Saúde de Cuba
A Organização Mundial de Saúde (OMS) acaba de divulgar novos dados sobre a situação global da saúde pública, país por país, e coloca Cuba no topo do mundo. O tema acabou gerando fartas matérias na mídia e debates nas redes sociais da Internet no mundo inteiro, inclusive no Brasil.
Publicado 26/02/2013 14:44
Nos Estados Unidos, as redes de TV dedicaram bons espaços ao assunto. Em alguns casos, na tentativa de desacreditar os dados da entidade maior da área em plano global. Não é de se estranhar. Há até quem afirme que os dados não são confiáveis, pois seriam oficiais do governo cubano, e este poderia estar manipulando.
É falta de conhecimento ou pura má-fé. Os organismos da ONU têm seus mecanismos para aferir a acuidade dos dados que utilizam. Eu trabalhei alguns anos no Unicef e sei como funciona. Pode até haver casos de divulgação de dados imprecisos sobre algum país, mas por certo não seria o caso de Cuba.
O fato é que algumas das mais respeitadas publicações científicas do planeta também dedicaram espaços ao tema e, aí sim, com a isenção que o assunto merece. De um modo geral, a conclusão é de que o sistema de saúde da Ilha é de fato muito bom e os resultados surgem ao longo dos anos. Não são casos isolados, é progresso social.
O britânico “New England Journal of Medicine”, por exemplo, em edição de janeiro último, ressalta o fato de que Cuba “apesar de ter recursos econômicos limitados, conseguiu resolver problemas que nós até hoje não conseguimos alcançar”.
O texto deixa claro que o autor foi a Cuba para conferir as avaliações da OMS e, caso a intenção fosse de rebatê-las, o tiro saiu pela culatra. É certo que o artigo aponta deficiências do sistema, em especial quanto a equipamentos de última geração e a atualização dos profissionais diante dos avanços da Medicina mundo afora.
Ressalta, contudo, que a questão dos equipamentos é compensada, com sobra, pela capacitação dos profissionais de saúde. Cita dados de 2008, quando havia 37.000 desses profissionais cubanos, especialmente médicos, trabalhando em 70 países.
A maioria desses profissionais estava em ações de solidariedade no Haiti, na África, Oriente Médio, planeta afora enfim. Mas é ressaltado o fato de que boa parte deles atuava em países do primeiro mundo, o que acaba sendo uma fonte de renda para o país.
O segredo cubano está do atendimento preventivo, feito nas casas das pessoas, o que implica ações no campo da higiene e qualidade da água, envolvendo toda a família. Cada médico generalista tem mil pessoas sob o seu cuidado.
Todos esses pacientes são visitados em casa no mínimo uma vez por ano. O atendimento por especialistas e eventual internação entram sempre que necessário, mas nunca como primeiro recurso.
Uma aparente deficiência na atualização científica e tecnológica dos profissionais do setor – reveladas, por exemplo, pela dificuldade de acesso à internet – é compensada por uma enorme variedade de publicações científicas produzidas por universidades e instituições cubanas ligadas à saúde.
É de grande valia, também, outro avanço da sociedade cubana nas últimas décadas, que é a Educação. A taxa de analfabetismo no país não chega a mísero1%, segundo o artigo, e nas escolas os cuidados com a saúde são partes fundamentais dos currículos.
O índice de mortalidade infantil, que na década de 50 era de 80 crianças por cada 1000 nascidas vivas, hoje é de 5 por 1000, o que, destaca o autor, é superior à dos EUA. Também é desse nível a expectativa de vida de 78 anos, uma das mais altas do mundo.
“Sem dúvida alguma, esses resultados são decorrentes da educação e do padrão de nutrição da sociedade cubana”, diz ainda o artigo. E aponta, é claro, esse desempenho como fator primordial para a qualidade de vida da população.
E entra na roda, então, o aspecto da indústria farmacêutica, talvez a maior surpresa para o jornal britânico. As indústrias cubanas são top de linha e toda a produção é desenvolvida com tecnologia própria. Produz medicamentos para tudo o que se imaginar.
Os profissionais de biotecnologia são formados em Cuba mesmo, mas muitos são enviados para especializações nas melhores universidades do mundo, estejam onde estiverem. O resultado é que todo remédio é gratuito no sistema local e, além disso, essa produção tem hoje forte peso na pauta de exportações do país.
Outras publicações e participantes de grupos de profissionais de saúde em redes internéticas buscam fazer comparações. Mas, no fim das contas, todos acabam concordando em que é difícil comparar. Mesmo com países tidos como referências em saúde, como Canadá, Suécia ou Grã-Bretanha.
Salta aos olhos, assim, que a saúde, em Cuba, não é apenas das pessoas cubanas. É a saúde do país.