Comissão da Verdade e a verdade do golpe militar

A Comissão Nacional da Verdade começa a funcionar oficialmente na próxima segunda-feira 28. Dois anos para buscar toda verdade sobre a violação dos direitos humanos de 1946 a 1988 é muito pouco, contudo havendo determinação dos sete membros da Comissão é possível que a Nação venha a conhecer a barbárie que foi a ditadura militar (1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985), um dos períodos mais nebulosos da nossa história, uma das quatro grandes tragédias vividas pelos brasileiros.

Os crimes mais hediondos foram cometidos por agentes do Estado – militares e civis – e mais de 160 copos ainda não foram encontrados e certamente a maioria deles não será. Pelo menos dez foram incinerados numa usina de açúcar no Rio de Janeiro. Todos foram barbaramente torturados e as famílias e amigos têm o direito de saber quem os torturou e matou, quando, onde, em que circunstância e quem ordenou essa barbárie.

Porém tão importante quanto descobrir toda a verdade sobre os crimes cometidos no período pelos agentes da ditadura militar é esclarecer a verdade sobre a história do golpe militar. Isto não demanda muito esforço nem tempo. Basta pesquisar o que já se escreveu sobre o tema e principalmente consultar os arquivos dos Pentágono e da CIA, já há algum tempo disponível.

É imperioso desmascarar os militares golpistas, pois ainda há um expressivo número de brasileiros que não sabe que o golpe militar deveria ter sido dado em 1954, não acontecendo porque o presidente Getúlio Vargas o impediu dando um tiro do peito; e que a perseguição a João Goulart data da década de 1950 quando este era ministro do Trabalho de Getúlio e decretou aumento do salário mínimo de 100%; e depois em 1961 quando da renúncia do presidente Jânio Quadros.

A Comissão Nacional da Verdade tem de esclarecer que os militares golpistas rasgaram a Constituição Federal de 1946 e subverteram toda a ordem institucional para satisfazer os interesses das oligarquias brasileiras e do imperialismo norte-americano. Todos os brasileiros precisam saber que o comando real do golpe militar coube a um general ianque – Vernon Walthers -, amigo íntimo do marechal Castelo Branco, e que toda a articulação juntos aos civis e à velha mídia conservadora, venal e golpista esteve a cargo do então embaixador dos Estados Unidos no Brasil Lincoln Gordon, fato admitido publicamente por ele anos mais tarde.

A Comissão precisa esclarecer também que milhares de militares brasileiros não concordavam com o golpe de Estado, sendo que mais de 2.500 foram prosseguidos, com punição que foi da expulsão da respectiva Arma (Exército, Marinha e Aeronáutica) à prisão, tortura e morte; e que o general Vernon Walthers providenciou o deslocamento da IV Frota dos Estados Unidos para a costa brasileira para intervir em caso de reação civil e militar contra o golpe.

A Comissão Nacional da Verdade tem de mostrar aos brasileiros que os militares golpistas são traidores da Pátria e agiram sempre contra o povo e os trabalhadores que eles consideravam inimigos.

É preciso esclarecer também que um grande número de empresários nacionais e estrangeiros financiou a repressão para prender, torturar e matar os verdadeiros democratas que lutavam contra o terrorismo de Estado. Esses empresários têm nome e todos têm o inalienável e sagrado direito de saber quem são. Muitos ainda estão vivos. O jornal Folha de S.Paulo fornecia seus carros (peruas) para transportar presos políticos para a tortura.

Toda a documentação sobre a ingerência ianque no golpe militar no Brasil está à disposição de todos. É só buscar.

Mostrar a verdadeira história do golpe militar de 1º de abril de 1964 deve ser o primeiro passo da Comissão Nacional da Verdade.

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