Saúde de Cuba

A Organização Mundial de Saúde (OMS) acaba de divulgar novos dados sobre a situação global da saúde pública, país por país, e coloca Cuba no topo do mundo. O tema acabou gerando fartas matérias na mídia e debates nas redes sociais da Internet no mundo inteiro, inclusive no Brasil.

Nos Estados Unidos, as redes de TV dedicaram bons espaços ao assunto. Em alguns casos, na tentativa de desacreditar os dados da entidade maior da área em plano global. Não é de se estranhar. Há até quem afirme que os dados não são confiáveis, pois seriam oficiais do governo cubano, e este poderia estar manipulando.

É falta de conhecimento ou pura má-fé. Os organismos da ONU têm seus mecanismos para aferir a acuidade dos dados que utilizam. Eu trabalhei alguns anos no Unicef e sei como funciona. Pode até haver casos de divulgação de dados imprecisos sobre algum país, mas por certo não seria o caso de Cuba.

O fato é que algumas das mais respeitadas publicações científicas do planeta também dedicaram espaços ao tema e, aí sim, com a isenção que o assunto merece. De um modo geral, a conclusão é de que o sistema de saúde da Ilha é de fato muito bom e os resultados surgem ao longo dos anos. Não são casos isolados, é progresso social.

O britânico “New England Journal of Medicine”, por exemplo, em edição de janeiro último, ressalta o fato de que Cuba “apesar de ter recursos econômicos limitados, conseguiu resolver problemas que nós até hoje não conseguimos alcançar”.

O texto deixa claro que o autor foi a Cuba para conferir as avaliações da OMS e, caso a intenção fosse de rebatê-las, o tiro saiu pela culatra. É certo que o artigo aponta deficiências do sistema, em especial quanto a equipamentos de última geração e a atualização dos profissionais diante dos avanços da Medicina mundo afora.

Ressalta, contudo, que a questão dos equipamentos é compensada, com sobra, pela capacitação dos profissionais de saúde. Cita dados de 2008, quando havia 37.000 desses profissionais cubanos, especialmente médicos, trabalhando em 70 países.
A maioria desses profissionais estava em ações de solidariedade no Haiti, na África, Oriente Médio, planeta afora enfim. Mas é ressaltado o fato de que boa parte deles atuava em países do primeiro mundo, o que acaba sendo uma fonte de renda para o país.

O segredo cubano está do atendimento preventivo, feito nas casas das pessoas, o que implica ações no campo da higiene e qualidade da água, envolvendo toda a família. Cada médico generalista tem mil pessoas sob o seu cuidado.

Todos esses pacientes são visitados em casa no mínimo uma vez por ano. O atendimento por especialistas e eventual internação entram sempre que necessário, mas nunca como primeiro recurso.

Uma aparente deficiência na atualização científica e tecnológica dos profissionais do setor – reveladas, por exemplo, pela dificuldade de acesso à internet – é compensada por uma enorme variedade de publicações científicas produzidas por universidades e instituições cubanas ligadas à saúde.

É de grande valia, também, outro avanço da sociedade cubana nas últimas décadas, que é a Educação. A taxa de analfabetismo no país não chega a mísero1%, segundo o artigo, e nas escolas os cuidados com a saúde são partes fundamentais dos currículos.

O índice de mortalidade infantil, que na década de 50 era de 80 crianças por cada 1000 nascidas vivas, hoje é de 5 por 1000, o que, destaca o autor, é superior à dos EUA. Também é desse nível a expectativa de vida de 78 anos, uma das mais altas do mundo.

“Sem dúvida alguma, esses resultados são decorrentes da educação e do padrão de nutrição da sociedade cubana”, diz ainda o artigo. E aponta, é claro, esse desempenho como fator primordial para a qualidade de vida da população.

E entra na roda, então, o aspecto da indústria farmacêutica, talvez a maior surpresa para o jornal britânico. As indústrias cubanas são top de linha e toda a produção é desenvolvida com tecnologia própria. Produz medicamentos para tudo o que se imaginar.

Os profissionais de biotecnologia são formados em Cuba mesmo, mas muitos são enviados para especializações nas melhores universidades do mundo, estejam onde estiverem. O resultado é que todo remédio é gratuito no sistema local e, além disso, essa produção tem hoje forte peso na pauta de exportações do país.

Outras publicações e participantes de grupos de profissionais de saúde em redes internéticas buscam fazer comparações. Mas, no fim das contas, todos acabam concordando em que é difícil comparar. Mesmo com países tidos como referências em saúde, como Canadá, Suécia ou Grã-Bretanha.

Salta aos olhos, assim, que a saúde, em Cuba, não é apenas das pessoas cubanas. É a saúde do país.

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