O aumento da gasolina e os limites do capitalismo

Na noite de 29 de janeiro, a Petrobras anunciou reajuste de 6,6% para a gasolina tipo A e de 5,4%, na média, para o diesel. De imediato, o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) informou que repassaria o reajuste para os consumidores. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, calculou o impacto do aumento nas bombas: “O aumento foi de 6,6%, mas os postos vão passar 4,4% porque tem a mistura (do etanol à gasolina)”.

                                Onde está Karl Marx quando mais precisamos dele?

Não foi o que aconteceu. O reajuste, em muitos postos, foi além dos 6%. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o governo vai fiscalizar o repasse: “O governo concedeu aumento de 6,6% e vai fiscalizar rigorosamente. Não pode chegar a esse patamar. Se chegou, é irregular”. Mas não é irregular, é capitalismo. Como informou a Fecombustíveis (entidade nacional dos postos), o percentual do repasse depende de fatores como concorrência, demanda e variações de margens de lucro de postos e distribuidoras. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, foi esclarecedor: “Muitos postos aproveitam para repor a margem de lucro, já que o preço é livre. Por isso, o aumento médio deve ficar acima do valor estimado pelo governo”.

O aumento nos combustíveis é impactante em toda a economia. A gasolina tem peso de 4% no orçamento das famílias e a majoração pode levar a uma alta de 0,2 pontos percentuais no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Influenciará também os fretes das transportadoras, o preço das passagens de ônibus urbanos e interurbanos e do transporte dos alimentos. Produtos de perfumaria, limpeza e sacos plásticos, que usam derivados de petróleo, também poderão ter seus preços elevados.

Os economistas e analistas burgueses mostram a inconsistência de suas análises em situações como essa. Antes, criticavam a Petrobras por não aumentar o preço dos combustíveis, o que causava prejuízo à empresa e seus acionistas. Feito o reajuste, criticam sua repercussão no índice de inflação. Calam-se, porém, sobre a defesa que sempre fazem da liberdade de mercado – desejo imperioso dos capitalistas para aumentar seus lucros, assaltando os bolsos dos consumidores e trabalhadores. Mas os fatos gritam que o capitalismo não é “regulável” ou “domesticável” ou “planejável”. É só ver, neste exato momento, as disparidades de preços também dos materiais escolares, tão necessários no início do ano letivo.

Essa é a lógica do livre mercado. Por isso, embora sejam inegáveis os avanços conquistados pelos trabalhadores durante os governos Lula e Dilma, com a adoção de uma política de desenvolvimento econômico com inclusão social, eles esbarram nos limites do capitalismo, uma sociedade dividida entre possuidores dos meios de produção e trabalhadores, entre exploradores e explorados.

A livre competição torna compulsórias as leis imanentes da produção capitalista, que independem da boa vontade ou do desejo de governantes e governados. O capital não tem a menor consideração com a qualidade de vida do trabalhador. Aliás, nO Capital, Karl Marx coloca um trabalhador falando ao capitalista: “Podes ser um cidadão exemplar, talvez membro da sociedade protetora dos animais, podes estar em odor de santidade, mas o que representas diante de mim é algo que não possui entranhas”. (pg 272)

Daí ser do interesse dos trabalhadores o domínio da ciência que mostra as limitações e historicidade do capitalismo e a possibilidade objetiva de ele ser substituído por uma nova sociedade, socialista, que leve ao fim do sistema baseado na exploração de quem trabalha. Marx alertou, também nO Capital: “Ao progredir a produção capitalista, desenvolve-se uma classe trabalhadora que, por educação, tradição e costume, aceita as exigências daquele modo de produção como leis naturais evidentes”. (pg 851).

O marxismo é a ciência que desvenda o modo de produção capitalista e aponta os caminhos para superá-lo. Os comunistas se colocam o desafio de apontar para o conjunto da sociedade as mazelas do capitalismo, conscientizando os trabalhadores, em especial, de seu papel revolucionário na luta por um novo regime social.

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