O peso da realidade

Quando se analisa a realidade e se posiciona sobre ela duas posturas básicas são recorrentes: ou se analisa com maior ou menor precisão e se formula, a partir dos interesses, a linha de ação ou se despreza a realidade e se mascara a análise produzindo discursos meramente ideológicos que se transformam em caricaturas.

Na luta das ideias, por mais confusas que elas sejam, temos que valorizar o quanto da realidade penetrou nelas. Às vezes, um grão de realidade na engrenagem das ideias em lugar de emperrar o mecanismo, o coloca em movimento na direção certa.

O professor Armando Boito, da Unicamp, em longa entrevista ao jornal Brasil de Fato (de 09/04) explica que a economia capitalista está em crise e que as contradições tendem a se aguçar. Defende a participação em uma “frente neodesenvolvimentista”, embora este modelo colabore para tal aguçamento devido à sua heterogeneidade.

Perguntado se as direções das organizações populares (direções sindicais, sublinho eu) teriam sido cooptadas pelo Governo “como sugerem alguns observadores” responde enfaticamente e eu copio:

“Não, eu não aceito essa análise. Os trabalhadores tendem a apoiar a frente neodesenvolvimentista devido a melhorias reais que obtiveram no emprego, no salário, nas políticas de assistência social e, no caso dos pequenos proprietários rurais, no crédito agrícola. Tivemos uma recuperação do salário mínimo, embora esse ainda permaneça num patamar baixo quando comparado até com o dos principais países da América Latina.

Tivemos também uma grande melhoria nas convenções e acordos coletivos de trabalho: ao contrário do que ocorria no início da década de 2000 quando cerca de 80% das negociações salariais resultaram em reajustes inferiores à inflação, nos últimos anos a situação se inverteu – mais de 80% das convenções e acordos estabelecem reajustes acima da taxa de inflação. As condições para a organização e para a luta sindical melhoraram muito. Temos tido aumento real de salários.”

É o que a análise realista demonstra.

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