Por uma agricultura do tamanho do Brasil

A agricultura brasileira dispensa maiores apresentações. Produz hoje mais de 160 milhões de toneladas de grãos para alimentação humana, seja de forma direta ou indireta (na formulação de rações destinada à produção de carne, leite, ovos, etc). Contribui, desta maneira, para garantir um nível de segurança alimentar próximo a uma tonelada por habitante ao ano, recomendado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Para termos noção do “espetáculo do crescimento” da agricultura moderna na atualidade, menos de cinco décadas atrás o país produzia apenas 20 milhões de toneladas para uma população de 80 milhões de habitantes. Isto equivalia a uma proporção de apenas 250 kg de grãos por habitante por ano, ou seja, um quarto da relação de hoje (1000 kg/habitante/ano). Outro dado importante é que, embora a produção total tenha crescido sete vezes, a área de plantio cresceu apenas duas vezes e meio, ou seja, em 1965 se utilizava uma área de 21 milhões de hectares e hoje temos uma área cultivada estimada em aproximadamente 50 milhões de hectares.

Não atingimos esses índices fantásticos utilizando técnicas rudimentares de controle de pragas e doenças das plantas. Caldas de fumo com pimenta ou de cebola, leite cru com água e outros métodos alternativos podem funcionar bem numa horta doméstica, mas dificilmente serão eficazes na grande plantação moderna.

Não significa, com isso, que o grande empreendimento agrícola moderno, exaustivamente defendido por Kautsky e Lênin, deva ser alicerçado no uso de agroquímicos, vulgarmente chamados de agrotóxicos. Mas o controle químico é uma das alternativas importantes dentro do Manejo Integrado de Pragas e Doenças e, portanto, não pode ser descartado. Esse manejo integrado utiliza várias táticas e estratégias para se minimizar o uso de insumos químicos, o que não significa sua eliminação.

Faz parte do Manejo Integrado de Pragas (MIP) métodos diversos, como o legislativo, para se evitar a introdução de uma praga ou doença exótica à região; o uso de variedades resistentes; métodos mecânicos, mais voltados às pequenas produções, como a prática da catação manual de pragas; métodos culturais tais como a rotação de culturas, podas, destruição de restos culturais e plantio direto; método de controle comportamental, relacionado ao uso de hormônios de insetos (feromônios); métodos de controle físico com o emprego de drenagem ou inundação, alteração de temperaturas em cultivos protegidos; o uso do controle biológico de pragas através dos inimigos naturais (predadores, parasitóides e entomopatógenos) e, por fim, e não menos importante, o controle químico.

Uma agricultura tão dinâmica e grandiosa como a nossa não pode prescindir deste ou daquele método de controle. Mas pode e deve melhorar cada um deles. Sobretudo o uso do método químico pelos produtores rurais deve ser mais bem regulamentado, fiscalizado, assessorado e monitorado. O seu uso racional é condição imprescindível para a agricultura moderna, assim como as sementes melhoradas, o uso de fertilizantes químicos, etc.

A discussão sobre o modelo agrícola brasileiro merece ser levada a sério, com o risco de se cair no descrédito com o produtor rural, com propostas absurdas de se continuar produzindo mil toneladas de grãos por brasileiro ao ano combatendo pragas agrícolas na base de extrato natural de cravo de defunto. Aí só vai faltar a extrema unção para enterrar, literalmente, a agricultura brasileira.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor