A verdade sobre o golpe de 1º de abril de 1964

Os democratas brasileiros estão empenhados na elucidação dos crimes cometidos pelos agentes do Estado – civis e militares – durante a ditadura militar (1º de abril de 1964/15 de março de 1985). Todos querem ver logo constituída a Comissão Nacional da Verdade, cuja lei foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no dia 18 de novembro de 2011, em solenidade das mais concorridas no Palácio do Planalto, com a presença de ex-presos políticos e familiares de ex-presos e desaparecidos políticos.

A Comissão Nacional da Verdade vai procurar elucidar os crimes de sequestro, tortura, assassinato, ocultação de cadáveres, quem os praticou e quem ordenou. Organismos internacionais estão colocando o Brasil no banco dos réus porque ainda hoje não apurou e puniu esses covardes criminosos. Uma vergonha nacional, quando os países onde foram implantadas ditaduras militares no mesmo período já pediram perdão ao povo e puniram os torturadores e assassinos fadados.

Porém tão importante quanto esclarecer os crimes da ditadura é contar a verdadeira história do golpe militar. É preciso que se diga que o golpe não é um ato, mas um processo, e esse processo começou a ser gestado dez anos antes, ou seja, em 1954, quando tentaram derrubar o presidente Getúlio Vargas, acusando-o de corrupção e outras baboseiras mais. Porém Getúlio abortou o golpe dando um tiro no peito, causando uma grande comoção nacional, levando centenas de milhares de pessoas às ruas, que amedrontou os golpistas e os fez recuar temporariamente.

Em 1962 e 1963, o IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática – investiu milhões de dólares financiando programas de rádio em todo o Brasil para falar mal do governo do presidente João Goulart; investiu outros milhões de dólares para eleger uma grande bancada de direita nas casas legislativas, alinhada incondicionalmente ao imperialismo norte-americano.

O embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, mantinha estreita ligação com os setores mais reacionários, como a famigerada TFP – Tradição, Família e Propriedade -e os setores mais conservadores da igreja católica, e recentemente reconheceu que essa dinheirama toda era oriunda do Pentágono. Foram cinco milhões de dólares somente para financiar o golpe em 1964, conforme declarou.

O temor do então presidente norte-americano, John Kennedy, era que o Brasil, pela sua condição estratégica, desse uma guinada à esquerda. Ele temia principalmente a ascensão dos movimentos populares porque estes apoiavam as reformas de base propostas pelo presidente Jango, como as reformas urbana e agrária, da educação, o voto do analfabeto, a nacionalização das refinarias de petróleo e a limitação em 10% da remessa de lucro das empresas estrangeiras.

É inadmissível que ainda hoje nos colégios e academias militares se ensinem que houve uma “revolução democrática” em 31 de março para “salvar o Brasil” do comunismo. Tudo isso é mentira, pois o golpe foi em 1º de abril e não teve nada de democrático, mas sim uma quartelada antidemocrática e antinacional orientada e financiada pelos Estados Unidos.

As viúvas da ditadura mentem desbragadamente quando afirmam que as Forças Armadas atenderam ao apelo do povo brasileiro. Mais de dois terços dos brasileiros apoiavam o governo de João Goulart, e apenas uma minoria reacionária e elitista, formada por grandes empresários e latifundiários, levada por uma massiva campanha da velha mídia conservadora, venal e golpista, financiada pelo imperialismo norte-americano, foi às ruas contra o presidente João Goulart, eleito democraticamente com extraordinária votação.

O ranço das oligarquias e de setores reacionários da Forças Armadas contra João Goulart remonta o início dos anos 1950 quando, ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, em 1952 decretou aumento do salário mínimo de 100%. Insatisfeitos, setores do patronato bateram às portas dos quartéis e os coronéis fizeram grande pressão até que Getúlio exonerou Jango do Ministério, mas mesmo assim manteve o aumento do salário mínimo.

Quando da renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, o vice João Goulart se encontrava em visita oficial à República Popular da China. Tão logo soube da renúncia de Jânio, Jango retornou imediatamente ao Brasil, porém os militares golpistas tentaram impedir o seu desembarque em território brasileiro e, consequentemente, a sua posse.

Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola comandou uma resistência através da Cadeia da Legalidade – rede de emissoras de todo o País. Em Fortaleza, a retransmissão era feita pela Rádio Dragão do Mar do empresário e deputado federal nacionalista Moisés Pimentel. Uma manobra parlamentarista garantiu a posse de Jango. Contudo os golpistas continuaram tramando contra o governo democrático e popular até o golpe de Estado de 1º de abril de 1964. Há poucos dias do golpe uma frota naval norte-americana foi deslocada para a costa brasileira para entrar em ação se houvesse resistência dos setores militares fiéis ao governo.

Ao assumir a presidência da República, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, em seu discurso de posse jurou completar o restante do mandato de Jango e convocar eleição presidencial em 1965 e empossar o eleito em janeiro de 1966. Mais uma mentira, pois Castelo foi substituído pelo general Artur da Costa e Silva que, em 13 de dezembro de 1968 instalou o terrorismo de Estado com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5).

Costa e Silva foi “adoecido” e em seu lugar assumiu uma junta das três Forças – Exército, Marinha e Aeronáutica – tendo à frente o general de Exército Emílio Garrastazu Médici, o mais sanguinário de todos eles. Este foi seguido pelo general Ernesto Geisel e por fim o general João Baptista Figueiredo cumpriu o último mandato militar, sendo substituído por um presidente civil, no caso José Sarney que era vice mas assumiu com a morte do presidente eleito no Colégio Eleitoral, Tancredo Neves. Figueiredo deixou o Palácio do Planalto pelos fundos, não passando a faixa presidencial a Sarney.

A ditadura castrou toda uma geração , dando lugar ao terrorismo de Estado com a supressão das liberdades democráticas, cassação de mandatos populares, os sequestros, a tortura e morte de milhares de democratas. Ainda hoje mais de 150 famílias esperam pelo direito de dar uma sepultura digna aos seus ente queridos brutalmente assassinados e cujos corpos foram ocultados. Uma verdadeira tragédia nacional.

Esta é apenas uma parte da verdadeira história e que deve ser ensinada em todas as instituições educacionais do País, notadamente nos colégios e academias militares.

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