Celso Furtado, Lula e o governo de coalizão

Em A Fantasia Desfeita (Paz e Terra, 3ª edição, 1999), Celso Furtado registra sua frustração face a indiferença com que as principais lideranças políticas alinhadas com Jango, em 1962, receberam um Programa Mínimo, por ele redigido, a pedido do presidente

Agora, quarenta e quatro anos depois, um texto semelhante ao apresentado por Celso Furtado – a Agenda Mínima para um Governo de Coalizão – serve de base às negociações do presidente Lula com os partidos que se dispõem a apoiá-lo no segundo mandato.


 



Nada mais saudável, num país em que não raro a composição de equipes de governo se faz despida de maiores considerações programáticas. No entanto, a oposição conservadora e parte substancial da mídia, procuram desqualificar a iniciativa do presidente. A Folha de S.Paulo, por exemplo, em editorial publicado domingo último, critica em tom sarcástico o entendimento celebrado com o PMDB: “Poucas vezes a fisiologia e a circunstância se cobriram de tamanha pompa e teatralidade como na cerimônia que formalizou o apoio do PMDB ao governo Lula, realizada em Brasília na quinta-feira passada. Algumas frases pronunciadas nesse encontro mereceriam constar de uma antologia, ainda a ser feita, do talento brasileiro para o circunlóquio bacharelesco e para os artifícios da cosmética política.”


 


Que frases são essas que o influente jornal paulista avalia assim de modo tão depreciativo? São sete frases, que sintetizam provavelmente o conjunto das principais aspirações do povo e de amplos segmentos da sociedade brasileira, na atualidade: reforma política; redução gradual da carga de impostos e estímulos à iniciativa para investimentos; política econômica, monetária e fiscal comprometida com um crescimento mínimo de 5% nos próximos quatro anos; despesas correntes inferiores ao crescimento do PIB; consolidação das políticas de transferência de renda em andamento e integração dessas políticas com ações de natureza educacional, técnica e superior para abrir oportunidades de emprego ou de atividades; fortalecimento da federação, reexaminando as dificuldades fiscais de cada estado, enfrentando a questão da segurança pública com a colaboração dos três níveis de governo; conselho político composto pelos partidos de coalizão para acompanhar as ações de governo.


 


Uma agenda pró-desenvolvimento que, independentemente da inclinação político-ideológica de cada um, merece ser aplaudida, assim como incentivada dever ser a prática dos partidos e do presidente de a tomarem como referência na montagem do novo ministério. Depois, é acompanhar, cobrar e avaliar resultados.

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