Sindicalismo classista e feminismo

Os trabalhadores, as trabalhadoras e o movimento sindical brasileiro têm se beneficiado de um contexto de recuperação do emprego formal, de democracia e avanço das forças de esquerda na cena política. No entanto, seu papel protagonista é anterior aos avanços, e foi decisivo para a vitória na eleição de 2002, marco dessa quadra histórica para o Brasil.

Está em nossas mãos fazer o que conquistamos até aqui avançar ainda mais. Por isso é importante reconhecer a luta das mulheres em cada batalha política e econômica do movimento sindical nesse
período.

Se não podemos pensar num país avançado sem que as mulheres tenham direito à igualdade, não podemos pensar no desenvolvimento do Brasil sem levar em conta que a juventude – cerca de dois terços da População Economicamente Ativa – sofre as consequências de mais de 20 anos de concentração de renda, ausência de crescimento econômico e ataques aos direitos do povo, fatos que caracterizaram o Brasil desde a crise do nacional-desenvolvimentismo, seguda do neoliberalismo. Assim, sendo as mulheres a maioria, também na juventude, essa realidade difícil é vivida pelas jovens mulheres.

A retomada do crescimento econômico permitiu-nos divisar avanços que se expressam em vários indicadores atuais, que dão conta de as jovens mulheres terem escolaridade superior à dos homens, terem diante de si um horizonte mais amplo de direitos e perspectivas, serem contemporâneas da Lei Maria da Penha e das conquistas da Revolução Sexual dos anos 60, serem 41,7% da PEA e terem avançado muito quanto à sua independência financeira.

Todavia, os êxitos não podem nos fazer esquecer as inúmeras consequências do machismo e docapitalismo sobre as mulheres. Assim, é preciso dizer que há uma imensa estrada ainda a percorrer, que é ao mesmo tempo a estrada pela qual terá de transitar a nação brasileira no caminho da sua libertação. Por isso mesmo é decisivo ao movimento sindical e ao movimento feminista compreender o papel que podem cumprir as jovens mulheres para a sua atualização e vigência, assim como para maiores avanços na luta emancipacionista.

O movimento sindical é em muitos aspectos hostil ou pouco atrativo às mulheres. Afinal, o nosso formato de assembleias e protestos, os horários das atividades, a abordagem na imprensa sindical, a concentração sexista dos cargos de direção, o pouco apoio dos sindicatos às famílias, o baixo investimento nas atividades políticas com acesso à maternagem, afora o próprio machismo e a baixa presença das mulheres nas direções, são problemas graves que precisam ser encarados com mais ousadia.

Mas também o movimento feminista classista precisa de uma abordagem juvenil, urgentemente. A despeito de brilharem as companheiras em diversas frentes de atuação, chama atenção a ausência de lideranças jovens à frente da luta feminista emancipacionista, emprestando-lhe o talento, a coragem e a ousadia da nova geração que tem ocupado brilhantemente outros espaços.

Qual o futuro do movimento feminista emancipacionista se não se fizer também aí a sucessão geracional que partilhe com as jovens lideranças mulheres as lições de luta construídas no Brasil e no mundo? Como conhecerão as referências do debate que e o rol de heroínas como Clara Zetkin, Alexandra Kollontai, Nadezdha Kupskaya, Rosa Luxemburgo, Vilma Espín, Olga Benario, e também Margarida Alves, Pagu, Elza Monerat e Helenira Rezende – guerrilheiras do Araguaia – e Loreta Valadares, que deram à luta emancipacionista referências para além do sexismo, tornando singular, avançado e potentíssima a corrente emancipacionista brasileira? Um movimento de mulheres tão diferente, generoso e potente que até possibilita que a reflexão e a luta emancipacionista – a exemplo desse artigo – tenha a contribuição das mulheres e dos homens.

Ou seja, numa época em que temos Dilma Presidenta, é mais importante que nunca que às mulheres que exercem direitos tão duramente conquistados se possibilite também conhecer os caminhos que as trouxeram até aquí, para divisar o quão longe podem ir, através da perspectiva socialista. Talvez na resposta a essa incômoda e renitente questão esteja a possibilidade de um movimento feminista de massas, a alimentar todas as esferas do movimento social e do poder. Num momento como o que vivemos, de grande protagonismo político e econômico das mulheres, como não reconhecer uma contribuição necessária e própria das jovens mulheres de quem depende já o projeto emancipacionista?

Por fim, é preciso que a juventude trabalhadora, homens, e sobretudo mulheres, aprendam uma importante lição do passado e que serve para os dias de hoje: devem lutar pelos seus direitos e também por seu protagonismo. Direitos e espaços precisam ser conquistados, elas têm mais do que condições e méritos para brilhar na luta sindical, se decidirem fazê-lo.

* Título original "O sindicalismo classista, o feminismo emancipacionista e as jovens mulheres"

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