Administração que não deixará saudades

Ninguém é tão bom que não tenha um defeito e nem tão ruim que não tenha uma virtude. Assim como as pessoas, são as administrações. Por pior que seja, nenhuma administração é 100% mal; até no desgoverno do Coisa Ruim (FHC), se procurar sem preconceito, se encontra coisas positivas.

Na próxima segunda-feira 31 chega ao fim os oito anos de administração da prefeita Luizianne Lins (PT). Ela buscou priorizar o social como nenhum outro antecessor, acabou com as filas para matricula nas escolas da rede municipal de ensino, tornou gratuita a carteira de estudante para alunos da rede pública e forneceu gratuitamente farda, tênis, material escolar e mochila, e deu qualidade à merenda escolar evitando escândalo neste setor.

Luizianne proporcionou substancial avanço na área cultural com destaque para o Mercado dos Piões, o pré-carnaval e à festa de passagem de ano, tornando o Réveillon de Fortaleza o segundo maior e melhor do País – o do ano passado contou com 1,5 milhão de pessoas. Também merece destaque a Defesa Civil que hoje é referência, não se registrando nenhum óbito nas áreas de risco nos últimos oito anos.

Contudo todos esses avanços foram suplantados sobretudo pela falta de planejamento e principalmente pelas deletérias práticas de direita que nem no tempo dos Coronéis eram verificadas. Muito recurso federal foi devolvido por absoluta falta de projetos, com destaque para as 80 creches que o governo da presidenta Dilma Rousseff destinou a Fortaleza e ela devolveu alegando não ter terreno para a construção. Isto sem falar nas inúmeras obras inacabadas e muitas que foram prometidas e não foram sequer iniciadas.

Nenhuma administração municipal foi tão hermeticamente fachada quanto a atual, sendo que até mesmo vereadores e até secretários municipais tinham dificuldades de acesso ao gabinete da Prefeita. O propalado Conselho Político, formado por lideranças e dirigentes dos partidos da base aliada, nunca se reuniu. A reeleição em 2008 com uma diferença de 0,16% se deu por exclusiva falta de opção, já que Patrícia Saboya (PDT), embora fosse uma boa candidata, estava muito ligada ao ex-governador Tasso Jereissati que é muito estigmatizado em Fortaleza, e Moroni Torgan representava a direita mais conservadora.

A vergonhosa prática direitista de indicação política para a direção de postos de saúde, hospitais e escolas do Município, por si só já anula todo avanço conquistado. Como prática deletéria também merece destaque a troca de apoio na Câmara Municipal por centenas de terceirizados para cada vereador da base de apoio. Nos corredores da Câmara fala-se que tem vereador com até mil terceirizados. Isto sim é um verdadeiro mensalão já que a mesada era mensal. A estimativa é que o número de terceirizados ultrapasse os 30 mil, embora representantes governistas da Comissão de Transição falem em pouco mais de 12 mil.

A ausência da Prefeita nos mais importantes acontecimentos em nossa Capital foi uma marca da sua administração, chegando a Prefeita ser chamada de Lombardi, numa alusão a um personagem do programa televisivo Sílvio Santos que todos sabiam existir mas ninguém via. Durante esses oito anos foram realizados em Fortaleza dois congressos de jornalistas e dois encontros nacionais de blogueiros progressistas, mas ela não compareceu a nenhum, não mandou representante e sequer mandou uma mensagem aos congressistas seus colegas jornalistas.

Também enlameou a sua administração o retorno da censura a programa de rádio, uma nódoa que ela e seu coordenador de Comunicação, Demétrio Andrade, levarão consigo para o resto da vida e terão de explicar aos seus alunos – ambos são professores de jornalismo – o saudosismo da ditadura militar. A Constituição Cidadã de 1988 erradicou a censura, mas Luizianne e Demétrio não tomaram conhecimento.

Para coroar o fracasso da administração, a pequenez da não aceitação da derrota eleitoral do seu candidato Elmano de Freitas, se vingando do povo de Fortaleza e do candidato eleito Roberto Cláudio (PSB,) anunciando a menos de um mês do fim do ano a não realização do já tradicional Réveillon e tentar inviabilizar o pré-carnaval de 2013.

Porém a tentativa de desmonte administrativo foi o fato que mais chamou a atenção, tendo inclusive o Ministério Público agido de ofício para impedir mais de 60 licitações após as eleições de outubro, portanto a menos de dois meses para o fim da administração. Uma pergunta precisa ser respondida sem subterfúgio: quem está por trás das empresas que fornecem mão de obra terceirizada para a Prefeitura? Se o futuro prefeito Roberto Cláudio decidir abrir a caixa-preta, Luizianne Lins ficará em maus lençóis.

Esta administração não deixará saudades. No geral foi um desastre!

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