A direita nas cordas

Durante 500 anos a direita governou e a esquerda fez oposição, o que fez com que o senso comum passasse a estabelecer, quase como sinônimo, que “governo é direita” e “oposição é esquerda”, numa evidência de que às vezes a forma acaba determinando o conteúdo.

Mas o fato é que direita não é governo e tampouco oposição é esquerda. Direita e Esquerda são posicionamentos ideológicos, estão relacionados a doutrina, programa e plataforma política, enquanto governo ou oposição são posicionamentos políticos e se refere exclusivamente a quem ganhou o poder político e, portanto, tem o direito de governar e os que eventualmente perderam as eleições que, a rigor, devem fazer oposição.

A direita não tem escrúpulos. Usa todos os métodos e recorre a qualquer expediente para obter e se manter no poder. O seu braço político, tanto no executivo quanto no legislativo, a quem geralmente se atribui um grande papel, são apenas a parte mais visível, mas de poder real geralmente limitado. O real poder da direita está no seu enorme poderio econômico, nos seus meios de comunicação, na difamação dos adversários e seus instrumentos de repressão.

No auge da guerra fria, a direita usou a CIA e outros instrumentos para disseminar mundo a fora a versão de que os “comunistas comiam criancinhas, matavam idosos” e outras barbaridades. Aliciava mercenários para sabotarem a economia de países que não se perfilavam acriticamente ao modelo americano e, sem qualquer cerimônia, articularam e patrocinaram a deposição de dezenas de governos legitimamente eleitos e que “ousaram” adotar uma postura política progressista, como ocorreu no Brasil e dezenas de países da América Latina e da África.

Hoje a direita precisa recorrer a outros métodos, especialmente desde que pela primeira vez, no caso do Brasil, perdeu as eleições em 2002.

Inicialmente acreditava que um operário metalúrgico, sem formação acadêmica e sem riqueza material, ou seja, alguém que não era dos seus, jamais poderia fazer um bom governo. Quando o presidente Lula não apenas começou a se revelar um grande gestor, mas especialmente adotando políticas populares que viriam a notabiliza-lo como um dos maiores presidentes desse país a direita não se fez de rogada: desencadeou contra ele, pelos meios de comunicação, uma das mais violentas campanhas contra um mandatário, cujo ápice foi o chamado “mensalão”.

A direita não lembrava e, mais provável, acreditava que os seus pares, donos dos grandes meios de comunicação, não permitiriam que viesse a tona que o “mensalão” foi uma invenção do PSDB mineiro do governador Eduardo Azeredo, posteriormente presidente e senador pela sigla.

Desmascarada no episódio do mensalão, ela finge que o problema não é com ela. Mas como a corrupção é uma prática recorrente da direita – que alguns do campo da esquerda se encantam – logo em seguida estourou os escândalos de corrupção do Distrito Federal, conhecidos como “mensalão do DEM”, comandados pelo governador José Roberto Arruda. Os cânticos entoados por mensaleiros – na macabra cerimônia de agradecimento pela propina recebida – ainda ecoavam pela esplanada quando o escândalo de Goiás, que envolve diretamente o governador Marconi Perilo (PSDB) e o contraventor Carlinhos Cachoeira.

Mas, pasmem o noticiário do final de semana nas ditas grandes revistas não menciona sequer um desses inúmeros personagens, não apenas envolvidos, mas patrocinadores de grandes esquemas de corrupção. A direita repete a sua velha tática: procura desmoralizar os adversários e blindar os seus. Mas o fato é que ela se tem a proteção dos seus esquemas, está cada vez mais isolada no seio do povo. Objetivamente ela está nas cordas, como se diz na luta de Box.

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