 1917 – é uma demonstração de que acumulou mais acertos do que erros.

Sua sobrevivência se deve à dedicação de militantes espalhados ao longo da história e do território nacional e à necessidade que o proletariado tem de uma organização de vanguarda, que indique, nas lutas políticas, econômicas, sociais e ideológicas, o caminho da superação do capitalismo.

Assim como a revolução que resultou na criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) inspirou revolucionários no mundo inteiro, sob Lenin e Stalin, também o início do fim da URSS, com o 20º Congresso do seu Partido Comunista, em 1956, sob Nikita Kruschev, trouxe confusão, desânimo e divisão entre os que travavam a luta anticapitalista. Nesse conturbado período, João despontou, ao lado de outros comunistas valorosos, dentre os que insistiram na defesa do marxismo-leninismo e da ação revolucionária. Por sua atividade na reorganização do Partido Comunista do Brasil – que a maioria da direção transformara em Partido Comunista Brasileiro, rasgando seus estatutos e programa –, Amazonas tornou-se o ideólogo da nova fase da entidade, inaugurada em 1962, que assumiu a sigla PCdoB.

Como ele analisou a degenerescência da URSS, no momento em que esta se iniciava, e como reagiu quando, sob o comando de Gorbachev, a primeira experiência de construção do socialismo ruiu? Meu verbo é lutar, a vida e o pensamento de João Amazonas, o livro de Augusto Buonicore, publicado pela Fundação Maurício Grabois e Editora Anita Garibaldi, é valioso, dentre outros motivos, pelas informações que traz a este respeito.

Assim, sabemos que, em outubro de 1956, João participou da comissão que elaborou o texto sobre o relatório de Kruschev contra Stalin, que explana: “Todos nos chocamos com a gravidade dos erros cometidos por Stalin e pelo Comitê Central do PCUS sob direção de Stalin. Grande estranheza, além disso, causou-nos o fato de a denúncia dos erros de Stalin ter chegado ao conhecimento de todos nós, do nosso Partido e do nosso povo, através da imprensa burguesa”. Em 1957, voltou ao tema, reafirmando o papel de Stalin que, mesmo tendo cometido erros, “e alguns erros graves”, “foi um dos mais eminentes marxistas de sua época e o maior revolucionário da Rússia, depois de Lenin. Os povos soviéticos e os explorados de todo o mundo muito devem a Stalin”.

João continuou estudando e analisando a experiência soviética até o fim da vida, pois o ideólogo do PCdoB vai precisando questões, modificando algumas observações, recuando ou avançando em outras, na busca da compreensão do todo. Buonicuore apresenta vários registros da evolução de seu pensamento sobre o tema. No importante capítulo “João Amazonas e a crise do socialismo”, o biógrafo faz acurada análise e generalização do pensamento do dirigente comunista sobre o tema e registra como o PCdoB “vai abandonando o termo ‘social imperialismo’, cunhado pelos chineses e albaneses no final da década de 1960”. Destaca que, mesmo após o fim do socialismo na Europa, a postura de João e do Partido foi de reafirmação do socialismo científico, do marxismo-leninismo, e da luta anticapitalista. Nesse período de crise profunda, muitos relegaram a antiga luta e a confusão na intelectualidade e o movimento social se tornou ainda mais aguda.

É impagável e generosa também – e o livro registra – a contribuição de Amazonas para a elaboração da estratégia e da tática da luta pelo socialismo em nosso país, pontuada pelo combate ao reformismo, pela resistência armada à ditadura implantada em 1964, nas batalhas pela anistia, constituinte, eleição direta e pelas candidaturas de Lula à Presidência da República.

Foi João uma voz firme na defesa da convicção revolucionária, dentre e fora do Partido. Dele, pode-se dizer o que ele mesmo escreveu em 1956: “O marxismo-leninismo não nega, mas, ao contrário, ressalta o importante papel que desempenham na história dos partidos de vanguarda os ideólogos e os grandes homens (…). São as massas que fazem a história, mas não a fazem espontaneamente, desorientadamente. Em suas lutas, as massas precisam de chefes e de dirigentes capazes, que veem mais longe e melhor refletem as existências históricas”. João viu mais longe.

Vale ler o livro de Augusto Buonicore. Vale conhecer a história e as ideias de João Amazonas. Um presente de classe para todos os comunistas que celebramos, neste mês, os 91 anos do Partido e a devolução, pela Câmara e (quiçá) Senado dos mandatos dos parlamentares do Partido Comunista do Brasil que foram arbitrariamente cassados em 1948.
Boa leitura.

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